Lendas
Escoteiras.
Danny Boy.
- Lembra-se de Danny Boy? - Lembro-me
sim. - Teve notícias dele? – Manolo sorriu. Não era mais aquele sorriso tímido
de antigamente. Era mais completo mais presente. Li hoje no jornal. Danny Boy
vai ser recebido pelo Presidente. Dizem que vai receber uma medalha. – Merecida
pensei. Danny Boy nunca negou colaboração a ninguém. Costumava fazer oito a dez
boas ações por dia e isto quando não fazia mais. Dizia que isto era um desafio
para ele como Escoteiro. Seu nome de batismo era João Gonçalves. Deram a ele o
apelido desde que nasceu de João Menino. Foi Freddy Mac Monte da Patrulha Leão
quem o apelidou nos escoteiros de Danny Boy. – Freddy era filho de norte
americano e tinha um saber inigualável – Contou para nos que em 1910 um inglês
Frederick Watherly fez uma letra a qual chamou de Danny Boy. Mais tarde adaptou
a letra na melodia “Londonderry Air”. Até hoje ela é cantada em todas as partes
do mundo. Dizem que hoje em dia ela é quase considerada o hino da Irlanda do
Norte.
Se ele tinha o apelido de João
Menino, todos resolveram o chamar de Danny Boy. Olhe eu vi tantos meninos
escoteiros e convivi com outros tantos que Danny superava a todos. Uma alegria
contagiante, a patrulha não vivia sem ele. Não podia atrasar que toda a Tropa
não sabia o que fazer. Se era da patrulha Leão ele era considerado um Escoteiro
de todas as patrulhas. Nunca parava e sempre ajudando uma ou outra. Se alguém
ficava triste lá estava Danny Boi para alegrar. Se as notas escolares não eram
boas Danny Boy tinha a solução. Os pais dos escoteiros sonhavam em ter um filho
como ele. Na Tropa só não fazia milagres. O Padre Rosaldo ria de orelha a
orelha quando ele chegava para ajudar na Missa ou na Benção diária. Limpava a
igreja, corria para limpar da sujeira a praça e sempre encerrava suas tardes
visitando doentes no Pequeno hospital de Estrela Dourada.
Nunca se preocupou com
especialidades, com Lis de Ouro, com cordões. Era um aprendiz daqueles que a
gente sempre dizia que já sabia fazer. Sinaleiro de mão cheia. Morse para ele
era brinquedo de criança. Se alguém se sentisse mal nos acampamentos ele corria
ao redor procurando as ervas nativas que curavam na hora. Um dia soubemos que
foi encontrado quase morto no Beco do Seu Bartolomeu. A cidade cresceu, novas
ruas e o beco estava lá vazio, próprio para os gazeteiros ou marginais de toda
espécie. Uma revolta geral nos escoteiros. Porque dar aquela sova em um menino
que só sabia fazer o bem? Quando saiu do hospital Danny Boy nunca foi mais o
mesmo. Taciturno, tez levantada, olhos tristes, procurou o Chefe Landau para
dizer que ia sair e nunca mais voltar.
Ninguém queria entender esta sua
resolução. Havia uma peregrinação constante em sua casa de todos os membros do
Grupo Escoteiro Luz do Amanhã. Ele foi irredutível. Não era meu amigo mais
próximo. Mas gostava de mim como irmão. Vado, não dá mais. Não foi porque me
deram a surra. Nada disto. Foi porque senti que não era tão importante na vida
de outros meninos que não são escoteiros. Meu pai e minha mãe são contra e
quando digo a eles que vou embora eles choram tentando me convencer a ficar.
Danny! Você só tem quinze anos, não pode sair assim pelo mundo! – Ele não me
respondeu e três meses depois sumiu da cidade.
Passei na Banca do Seu Pedro e ele
me deixou ler o jornal. A manchete dizia que ele foi um herói ao salvar o filho
do presidente de morrer afogado. Depois que o salvou desapareceu e toda policia
do governo foi incumbida de procurá-lo. Demoraram seis meses. Eles estava
morando nas Selvas do Suriname. Tomava conta de um pequeno ambulatório mesmo
não sendo médico nem enfermeiro. Era adorado por todos e sempre procurado pelos
doutores da medicina do lugar. No dia da entrega da condecoração Jonny Boy não
apareceu. Uma semana depois de novo no jornal que ele tinha partido para um
Garimpo nas Selvas Venezuelanas. Disse para os amigos que lá tinham muitos que
precisavam dele. O que é feito dele e onde está nunca mais soube. Danny Boy
comprou um pedacinho do meu coração. Mora lá até hoje e nunca mais irá deixar a
casa da minha vida. Só sai se eu deixar!
Os contos de fadas são assim. Uma manhã, a gente acorda e
diz: "era só um conto de fadas..." E a gente sorri de si mesmo. Mas,
no fundo, não estamos sorrindo. Sabemos muito bem que os contos de fadas São a
única verdade da vida.
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