Contos de Natal.
O natal do
fantasma Simão o Caolho!
Prólogo: - “Se alguém te ama, ame-o... É difícil entregar-se? Mas
quem disse que é fácil ser feliz? Nem tudo é fácil na vida... Mas, com certeza,
nada é impossível”... Uma história simples, dois amigos escoteiros que levaram
a palavra de Jesus a quem precisava parar de sofrer. Simão o Caolho? Ele teve
enfim a paz que precisava ter!
“Se você errou se você errou, peça
desculpas...
É difícil perdoar? Mas quem disse que é fácil se arrepender?”
É difícil perdoar? Mas quem disse que é fácil se arrepender?”
Manezinho estava de olhos arregalados. Nunca
sentiu tanto medo na vida. Ele nunca deveria ter concordado com Zózimo seu
amigo deste que nasceu. Poderiam ter esperado o dia seguinte e não após as dez
da noite encontrar a patrulha que acampava no Riacho da Lontra. Eles amavam
acampamentos e não perdiam um. Liberato o Monitor saiu as duas de sexta um dia
após o natal. Eles não puderam ir, precisavam participar de uma cerimônia na
igreja. Combinaram de chegar lá por volta da meia noite. O acampamento duraria
até segunda, pois era feriado municipal.
Os dois nasceram na mesma hora no
Hospital da cidade. Eram vizinhos e sua mãe amicíssima da mãe dele. Ambas
lutavam para sobreviver, perderam o marido para a capital. Disseram que iriam
melhorar de vida e mandar uma carta para elas encontrarem com eles. Carta que
nunca chegou. Passavam a maior parte do tempo juntos enquanto suas mães saiam
para trabalhar. Eles se divertiam, faziam brincadeiras e quando entraram na
pré-escola foi como se nova vida se formasse.
Um dia viram uns lobinhos
brincando na praça, e um deles contou como eles deveriam fazer para entrar
também. As mães sempre bondosas foram com eles ao Grupo Escoteiro. O tempo foi
passando e Manezinho e Zózimo amando aquela nova vida Escoteira. Sempre juntos nos
lobos como quando passaram para a tropa. Só aceitaram a passagem se ficassem na
mesma patrulha. Fizeram juntos a jornada de primeira classe e receberam no
Acampamento de verão.
Para eles era escotismo na terra
e Deus no céu. Suas mães tanto insistiram que eles fizeram o catecismo juntos e
se tornaram coroinhas ajudando nas missas salvo quando iam fazer atividade
Escoteira. Deixaram isto bem claro para o Padre Nonô. Agora estavam ali, só os
dois na Estrada dos Afonsos. Uma pequena estrada de terra com cercas de arame
farpado dos dois lados. Já haviam percorrido três quilômetros. Faltavam outros
quatro. Lembraram-se da curva do Demônio. Deus meu! Eles iriam passar lá por
volta da meia noite!
“Se você sente algo diga... É difícil se abrir?
Mas quem disse que é fácil encontrar alguém que queira escutar”?
Zózimo olhou para Manezinho.
Seus olhos esbugalhados nada diferiam do seu amigo. Lembravam-se de como morreu
na curva do Demônio o Simão o Caolho. Isto há menos de dois anos. Simão era um
pobre coitado sempre a sorrir e a fazer continência para os Escoteiros. Nunca
falou palavrões e nunca brigou com ninguém. Seu sorriso enfureceu Norberto,
Tonico e Malaquias. Norberto tinha 19 anos um vagabundo, e filho do prefeito
Ladislau. Tonico era filho de Dona Iracema advogada de todos os grandões da
cidade. Malaquias era um coitado. Não era nada apenas um bajulador dos dois
amigos.
Foi na tarde de um domingo que se
enfezaram com Simão o Caolho. O acusaram de se fazer bonito com Dolores
convidando-a para um passeio. Não deu outra. O jogaram na picape e o levaram
até a curva do Demônio onde o mataram a pauladas. O enterraram na cruz de outro
que morreu do mesmo jeito. Um dia e ninguém sabe quem foi os três amanheceram
em suas camas mortos com as mãos e as línguas cortadas.
Toda cidade conhecia a lenda
da curva do Demônio. Nas noites de lua nova ninguém passava por lá. Se fosse
era para encontrar com a figura fantasmagórica de Simão o Caolho. Eles olharam
para o céu. – Diacho disse Manezinho, a lua era nova! Deram as mãos pedindo a Deus que os
protegessem naquele dia de natal. Não deu outra, lá na curva Simão o Caolho,
parecendo um espantalho jogava pedras em três figuras horrendas presas no arame
farpado da cerca divisória. Simão quando os viu parou. Os dois escoteiros tremiam
feito varas verdes. – Deus do céu, protegei aos seus filhos deste demônio!
Disse Tonico.
Simão olhou para eles –
Chorava – Não entendem meu infortúnio? Eles me tiraram a vida! Não devem pagar
pelo que fizeram? Os presos no arame eram horrendos. Todos eles sangrando,
gritando para parar, pedindo perdão. Simão não parecia gostar do que fazia. Era
uma alma atormentada e mesmo não querendo só fazia por vingar.
“Se alguém reclama de você, ouça... É difícil ouvir certas coisas?
Mas quem disse que é fácil ouvir você”?
Mas quem disse que é fácil ouvir você”?
Não se apiedem deles! – Disse
Simão. Eles tiraram minha vida! Eles tiraram tudo que eu tinha e o que eu poderia
ter um dia. Não devem pagar? Simão não ria como os fantasmas faziam. Era um
sorriso triste, não dava gargalhadas. Estava sofrendo e não sabia como evitar.
Zózimo e Manezinho não sabiam o que dizer. Lembraram-se de sua lei e sua promessa,
onde diziam para ajudar o próximo sem esperar nada. Uma obrigação de um
Escoteiro. Ajoelharam – Olharam para Simão – Manezinho se lembrou de uma
passagem na bíblia que ouviu na Missa do Domingo:
- “E aproximou-se de Jesus
um leproso que, rogando-lhe e pondo-se de joelhos diante dele, lhe dizia: Se me
queres bem pode limpar-me.” – E completou – Se podes fazer alguma coisa, tem
compaixão de nos, e ajuda-nos. E Jesus disse-lhe? Se tu pode crer, tudo é
possivel para os que crêem! Uma
luz brilhante aconteceu. Manezinho e Zózimo ficaram estupefatos! – Uma criança
sorria e olhou para Simão. – Com uma voz amiga disse – Simão, tudo na vida tem
um começo e um fim. Sem o perdão você não vai conseguir ir para o céu! Ouviram
um trovão e os três malfeitores se soltaram. Ajoelharam e chorando disseram –
Perdoa Senhor!
A noite virou dia na curva do Demônio. Não
mais havia vencidos e vencedores. A voz do menino continuou: - Ide, procurem
ajuda na seara do Senhor! – E você Simão, sei que choras e se perdoou também será
perdoado! – O céu voltou a ficar cheio de estrelas. Não havia mais ninguém ali.
Simão e seus matadores se foram. Que eles fizessem por merecer. Manezinho e
Zózimo partiram para seu acampamento. Sabiam que agora a curva do Demônio
acabou.
Dizem que nunca mais a Curva do Demônio
foi o inferno de Simão o Caolho. Ela ficou conhecida como a curva do Menino
Jesus. Do alto da montanha viram o campo da patrulha. Iluminado, lá embaixo os
patrulheiros em volta do fogo declamavam: -. Noite
de Paz... Foi nesta noite que um menino que
de luz vem trazendo a esperança desejada, mas nem sempre é por nós reconhecidos!
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