Lendas
Escoteiras.
Era uma
vez... Um chapéu Escoteiro para Cimarron.
Baseado em fatos reais,
“Um chapéu Escoteiro para Cimarron” foi uma feliz lembrança de historias
Escoteiras que nunca foram esquecidas. Com algumas alterações considero como
uma das dez melhores que escrevi. Obrigado.
Noite alta, devia
passar da meia noite. Não tínhamos relógio, mas a lua e o sol nos dava o
horário que precisávamos. Próximo a Ponte do Alemão onde tocaiávamos o trem de
ferro, permanecíamos em vigília. Sabiamos que a qualquer momento o comboio de
300 vagões ou mais com quatro locomotivas iria passar. O pontilhão era enorme,
mais de um quilômetro sobre o Rio Amarelo. Tininho olhou para Noka o Monitor. –
Acho que vamos atrasar... – É... Respondeu Noka. Nosso Monitor falava pouco.
Mas entendíamos sempre o que ele iria dizer.
Lilico dormitava sem
preocupação com o trem. Não foi a primeira vez que atravessariam o Pontilhão do
Alemão. Se estivessem atravessando e a buzina tocasse, adeus. Não tinha como
fugir ou escapar do comboio, seria morte certa ou tentar pular na água e nadar
perdendo tudo que tinham. Toliar sorria brincando com seu cabo trançado nas mãos.
Sempre a fazer um ou outro nó. Era bom nisto. Diziam que fazia de olhos
fechados mais de 80 nós escoteiros e marinheiro. Délio Abelha dormia. Era uma
Patrulha de experimentados escoteiros. Todos sabiam o que fazer.
Lilico de olhos
cemi-cerrados, mas com ouvidos atentos olhava a estrada de ferro com carinho.
Colocou os ouvidos no trilho. Está chegando! Falou. A patrulha se animou. Cada
um pegou sua bicicleta e suas tralhas e ficaram a espera do comboio. Quem sabe
era pequeno? Uma vez na Ponte do Cara Preta ficaram quase meia hora esperando o
comboio passar. Mais de trezentos vagões e cinco locomotivas a dizel. Diziam
que era o maior trem do mundo. Quase 3.500 metros de extensão. 40.000 toneladas
de minério gemendo nos trilhos daquela ferrovia infernal.
Na curva do Maribondo
avistaram o farol do trem. Potente! Iluminava tudo. O maquinista e o seu
ajudante sorriram para eles quando puxavam a potente buzina. A patrulha sorriu.
Délio Abelha sabia que todos sonhavam um dia estar ali, naquelas máquinas
infernais, levando minérios e outros bichos para países do além mar. Quinze
minutos até passar as cinco locomotivas acopladas e os vagões. No ultimo uma
vagonete com um lampião vermelho a querosene aceso.
Atravessaram o pontilhão
com calma, nada de correrias. Prender uma perna era programa de índio. Do outro
lado respiraram aliviados. Noka custou para falar – Acho melhor arranchar no
campinho de futebol do Arraial do Lagarto. Esta hora todos estão dormindo e sairemos
cedo para a Serra do Roncador. Chegaremos lá antes das onze e a escoteirada já devem
estar nos esperando! Deu um suspiro montou e lá foram eles. Meia hora e
chegaram ao campinho.
Vinte minutos e estavam
dormindo nas barracas de duas lonas. Deixaram os chapéus em cima da barraca
para apanhar a brisa da manhã e não perder a aba reta. O sol surgia quando todos
levantaram. Hora de partir. Noka viu que o seu chapéu tinha desaparecido. Os
demais ali estavam como os deixaram. Em volta viram umas vinte pessoas olhando.
Eram moradores do Arraial. Noka perguntou se ninguém viu seu chapéu. Um menino
gritou: - Foi Cimarron quem levou!
Noka perguntou quem era o
Capitão da Cidade. Em qualquer arraial sempre tinha um. – Procure o Madrepérola.
Ele já deve ter acordado, pois tem quatro vaquinhas leiteiras. Noka montou em
sua bicicleta. Os demais o seguiram. O centro nada mais era que um descampado
sem grama e empoeirado com umas quarenta casas de taipa em volta. Uma plaquinha
dizia – Casa do Capitão. Bateram palmas e a meninada riu. – Vá por trás. Ele
está tirando leite! Os Escoteiros da Morcego não estavam rindo. Sabiam do valor
do chapéu Escoteiro e como era difícil adquirir um. Viram o capitão tirando
leite. Noka explicou com poucas palavras. De novo? Respondeu o Capitão. –
Cimarron vai aprender. Eu mesmo vou lhe dar uma lição!
Madrepérola foi junto
com os Escoteiros a casa de Cimarron. Sua mãe estava à porta com o chapéu de
Noka. – Onde ele está dona Efigênia? No quarto Capitão. – Chame-o! Cimarron
apareceu na porta chorando. – Conheço seu choro, disse o Capitão. A meninada
gritava: Prende ele Capitão! Tudo para eles eram festa. No arraial nada
acontecia. Noka pegou seu chapéu. Olhou para Cimarron. Nunca tinha visto menino
tão magro e de olhos caídos. – Cimarron chorava. Soluçando disse que um dia
seria um Escoteiro. Sabia que nunca seria no Arraial. Mal tinha a escola para
estudar. Noka se compadeceu. Chamou Délio Abelha e o pediu para arvorar a
bandeira nacional. Feito pegou na mão de Cimarron. Venha menino. Você vai ser
Escoteiro! – Formaram uma ferradura pequena. O povo do arraial apalermado sem saber
o que ia acontecer. – A bandeira em saudação! Gritou Noka. Pegou na mão de
Cimarron ensinando. Firme! Descansar!
A patrulha ficou de sentido.
Noka pediu para Cimarron levantar a mão direita. Ensinou a meia saudação
Escoteira. – Repita comigo Cimarron! – Prometo, pela minha honra, fazer o
melhor possivel para: - Cumprir meu dever para com Deus e minha Pátria, ajudar
o proximo em toda e qualquer ocasião e obedecer à lei do Escoteiro! Sabe
Cimarron, um Escoteiro não mente, um Escoteiro é leal, um Escoteiro respeita o
que é do próximo. Agora você é um Escoteiro. Noka tirou seu lenço e o colocou
em Cimarron. Depois pegou seu chapéu e o colocou em sua cabeça. Cimarron
chorava, e como chorava. O povo bateu palmas. – Alguém gritou! – Viva Cimarron
um Escoteiro do Brasil! – Os patrulheiros o abraçaram. Arriaram a bandeira.
Pegaram suas bicicletas e partiram. Muitos meninos ainda correndo atrás.
Pararam na subida da Onça
Pintada. Noka desceu da bicicleta e olhou para trás. Cimarron chorava gritando
para eles: - Obrigado irmãos! Obrigado. Prometo ser um escoteiro de valor. Prometo
que vão se orgulhar de mim. A patrulha montou em suas bicicletas e partiram na
estrada que os levaria ao seu destino. Antes da curva da Coruja ainda ouviram
ao longe a voz de Cimarron – Adeus amigos, adeus! Voltem um dia! Vão encontrar
um Escoteiro Leal e amante da paz!
Ninguém disse mais nada.
Cada patrulheiro sabia o Monitor que tinham. Um orgulho em pertencer àquela
patrulha. Se Cimarron ia mudar ou não, era sua escolha. Uma boa ação foi feita.
A patrulha virou a curva do morro da Coruja. Sumiram na estrada que os levaria
ao seu destino. Eles acreditavam que Cimarron cumpriria sua promessa. Sabiam
que ele aprendeu a raça, a cortesia, o respeito e a fraternidade de um
escoteiro. Na descida da estrada do Cantador, imaginavam que deixaram para trás
um Escoteiro sem tropa, sem patrulha, mas com um imenso amor para dar!
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