Lendas
Escoteiras.
E Mister Bob
não foi para o céu!
Prologo: - Mister Bob é um conto de ficção. Quem sou eu para dizer que a vida é
assim e assado e que do outro lado seremos poeira cósmica. Deve ser muito
difícil acreditar que vamos desaparecer e quando chegar a hora ver o contrário.
Dar de cara com o Diabo ou com os anjos de Deus deve ser um tremendo susto. Enfim
que cada um faça sua escolha no que acredita. Quem sou eu para contradizer?
Mister Bob era Chefe de
Escoteiros. Aparência europeia se vangloriava em pertencer a uma raça superior.
Superior ou não Mister Bob não angariava simpatias. Achava-se poderoso e mesmo
muitos o considerando prepotente e autoritário, era tido por alguns como um
tirano travestido de Escoteiro. No grupo era muito influente. Donatello o
Diretor Técnico e Montana o Presidente o achavam arbitrário, mas sua influencia
com os jovens e sua maneira dominante amedrontava a todos. Filho de condes ele
se considerava o melhor. Quando falava mostrava que era um perfeito xenofóbico
e preconceituoso. Formou-se com louvor na USP. Como Engenheiro Civil fez seu MBA
de Engenharia de sistemas e computação na UFRJ (Universidade Federal do Rio de
Janeiro e Mestrado e Doutorado pela UFMG (Universidade Federal de Minas
Gerais)).
Respeitado em sua profissão
estava se preparando para estagiar na Harvard Business School (Harvard University – EUA). Alguns de seus conhecidos diziam que ele iria ser um dos maiores CEOs em
qualquer empresa que o acolhesse. Se fosse politico seria facilmente eleito
Presidente do Brasil. Vangloriava em dizer que era um ateísta. Entre rodas
fechadas de chefes ele dizia que Deus para ele era absolutamente nada. Mostrava
sua força e seu conhecimento e se gabava de que Deus não o ajudou em nada e ele
nunca precisou. Como Ateísta ele se achava mais inteligente e considerava mais
preparado que Deus para resolver seus problemas. Bíblia para ele era um zero a
esquerda.
Sabia que em sua Tropa a maioria
eram católicos e evangélicos. Somente Tom Crayner um Escoteiro novato escondido
dos pais dizia também ser um agnóstico. Quem sabe por que ouviu seu Chefe falar
e ele copiou. Queira ou não vamos considerar que Mister Bob fez uma ótima
Tropa. Provou que poderia manter todos sem evasão por três anos e cumpriu. Seus
escoteiros o admiravam e muitos o procuravam copiando sempre seu exemplo. Considerava
que seus escoteiros eram os melhores. Exigia muito e não perdoava os atrasados
e faltosos. Nos acampamentos regionais ou nacionais exigia das patrulhas serem melhores
e tirar o primeiro lugar. Todo ano ele conseguia o Padrão Ouro para o Grupo e
graças a sua Tropa recebeu sua IM em dois anos de atividade. Achava muitos
dirigentes eram impotentes e deveriam ser substituídos... Por ele é claro.
Com seis anos de escotismo já
tinha recebido a Medalha de Gratidão bronze e prata e caminhava para a de bons
serviços. Fazia questão de lembrar ao Diretor Técnico e ao Presidente a sua
importância no grupo escoteiro. Fingia ser fraterno, apertava mãos de chefes
mais humildes contrariado. Era poderoso o suficiente para desmerecer os que não
eram iguais a ele seja no conhecimento Escoteiro ou na técnica escoteira. Pediu
e obteve autorização para fazer vários cursos em Gilwell Park. Pelo menos
Mister Bob se apresentava bem vestimentado. Comprou e não regateou todos que
podia vestir. Levou para o melhor alfaiate da cidade para refazer as costuras
mal feitas e reciclar para seu tamanho normal.
Nunca pensou em entrar para
os escoteiros até o dia que foi desafiado por um colega de MBA. – És capaz? Ele
riu e disse: - Sou e me dê oito anos e serei o Presidente dos Escoteiros do
Brasil! Entrou em um Grupo Escoteiro depois de pesquisar em um bairro nobre
próximo onde morava. Investigou quem frequentava seus conhecimentos
universitários e suas vidas pregressas e profissionais. Sempre se mostrava como
o melhor, o magnata no saber, o rico de conhecimentos e soberbo na sua ação.
Fez a promessa escoteira sabendo que nunca ia cumprir. Em breve iria modificar
tudo, pois achava um absurdo prometer a um Deus que não conhecia e uma Pátria
que não tinha o porquê se orgulhar.
Um dia fazia adestramento em
baixo de uma árvore junto aos seus monitores quando um Senhor de idade
indefinida, calmo e cheio de hematomas se aproximou. Ficou em pé para se
defender. – Olá moço! Viu se nosso Deus passou por aqui? – Ele riu. – Ora
velhote “perebento”, não vê que estou ocupado? Vê se toca meu! Este teu Deus é
seu e não meu. O homem que o interpelava riu e perguntou? – Quando você morrer
onde será o seu céu? – Mister Bob pensou em dar uma lição e mostrar que não
existe céu, não existe outra vida e nem este tal de Deus. Virou as costas e foi
até onde estava a patrulha de monitores e brincando disse: - Meus jovens amigos
será que estou prestes as morrer? Todos se assustaram e disseram que não.
Mister Bob frequentava os
melhores lugares da cidade, restaurantes famosos, e sempre convidado pela nata
da alta sociedade era a figura mais proeminente onde quer que estivesse. –
Convidado para um coquetel na Federação dos Engenheiros ele com sua pose de
superioridade discutia sobre a cristandade quando em dado momento caiu ao chão
assustando a todos. Médicos acorreram e todos balançavam a cabeça. Mister Bob
havia morrido. Ele no ambiente não acreditava no que via. Seu corpo inerte sem
respirar. Assustou-se. - Não desapareci? Não virei poeira cósmica? – Porque
estava ali olhando seu próprio corpo? – Viu então aquele Senhor “perebento” que
procurava Deus e disse a ele: - Então Mister Bob já escolheu aonde ir? Para o
céu ou para o inferno? Mister Bob estava apavorado. Não viu nenhuma luz só
dementes mal cheirosos em volta.
Naquela tarde viu seus
escoteiros, seus amigos, sua noiva em volta de sua sepultura. Nenhum deles se mostrava
triste com sua morte. Estava morto e enterrado. Assustado pensou que nunca viu
uma prova que Deus existe e ali naquela necrópole viu muitos como ele que
sorriam, outros choravam outros bebiam agua da lama, e muitos o espezinhando
pelos caminhos sujos por onde passava. Não dá para modificar o destino e um dia
a verdade irá aparecer.
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