quinta-feira, 5 de julho de 2018

Lendas escoteiras. Blow-up - Depois daquele beijo... Sessenta anos depois!



Lendas escoteiras.
Blow-up - Depois daquele beijo... Sessenta anos depois!

- Vovó... Aquele homem está aqui de novo! – Jane olhou para sua neta e balançou a cabeça. Havia duas semanas que Thomas insistia em falar com ela. Porque não antes? Passaram-se sessenta anos! Ela sabia que o perdão é muito saudável, embora a dor e a raiva que ele causou machucou demais. Precisava superar guardar o rancor, mas não conseguia. Um fato inconsequente de um adolescente que a fez odiar o amor, a paixão e tudo que um dia possuiu. Ela sabia que o perdão é uma ferramenta poderosa e que isso poderia libertá-la de tudo que queria esquecer. Tirar o peso de sua mente e esquecer aquela necessidade de vingança.

Olhou para Shylow nos seus oito anos e sorriu. Ela nunca saberia a verdade, não agora que sua mãe a deixou por causa de um homem que não a merecia. Vitória fora adotada aos seis meses de idade. Maria das Dores foi quem a alertou para o abandono de Shylow e que seria para ela uma companhia para seus momentos de tristeza e de abandono. Jane olhou nos olhos de Maria das Dores a única que entendeu seu ódio e seu medo de entregar-se a outro homem. - Jane ela disse – Não fique remoendo os pensamentos sobre o que aconteceu. O que está feito está feito. Se não quer modificar o passado pelo menos perdoe, só assim você poderá seguir em frente.

Jane chegou à janela e viu no portão Thomaz, cabisbaixo, curvado um velho nos seus setenta e oito anos. Ela pensou se ele ainda sabia o mal que lhe fez? O tempo passou e ela não conseguiu esconder a mágoa que ainda habitava em seu coração. Lembrou-se das palavras do Cristo: - Não é apenas uma questão de perdoar para ser perdoado, mas para facilitar as relações com os outros. A mente de Jane voltou célere ao passado, passado que fazia tudo para esquecer e a dor que sentiu naquele momento que ela acreditava ser a descoberta do seu amor, sua paixão sua vida há dois.

Quinze anos, chorou ao passar para as guias. Queria continuar na sua Patrulha, junto a suas amigas com que fizera amizade por muitos anos. Quantos acampamentos? Quantas excursões? – ela não podia reclamar, fez do escotismo seu lugar ao sol, amava tudo que fazia, enquanto as amigas sorriam para os escoteiros ela se fechava cada vez mais. Lembrava-se das palavras da Chefe Dirceia: - Aqui vocês são irmãos e se algum dia tiver alguém para entregar seu coração que seja sobre as bênçãos de seus pais!

- Como guia eram patrulhas mistas, ela não gostava, chegou a pensar em sair, mas Thomaz conquistou seu coração. Conversavam depois das reuniões, sua mãe e seu pai não sabiam e ela resolveu contar. Foi proibida de namorar. – Você só tem quinze anos e vai se machucar! Ela disse. Mamãe, eu o amo, não sei viver sem ele! – Pensou em sair do escotismo e fugir, mas não foi isso que aconteceu. No Acampamento em Pedra Azul ele a chamou para passear e ela escondida foi. Sentaram-se na beira do Riacho e ele a beijou. Foi à primeira vez. Sentiu-se zonza não sabia o que fazer.

- Ele acariciou seu corpo, pediu para tirar a camiseta e ela inocente tirou. Foi então que as três patrulhas quase completas chegaram tirando fotos, rindo e debochando dela. Ela queria morrer, encontrar um precipício e pular para nunca mais voltar, chorava copiosamente e muitas das guias se calaram dizendo que aquilo não estava certo. Ela voltou correndo para o seu campo de Patrulha, arrumou sua mochila e insistiu com a Chefe Dirceia para leva-la para casa. Não contou o porquê. A Chefe só ficou sabendo um mês depois em uma reunião de Corte de Honra. Expulsaram Thomaz, mas ele não pertencia mais a tropa.

Nunca mais voltou, nunca mais perguntou por Thomaz, só Noêmia uma guia que aparecia para uma visita. Ela pediu e insistiu em não saber das noticias. Não era mais escoteira tudo acabou. Olhou de novo pela janela e viu Thomas chorando. Abriu a porta e pensou: Nós temos que perdoar aqueles que nos fizeram mal, não por eles merecem, mas, porque sentimos tanto amor por nós mesmos que não queremos continuar pagando por essas injustiças. Foi à varanda, chamou Thomas, deu-lhe um abraço e lembrou-se do aperto de mão. Ele ajoelhou e pedia perdão, perdão, e ela não sabia mais o que dizer.

Setenta e seis anos, quase sessenta sem fazer escotismo. Sentiu uma saudade imensa, Chamou Shylow e perguntou se ela queria ser Lobinha. – O que é isto Vovó! Ela explicou. No sábado a levou para inscrição. Das suas amigas e dos seus amigos de tropa só Normando sorriu ao vê-la chegar. Nunca mais viu Thomas na cidade. Não perguntou. Uma página se fechou em seu coração, agora se sentia mais leve, olhou para dentro de si e pensou: - O perdão é a chave para a liberdade!


Nota - Nenhuma pergunta fica sem resposta; Nenhuma lágrima fica sem solução; Nenhum sorriso fica sem retorno; Nenhuma mágoa, sem o perdão. E assim sessenta anos depois Jane descobriu que o perdão a fez sorrir novamente! Algum tempo depois de volta. Espero que gostem deste conto. Inédito. Abraços fraternos.

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