segunda-feira, 22 de junho de 2015

A lenda da Arara azul da Princesa Lorena.


Lendas Escoteiras.
A lenda da Arara azul da Princesa Lorena.

                                 Dizem que Rio da Prata nunca esqueceu aquela tarde onde aconteceu uma revoada de pássaros incríveis sobre a cidade. Milhares deles voando e fazendo acrobacias e com seus chilros e cantos assustando todos os habitantes que se refugiaram em suas casas. Foi realmente fantástico. Houve quem conseguiu tirar fotos e muitos diziam ter gravados os sons que ribombaram como trovões nas nuvens do céu. Havia cinco meses que uma seca infernal não dava trégua à cidade. Seus habitantes viviam de plantações hortifrutigranjeiras e eram grandes exportadores de tomate e várias frutas que só naquela região elas conseguiam reproduzir. Por falta das chuvas todos sentiam o enorme prejuízo, pois poucos dos habitantes não dependiam das plantações. Quase todos os oito mil habitantes do lugar tinham na cooperativa seus meios para sobreviver. Dom Pedrito o pároco fez realizar centenas de romarias e procissões e houve até mesmo os crentes que faziam magia negra em cada esquina da cidade. Não adiantava. A Tropa Escoteira feminina Kalapalo era a que mais sofria. Já faziam três meses que não saiam para atividades fora da sede. Os pais achavam que não deviam, pois uma queimada poderia produzir acidentes que seriam impossíveis de prever os resultados.

                       A Princesa Lorena, apelido carinhoso dado pela sua patrulha tentava entender o porquê não podiam acampar. O programa anual já fora cancelados vários programas de acampamentos e isto para ela fazia enorme falta. Quando a noite ia dormir, ajoelhava ao pé de sua cama e pedia a Deus pelas chuvas de maio, de junho e nada. Elas continuavam a não cair sobre a cidade. Um dia ela soube por um passarinho que pousou em seu ombro que se rezasse pelar chuva por bastante tempo, ela fatalmente iria cair. Se você rezar para que enxurradas se acalmem, elas fatalmente o farão. O mesmo acontece na ausência de preces. Assim A Princesa Lorena todas as noites rezava de joelhos ao pé de sua cama. Ela rezava a oração de um cantor já falecido (Luiz Gonzaga) e dizia: Senhor, eu pedi para o sol se esconder um tiquinho, eu peço pra chover, mas chover de mansinho. Pra ver se nascia uma planta no chão. Oh! Deus, se eu não rezei direito o Senhor me perdoe, Eu acho que a culpa foi desse pobre que nem sabe fazer oração. Meu Deus perdoe eu encher os meus olhos de água e ter-lhe pedido cheinho de mágoa pro sol inclemente se arretirar...

                       A Princesa Lorena acreditava nas suas orações. Ela conversava muito com Kika, uma arara azul que a tropa acolheu em um acampamento na Serra do Pintassilgo. Encontraram-na desfalecida as margens do Riacho Florido. Lorena levou-a para seu campo de patrulha, enrolou-a em um pano maior e viu que a Arara piscou os olhos várias vezes. Durante os três dias de acampamento a Princesa Lorena cuidou da Arara e a chamou de Kika. Foi amor à primeira vista. Quando após o cerimonial de bandeira e o debandar, ela foi conversar com sua Chefe se podia levar Kika para a cidade. – Tudo bem Princesa – disse ela. Mas você vai levar para sua casa? – A princesa Lorena pensou que a Arara não era só sua. Todos cuidaram dela e todos mereciam tomar conta. Conversou com a patrulha. As Escoteiras assumiram a responsabilidade de cada dia uma delas ir até a sede e alimentá-la. Assim foi feito. Kika passou a ser mais uma da tropa Kalapalo. Kika adorava. Aprendeu a gritar Sempre Alerta, aprendeu a gritar Melhor possivel e chamar os lobos para o grande uivo.

                   A Princesa Lorena aprendera com sua Chefe Nádia que se você fala com os animais eles falarão com você e vocês conhecerão um ao outro. Se não falar com eles você não os conhecerá, e o que você não conhece você temerá. E aquilo que tememos, destruímos. A vida de Lorena mudou muito depois de Kika. Ela tinha três amores na vida, sua família, sua Chefe e sua patrulha. Um dia sem ninguém esperar um homem adentrou no pátio da sede Escoteira a procura do Chefe do Grupo. Apresentou a ele um papel onde estava escrito: O IBAMA vai recolher a Arara por não ter registro de um criador autorizado. Foi um susto enorme. Tentaram explicar que a Kika foi achada quase morta. Não adiantou. Ninguém acreditava no que estava vendo. A Princesa chorava a mais não poder. Os lobos as Escoteiras e os Escoteiros fizeram um circulo em volta de Kika. - Não vamos deixara gritaram. Os seniores e os pioneiros ameaçaram o Fiscal do IBAMA. A Chefe Nádia acalmou todos. Kika foi levada em um carro e desapareceu na esquina da Rua Mercedes.

                Foi então que a seca tomou conta do sertão. A cidade de Rio da Prata sofria com a falta de chuva. Um mês se passou desde que levaram Kika. Havia uma revolta no ar e foi então que uma revoada de pássaros apareceu sobre a cidade. Não era milhares eram milhões ou mais. O céu ficou escuro. Foi Gualberto da Patrulha Onça Parda quem disse que eles atacavam onde Kika e outros pássaros estavam presos. Arrebentaram tudo. Gaviões enormes, Araras gigantescas, Águias formosas, urubus-reis eram tantos que nem dava para imaginar porque faziam aquilo. Trovões ribombaram no céu. A chuva chegou forte e não deu trégua. O que restava do Centro de Triagem dos animais foi destruído pela enchente do Rio da Prata. Os pássaros presos desapareceram com a revoada dos pássaros. Duas horas depois o céu clareou apesar da chuva fina e intermitente. A patrulha Javali da Princesa Lorena fez uma busca onde Kika vivia prisioneira. Não encontram nenhum pássaro.

                Dois meses  depois, mesmo sabendo que Kika agora vivia solta e junto a outros pássaros como ela, a tropa ainda se mantinha tristonha. Quando o Chefe pediu a Patrulha de serviço para hastear a bandeira ouviram uma voz estridente  - “A bandeira, em saudação!”. Olharam para o alto do mastro e lá estava nada mais nada menos que Kika. Uma algazarra geral. Palmas gritos e então notaram que ao lado da Arara Azul estava um lindo Papagaio Verde e Amarelo. Foi ele quem gritou – “Sempre Alerta”! Escoteirada. Foi à conta, o festival de vivas, sorrisos, bem vindos partiam de todas as sessões presentes naquele grupo. Não demorou muito os pais souberam do retorno de Kika e seu namorado. A sede ficou cheia de gente. Kika desceu até o ombro da Princesa Lorena – Bicou-a de leve em seu nariz. Mexendo com a cabeça Kika falou – Adeus Escoteira, diga adeus a todos. Estou partindo para a Floresta Encantada onde moram os pássaros amigos. Não chore com minha partida, pois irei sempre vir aqui visitar você e esta turma maravilhosa. Logo Kika e o Papagaio Verde e Amarelo subiram aos céus e em um mergulho enorme sobrevoaram a sede do grupo e sumiram com o sol que estava se ponto na Montanha do Quati.


               A lenda conta que todos os anos uma revoada de pássaros se faz presente em Lagoa da Prata. Dizem ainda que se tornou um atrativo turístico. Dizem que agora nesta data os Escoteiros e lobos de outras cidades sempre estão lá acampando e quando a revoada termina milhares de Araras Vermelhas, Verdes e Azuis acorrem nos acampamentos gritando alto para todos os acampadores. – Rataplã do Arrebol! Sempre Alerta! Prometo pela minha honra e muitas outras palavras. Todos sabem que foi Kika quem ensinou. Ela sempre não se esquece da Princesa Lorena, pousada em seu ombro, bica seu nariz e parte voando com seus amigos para o céu azul profundo. Quando conto esta história me lembro de que aprendi com um Velho índio que dizia – Conheça a si próprio. Saiba que ninguém faz seu caminho por você e à estrada é sua somente. Acredite que seus amigos andam ao seu lado, mas ninguém anda por você!

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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