Contos de
natal.
Priscila.
Prólogo: Tudo muda se renova, se refaz... Basta à
gente querer... Hoje mudei minhas estações... Mudei meu radio e minhas ligações não tento
nem ao menos mais entender, uso frases curtas, sigo sem você, e bem aqui estou,
livre como um pássaro, podendo voar aonde eu quiser...
“Noite feliz! Noite feliz!
Oh, Senhor, Deus do amor
Pobrezinho nasceu em Belém”.
Oh, Senhor, Deus do amor
Pobrezinho nasceu em Belém”.
Antes fora uma favela.
Ainda era só que melhorada. O sonho de todo jovem era sair dali, ir para outro
bairro mais bonito, mais pacífico e onde não houvesse tantos marginais que se
consideravam dono do lugar. Priscila sabia que só quando tivesse idade poderia
procurar outro lugar para morar. Estudava muito. Acreditava que só assim
poderia decidir sua vida. Não reclamava, não tinha como. Sua tia foi até
bondosa a acolhendo quando sua mãe morreu. Seu pai sumiu e ela nem sabia onde
andava. Negra, não se considerava bonita. Nariz fino cabelos encaracolados, mas
ela mantinha um ar de menina orgulhosa sem fazer muitos amigos e sem conversar
com ninguém. Era de sua casa a escola e algumas vezes a padaria quando sobravam
alguns tostões para o pão de cada dia. Como toda criança dos seus doze anos
tinha sonhos. A cada ano seu sonho mudava e outros chegavam para encantar suas
noites quando pedia a Deus na hora de dormir que a protegesse sempre.
“Eis na Lapa Jesus nosso bem
Dorme em paz, oh, Jesus
Dorme em paz, oh, Jesus”.
Sua sala de aula não era grande,
mas embolava mais de 40 alunos. Ela estava na quinta série e nunca repetiu de
ano. Calada era bem quista por dona Rute sua professora. Foi ela quem a
convidou para participar junto a outras meninas de aulas de dança clássica. Ela
adorou. Nem disse para a tia. Ela não se interessava por nada que fazia. Se não
fosse tão responsável estaria hoje entregue ao trafego com a bandidagem. Na
primeira aula foi tão bem que a Professora Sarah lhe deu os parabéns. – Menina
– Ela disse: - Você tem estilo, se quiser poderá ser uma grande bailarina. A
principio a felicidade escondeu que era negra. Bailarina negra? Nunca tinha
ouvido falar. Foi para casa cantarolando, pois agora seu sonho era outro. Balé
Bolshoi? Ria entregue nos seus sonhos. Ela sabia que quando se quer tudo pode
acontecer. Seria a primeira bailarina negra do Teatro Municipal do Rio de
Janeiro. Na esquina da Ruela Monte Sinai sentiu uma dor enorme abaixo do
joelho. Viu que a carne de sua pele estava espalhada pela calçada. – Meu Deus!
Uma bala perdida?
“Noite feliz! Noite feliz!
Oh, Jesus, Deus da luz
Quão afável é Teu coração”.
Oh, Jesus, Deus da luz
Quão afável é Teu coração”.
Acordou no hospital. Estava
em uma enfermaria com mais oito pacientes. Não sentia seu pé direito. Tentou se
mexer e não conseguiu. Quis chorar, mas disse para si que ela não tinha este
direito. Sonhou e se não conseguiu realizar seu sonho tinha de dar a volta por
cima. Mas não era fácil. Dois meses depois lhe deram alta. Uma enfermeira
trouxe uma muleta para ela – Quando se acostumar você vai ver que é fácil. Sua
tia não veio buscá-la. Ao sair na porta do hospital tropeçou em um menino. Viu
que era um Escoteiro e estava correndo. Ambos caíram. Ele não teve nada e ela
também não. Um olhou para o outro. O Escoteiro não sabia o que dizer. Ela
sorriu mesmo sentindo dores. – Quem corre cansa – disse. O Escoteiro sorriu
também. – Desculpe. A culpa foi minha! Ela não disse nada. Não poderia correr
com eles. – Quer conhecer minha patrulha? Somos da Pantera, mas de paz! Ele
disse. Porque não? Ele a apresentou aos cinco escoteiros da patrulha. Ela
gostou de todos eles. – Vocês são bacanas, mas preciso ir para casa, minha tia
está me esperando, tive hoje alta no hospital. Perdi um pé. Disse com a maior
naturalidade.
“Que quiseste nascer nosso irmão
E a nós todos salvar
E a nós todos salvar”.
E a nós todos salvar
E a nós todos salvar”.
Foi o início de uma grande
amizade. Foram com ela até sua casa. Convenceram-na a ser da patrulha. – Eu?
Não posso, não posso correr brincar e acampar como vocês. – Pode sim disse
Batuel. Nada impede você. Já estamos comprando uma nova perna mecânica.
Conseguimos uma doação, você vai gostar, vai poder andar correr e acampar
conosco. Foi o Chefe João Batista quem trouxe a perna mecânica. Maravilhosa.
Priscila chorou de alegria. Abraçou a todos e começou a andar. Doía um pouco,
mas em menos de uma semana acostumou. Em quatro meses Priscila dominava a perna
mecânica com maestria. Andava e corria como qualquer menino. Thiago deu para
ela um uniforme completo. Tinha dois. Ela fez a promessa e foi o dia mais lindo
da sua vida. Não esqueceu seu sonho que um dia pensou em ser uma grande
bailarina. Agora precisava refazer seus sonhos. Foi o Chefe João Batista que a
apresentou ao professor e técnico de Handebol para pessoas especiais.
“Noite feliz! Noite feliz!
Eis que no ar vem cantar
Aos pastores os Anjos do Céu”.
Eis que no ar vem cantar
Aos pastores os Anjos do Céu”.
O tempo passou. Priscila se
dedicou como nunca a nova modalidade. Quando foi selecionada para participar de
um campeonato estadual cantou aleluia! Agradeceu a Deus pela oportunidade. Um
grande conglomerado financeiro financiou seu treinamento e a adotou com atleta.
Quem quer anda quem não quer manda. Chorar por quê? Priscila fez seu próprio
destino. Hoje está na seleção principal, não abandonou o escotismo. Fez dele
sua nova maneira de viver. Foi na noite de natal que ela e sua tia mudaram para
a casa nova. Antes de entrar ajoelharam e rezaram na porta agradecendo a Deus.
Batuel, e os amigos da patrulha continuaram seus amigos por toda vida.
Paciência e perseverança tem o efeito mágico de fazer as dificuldades
desparecerem e os obstáculos sumirem. Cada lágrima ensina-nos uma verdade e
Priscila venceu. Cair levantar tentar de novo. Ela sabia que as únicas
desgraças são aquelas que nada aprendemos. A vida é assim, vence quem acredita
e perde quem chora a derrota sem se levantar.
Letra e música - Anunciando a chegada de Deus. De Jesus Salvador
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