Contos
Escoteiros.
Sonhos não
podem morrer.
Prólogo: - Um “pout-porry”
de “causos” do escotismo. Qualquer semelhança com a vida real é mera
coincidência.
Ana Rosa – 13 anos –
Escoteira.
- Ela voltava sozinha
quando terminava as reuniões escoteiras de sábado. Morava perto e seu pai nem
sempre ia buscá-la. Ficava olhando suas amigas da Tropa. A maioria os pais
ficavam no portão, semblante apressado, esperando suas filhas que não vinham,
pois a Chefe ou o Chefe tinham sempre uma última palavra a dar. Lembrou a Chefe
Nany que precisavam acampar. Sentia falta. Adorava quando estava no campo.
Esquecia-se de tudo e ali na vida ao ar livre seus pensamentos corriam soltos
pelos campos, nas águas límpidas do riacho, e sua patrulha era sua família
naqueles poucos dias que viviam juntos. Escotismo era seu balsamo. Ainda não
tinha sonhos grandiosos para o futuro. Um dia pensou que poderia ser médica.
Vibrava quando via historias e ou aparecia na TV os Médicos sem Fronteiras.
Sabia que tinha uma família feliz. Seu pai um homem trabalhador e sua mãe
também. Não lhe faltava nada apesar de não serem ricos. Ainda não tinha um
smartfone. Não estava em seus planos. Ana Rosa virou a esquina pensando que a
vida sem acampamentos não era nada.
Nico Paulistinha – 12
anos – Escoteiro.
- Pensou que seria seu
último. Voltar? Nem pensar. Estava cansado, muito. Quando lhe falaram do
bivaque ele vibrou. Sonhou com ele por semanas. Fez tudo que o monitor ensinou.
Levar o necessário na mochila, tênis antigos e macios, um cantil não tão cheio,
pois no caminho a água não iria faltar. Dois dias percorrendo a pé 26
quilômetros. Paradas para descansar a cada duas horas e outras quando
necessárias para as refeições. Tinha feito duas excursões e um acampamento.
Pensou que nunca iria perder outro e nunca deixaria o escotismo. Mas todas que
fez não andou a pé. Na subida dos Sapos Molhados (riu quando lhe disseram o
nome) maldisse sua vida escoteira. Nunca mais faria nada igual. Quando pararam
próximo a uma cascata vibrou. Pôs os pés na água gelada. Bom demais. Porque não
ficar ali? Dormir com as estrelas tendo o teto ou a barraca? Não disseram isto
para ele quando entrou? O Chefe avisou – Vamos partir em cinco minutos se
preparem. Iremos parar agora à noitinha na Fazenda do Curtume. Sua mente olhou
para o céu. Pediu a Deus que pudesse voar. Partiu com a patrulha sonhando que
era um pássaro, sonhos?
Chefe Nany – 36 anos –
Chefe Escoteira.
Desanimada. Muito. O
cansaço da vida aos 36 anos estava chegando. Nova? Desde que Tonho morreu que
ela vivia por conta de seu filho. Ele não deixou quase nada, uma pensão de dois
salários mínimos. Amava o escotismo. Oito anos de atividade. Seu filho quis ser
um e ela acompanhou. Hoje não participa mais. Fez cursos, aprendeu muito com
suas monitoras. Fora promovida na Empresa que trabalhava. Tinha que dar o
máximo para mostrar que era capaz. Ah! Ser mulher não é fácil. Tem de provar
que faz mais que o homem. As monitoras cobravam. – Chefe, e o nosso programa? –
Ela sabia que não estava sendo cumprido. Como cumprir? Como procurar local de
campo, preparar material comprar víveres providenciar transporte. Não era
fácil. Marisa ajudava, mas era uma assistente mais dependente do que líder.
Torquato o Diretor Técnico fazia ao que pode, mas não o suficiente. As meninas
cobrando, as contas do banco chegando, A luz quem sabe seria cortada se não
pagasse logo. Acampar? Deixou uma monitora dando um jogo. Sentou longe da
Tropa. O que fazer? Preciso sonhar? Preciso pisar no chão e acreditar?
João Torquato – 63 anos
– Diretor Técnico.
- Sorria quando chegava
à sede aos sábados. Quantos deles? Muitos. Centenas ou milhares. Organizou o
grupo há 30 anos. Cansado? Sim, foi uma vida, mas ele sabia que valeu. Quantos
passaram por ali? Quantos um dia chegavam e o procuravam abraçando e
agradecendo? Não tinha jeito para arregimentar voluntários. Até que tentou.
Conseguiu uns poucos e muitas vezes teve que substituir a falta de um ou outro.
E a sede própria? Sorria quando lia que algum Grupo Escoteiro fazia a
inauguração. O que eles têm que eu não tenho? Rico não sou ele dizia, Mas não
era fácil. Os pais não colaboravam tanto, uns poucos ainda ajudavam na sede. Sede
própria? Ele ria quando pensava. Os mais abastados de outros grupos viviam
ensinando. Ele prestava atenção, mas desistia logo. Tinha uma família, quatro
filhos, uma sogra e sua mãe entrevada na cama. Ah! Noêmia esposa amada. Se não
fosse ela não seria ninguém. Pensava em passar o bastão a alguém mais forte que
ele. Quem? Seu olhar olhava o tempo que não olhava nada. Sonhar! Ainda bem...
Sonhar é não pensar que somos
perfeitos. Aquele que sabe realizar sonhos sabe como caminhar em busca deles.
Nos sonhos não existem príncipes nem princesas. Encare seu sonho como se fosse
real. Acredite nas pessoas, mas de forma sincera e real. Se nos seus sonhos
elas fazem parte não deixe de exaltar suas qualidades, mas sabendo também de
seus defeitos. Acredite em você. Vá em frente, use e abuse do seu pensamento.
Não viva só de momentos, como as nuvens no céu. Pense que nada é impossível, se
não deu certo hoje amanhã vamos recomeçar. E não esqueça, é bom demais viver o
dia a dia, vivendo assim a vida jamais cansa. Os sonhos são lindos e melhor
ainda quando sabemos que a esperança faz parte dos nossos sonhos reais.
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