Um poeta sonhando
acordado.
As vozes do
silêncio.
Prefácio: - A Melhor mensagem para quem ama o
escotismo é aquela que sai em silêncio de nossos corações e aquece com ternura
os corações daqueles que nos acompanham em nossa caminhada pela vida. E o poeta
repica no seu pensamento que da árvore do silêncio pende seu fruto, a paz.
Escoteiro, viva intensamente use seu silencio para discordar. As mais lindas
palavras de amizade e fraternidade são ditas no silêncio de um olhar...
Foi um poeta que escreveu que o sentimento
mais profundo de um ser humano é o silêncio. – “Se
você não consegue entender o meu silêncio de nada irá adiantar as palavras,
pois é no silêncio das minhas palavras que estão todos os meus maiores
sentimentos”. Eu gosto do silencio, de ouvir, interpretar as palavras, olhar
nos olhos e pensar se era isto mesmo que eu queria dizer. Paulo Coelho diz que
nós vivemos em um universo que é, ao mesmo tempo,
gigantesco o suficiente para nos envolver e pequeno o bastante para caber em
nosso coração. Na alma do homem está à alma do mundo, o silêncio da sabedoria.
Deve ser fantástico passear pelas estrelas, sentir o som do silencio velejando
pela via láctea, ver o brilho de um comenta passante, tentar entender o
universo mais lentamente, sem pressa... Passar por um buraco negro sem saber o
que encontrar... Ah! O silêncio. Dizem que ele e oração dos sábios.
Fico extasiado ao ler Saramago gritando ao
mundo o seu silêncio: - Não direi: - Que o silêncio me sufoca e amordaça. Calado está
calado ficarei, Pois que a língua que falo é de outra raça. Palavras
consumidas se acumulam se represam cisterna de águas mortas, ácidas
mágoas em limos transformadas, vaza de fundo em que há raízes tortas. -
Não direi: Que nem sequer o esforço de dizê-las merece, Palavras que
não digam quanto sei neste retiro em que me não conhecem. Nem só
lodos se arrastam, nem só lamas, nem só animais boiam, mortos,
medos, túrgidos frutos em cachos se entrelaçam no negro poço de onde
sobem dedos. - Só direi, Crispadamente recolhido e mudo, Que
quem se cala quando me calei Não poderá morrer sem dizer tudo. Não só ele,
mas eu também me extasio com as vozes do silêncio.
Quem já teve a felicidade, a alegria, a satisfação
de acampar onde não se ouvia o cantar de um ser humano? As vozes gritantes
pululantes procurando destruir o maravilhoso som do silencio da natureza?
Quanto deleite. Quanta satisfação e contentamento em apagar a voz, deixá-la
escondida na garganta e sentir o fundo musical do tempo que nada diz e a gente
se transforma em um ser humano imortal. Um dia tentei interpretar o silencio
das matas, do alto de uma montanha, na cascata sorridente de um vale feliz. Lá
fui eu com uma mochila, uma matutagem, um cantil uma faca escoteira e viajar na
trilha da bem-aventurança. Era só eu. Sozinho naquele cercado de um lugar
chamado paraíso. Ninguém mais pode entender meu prazer, meu deleite e a euforia
de estar ali... Em silencio! Já ouviu a voz do vento? Ele canta divinamente.
Canta para embalar as árvores, para alegrar as flores do campo, ele canta para
dizer que existe que o mundo não e o que pensamos, mas é uma nascente de Deus.
Não há como viver na natureza. Audição ao
vivo ao ouvir o som das arvores balançando ao receber sua aragem nas folhas,
nos galhos, macaquinhos pulando ao alegre ventar. Não importa de onde veio ou
para onde vai. Tente ficar de olhos fechados, deixe seu pensamento se misturar
com os sons da floresta, sinta o vento no corpo, estremeça deixe fremir o seu
olfato, percorra com sua audição seu jubilo de ouvir tão linda canção... Do
vento! Só sendo Escoteiro é que podemos interpretar a voz da cascata
murmurante, sua fonte e o borbulhar das águas cristalinas. Nunca esqueci no
alto daquela montanha, uma vista de tirar o folego, eu ali calado, em silencio,
tentando imaginar tudo aquilo e o dom de quem criou tão bela imagem. Fiquei
parado. Extasiado.
Os minutos se passaram, e tudo estava
calmo, exceto a minha respiração. Ela dava arrancos, entrecortada, tendendo a
soluçar em silêncio. A música expressava o que não pode ser dito em palavras,
mas não pode permanecer em silêncio. Uma voz da noite me disse: Escuta e serás
sábio. O começo da sabedoria é o silêncio. Não sabia o que dizer ou fazer.
Estava parado estático. Lembrei-me de uma poetisa que dizia: - O silencio de
Deus nos ensina, antes de reclamar que Ele não te respondeu tente entender o
que Ele está te ensinado. Fechei os olhos. Não queria abrir, só queria ouvir.
Nunca na vida tinha me sentido assim. Era como se eu estivesse sozinho
abraçando um fogo de conselho, luzes de algodão vermelho querendo subir aos
céus. Céus? Lindas estrelas no firmamento. Queria pegá-las, acariciá-las,
levá-las comigo para não esquecer aquele momento. Uma orquestra noturna de
grilos e pirilampos com suas luzes brilhantes começaram a tocar uma linda
melodia. Uma coruja buraqueira rindo cantava: - Linda é à noite, tente ouvir o
Senhor, pois muitas vezes Deus se cala... Mas o silêncio de Deus não significa
que Ele desistiu de nós.
Tenho que retornar, me enrosco em minha manta
azul como o céu que vejo e amo. Existe um vento calmo no ar. Brisa gostosa.
Ouço ao longe o cantar do Uirapuru. Sinto pardais dedilhando um violão
encantado. Uma melodia toca no violão apaixonado. Sinto pedacinhos molhados
gotejando na minha face. Sei que são lágrimas de alegria. O que dizer de tudo
que sinto que vi e amo ao sentir o silencio maravilhoso em mim? Como Einstein
em penso noventa e nove vezes o que sou e nada descubro. Deixo de pensar e
continuo em profundo silêncio. E eis que a verdade vai aos poucos me revelando:
- Você Escoteiro é filho da natureza. Reconhece nela o Criador e por isto sente
falta dela. Não sei mais o que dizer. Volto à civilização. Civilização? Deve
ser quem sabe um dia todos aprenderam a voz do silencio, ouvir, entender,
sorrir sem discutir quem está com a razão.
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