Lendas
escoteiras.
A lenda da
Iracema Escoteira e do Canto do Uirapuru.
Prólogo: Há um grande vento frio cavalgando as ondas, mas o céu
está limpo e o sol muito claro. Duas aves dançam sobre as espumas assanhadas.
As cigarras não cantam mais. Talvez tenha acabado o verão. Canta Uirapuru, o
Deus da floresta amante de Iracema e amigo de Tupã! Divirtam-se com a lenda do
Uirapuru, aqui contada por escoteiros que um dia viram o Uirapuru cantar...
Conta-se uma lenda que um
jovem índio guerreiro apaixonou-se pela esposa de um cacique. Ela também se
enamorara dele, mas sabia que seria um amor proibido. Ambos sofriam muito, um
amor à distância e sabiam que se um dia chegassem a se falar seriam mortos pela
tribo. Com o tempo a esposa do cacique foi esquecendo seu amor, mas este sofria
muito quando a via. Um dia ele amanheceu muito doente com febre. O Pagé fez
tudo que sabia. Ninguém sabia que sua doença era de amor. Com tanto sofrimento
pediu ao Deus Tupã que o transformasse em pássaro e assim poderia ficar ao lado
da mulher que amava. Tupã o Deus da Bondade o atendeu. Todas as noites ele se
aproximava de sua amada e cantava lindas canções de amor que só ela entendia.
Mas o cacique com inveja resolveu aprisioná-lo numa gaiola e correu para
capturá-lo e acabou-se perdendo na floresta. O Uirapuru agora um pássaro sabia
que nunca haveria de ter sua amada. Só se ela descobrisse que ele era o jovem
guerreiro que a amava. Isto nunca aconteceu. Diz à lenda que quem encontrar um
na floresta pode fazer um pedido que se tornará realidade. Dizem que os nativos
da floresta comentam quando o Uirapuru canta, toda a floresta fica em silêncio
rendendo-lhe homenagens.
Os olhos de Iracema brilhavam
quando lia e relia a lenda do Uirapuru. Não sabia quantas vezes leu, quantas
vezes sonhou e dizem que ela entrou como escoteira porque acreditava que um dia
iria encontrar o pássaro que amava. Muitos disseram a ela que são inúmeros os
pássaros que encantam nas florestas seus cantos maravilhosos. Mas ela sabia que
seu coração estava entregue a Uirapuru. Ela sabia que seu cantar magnifico
capaz de improvisar incríveis melodias eram carregadas de profundas emoções
espirituais. Ela conhecia o poliglota Sabiá, seu gorjeio, mas nenhum poderia
imitar com a perfeição os trinados do Uirapuru. Na Alcatéia ela contava para
seus amigos lobos os mistérios desconhecidos deste lindo pássaro, que quando
canta há um silêncio total da natureza para ouvi-lo. A natureza fica muda. Os
lobinhos se assustavam com suas historias. Quando passou para a Tropa escoteira
Iracema levou consigo seus sonhos. Nunca acamparam em uma floresta densa, ela
sabia que seria lá que encontraria seu amado Uirapuru.
O tempo passou e Iracema já
Guia não esquecia seu amor. As amigas da patrulha compreendiam, mas os jovens
seniores sorriam debochando quando ela em fogos de conselho chamava aos quatro
ventos pelo Uirapuru, que ele viesse e cantasse sua melodia em forma de triste
oração de agradecimento a Tupã, seu mentor. Rosaldo amava profundamente
Iracema. Sempre a amou desde os tempos que eram lobos e escoteiros. Ela o
aceitava como amigo e nada mais. Foi ela que no acampamento em Pedra Azul na
beira do remanso do Rio Saudade disse para ele: Rosaldo, quando as aves falam
com as pedras e as rãs com as águas, é de amor e poesia que estão falando! -
Rosaldo não soube o que dizer. – Naquela tarde ele viu Iracema olhando para o
céu, antes do anoitecer. Ele devagar fazia uma poltrona trançada só para ela,
um presente para ela não esquecer que ele também existia. Calado ele sonhava e
dizia para si: - Há quatro coisas misteriosas
que eu não consigo entender: A águia voando no céu; A cobra se arrastando nas
pedras; O navio que encontra seu caminho no mar; E o amor entre um homem e uma
mulher.
O tempo foi passando célere. A
idade chegou e a vida maravilhosa do Sênior e da guia agora eram somente
saudades. Rosaldo não foi para os pioneiros, Iracema sabia que precisava
continuar. Só com eles poderiam um dia ir a uma floresta densa, fechada, escura
para que ela pudesse ver e ouvir seu amado Uirapuru cantar. Alguns pioneiros
achavam que Iracema tinha problemas psiquiátricos. Não era possível uma moça
bonita como ela, não se interessar por ninguém a não ser por amizade. Sabiam
que ela não fora Cruzeiro do Sul, não tivera interesse no Lis de Ouro e nem no
Escoteiro da Pátria. Chefe Jonas o Mestre Pioneiro um dia perguntou a ela: -
Não sonhas em ter a Insígnia de B.P? Ela sorriu e não respondeu. Naquela tarde
observou Iracema olhando para o céu e declamando: - Bem-te-vi, Uirapuru,
Pardal. Aves. Sempre belas aves. Emitem sons puros e calmos. No verde do mato,
no laranja do sol, no azul do céu, no puro do ar. Tudo me lembra um lugar. Um
lugar onde tudo pode haver, onde posso ser. Com todas as forças, ser Iracema do
Uirapuru!
Um dia em uma reunião do
Clã muitos pediram grandes aventuras, grandes atividades em um local inóspito,
cheio de surpresas para acamparem. Foi Lorenzo um Pioneiro novato quem disse
ter lido sobre uma floresta densa aluvia, nas terras baixas da Bahia com
formação florística. Ela fazia parte da Mata Atlântica uma reserva florestal.
Iracema ficou em pé, sem perceber bateu palmas, seu coração era como um grande
tambor anunciando para breve rever seu grande amor. Era lá que iria encontrar o
Uirapuru, o jovem guerreiro dos seus sonhos. Não dormiu bem até a data marcada,
onde partiram para mais uma aventura pioneira, mas para o fato consumado de
Iracema nunca mais voltar. Novamente ela se sentia como a águia queimando,
querendo chegar às estrelas longínquas. Via Pícaro voando em céu cor de cinzas.
Seria seu sonho em favor da Luz. Sua odisseia estava chegando ao fim. Mais um
capítulo da sua saga. Ela sabia que precisava ser louvada, e em baixios calos
dizia: - Água cristalina, água quem vem da colina, purifica minha alma e traz a
calma para o fim da minha vida.
A história termina aqui.
Ninguém nunca soube explicar para onde foi Iracema. Uma noite ela adentrou a
floresta e não voltou nunca mais. Ninguém entendeu e as explicações surgiram no
ar. Quem sabe Rosaldo que um dia foi procurar e só ouviu o cantar do Uirapuru?
Ele sorria sabendo que lá estava Iracema a virgem que não era do mar e agora
vivia seu sonho que acalentou por toda a vida. Dizem que em noites de lua cheia
quem se atrever a avançar na floresta escura, ouvirá o Cantar do Uirapuru,
sentado na beira da lua, e ao seu lado à bela Iracema cantando com ele canções
de amor.
É, são histórias que contam
por este mundão de Deus. Não há fogo de conselho onde a lenda é lembrada, todos
sonham com Iracema e seu guerreiro que contam por aí agora são dois Uirapurus a
voar pelo céu azul. Eles como ninguém cantam lindas canções de amor. Há um
grande vento frio cavalgando as ondas, mas o céu está limpo e o sol muito
claro. Duas aves dançam sobre as espumas assanhadas. As cigarras não cantam
mais. Talvez tenha acabado o verão. Canta Uirapuru, o Deus da floresta amante
de Iracema e amigo de Tupã!
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