domingo, 14 de junho de 2015

A montanha dos amores perdidos.


Lendas Escoteiras.
A montanha dos amores perdidos.

                  Ele sentia uma dor profunda no coração. Doía demais. Estava enlouquecendo e ninguém podia ajudar. Sabia que se continuasse assim perderia tudo, seu emprego, sua família e seus amigos. Quem ousava aproximar ele gritava, dizia coisas absurdas, renegava a Deus, renegava ao diabo nada para ele servia. Pensou em morrer e até hoje não soube por que não acabou com sua vida. - Meu Deus! O que fizeste comigo? Eu merecia? Nunca fiz mal a ninguém, ajudei a quem precisava fiz tudo para dar apoio a ela no seu amor que ela sentia dentro de si. E você a levou? Com que direito? Nunca tive um amor como foi com ela, a transformei em minha princesa. A amei desde o primeiro dia em que a vi. Deixei amigos, deixei tudo para ficar sempre ao lado dela e você sem mais nem menos tira de mim a única coisa por que valia viver? Ele não se conformava, era uma faca cravada em seu coração que não saia. Sangrava, machucava, agora não chorava mais. Não adiantava. Para que chorar?

                   Ele a conheceu quando em domingo de sol a viu passando com uma turma de guris. Todos sorrindo e cantando. Quando ela olhou para ele com aqueles olhos de mares do sul de um azul profundo, ele viu que era a mulher dos seus sonhos. Seria ela sim que ele daria tudo para fazê-la feliz por toda a vida. Ficou ali estático até vê-la sumir na curva da Praça Real. Não se deu por vencido. Seguiu-a. Encontrou-a brincando com seus meninos de azul da cor de seus olhos. O que ela tinha que as  outras não tinham? Ele não sabia. Sabia sim que o amor explodiu dentro de si e que uma paixão avassaladora tomou conta de todo seu ser. Pensou em entrar naquele pátio e se declarar, mas sabia que  faria papel de bobo. Viu que eram Escoteiros. Ele nunca foi e nunca teve vontade de ser. Esperou pacientemente tudo terminar e ela sair. Não ia perder aquela oportunidade. Quando ela abriu a porta do carro ele chegou e se apresentou. Ela nada disse, sorriu e disse baixinho: - Sou a Clarisse Escoteira.

                  Entrou no carro e partiu. Ele estava a pé, não deu para ter seu telefone e nem saber aonde ia ou onde morava. Esperou com angustia enorme toda a semana passar e a tarde correu até a porta da sede onde se reuniam os Escoteiros. Lá estava ela, com os meninos de azuis a brincar, a cantar e eles a adoravam. Chamavam-na de Akelá. Desta vez ele sabia que não ia deixar a oportunidade passar. Entrou, foi até o circulo e olhando para ela que espantada não entendia o que ele queria, o ouviu dizer: - Clarisse,  eu estou apaixonado por você! Nunca a vi e quando a encontrei nunca mais quero perder você! Quer ser minha namorada? – Os lobos caíram na gargalhada. Uma palma esquisita ele ouviu. Ela sorria e que sorriso. – Moço, podemos conversar mais tarde? – Não moça eu quero sua resposta. Por ela sei se vou viver ou morrer. Clarisse espantada não sabia o que dizer. – Podemos tomar um café juntos quando a reunião terminar? Ela disse.

                 Foi assim que surgiu o maior amor do mundo. Ele a cortejava como um cavalheiro a moda antiga e ela passou a gostar dele também. Sentiu que ele seria sua voz, sua maneira de ser, sua estrela que ela tanto esperou. Casaram-se oito meses depois. Ele não era rico, mas trabalhou com afinco para fazer seu novo lar. Ela enfermeira em um grande hospital da cidade não tinha hora para chegar. Isto não o entristeceu. Fazia o almoço, o jantar, chegou a lavar roupa e passar. Ele jurou a sí mesmo que a faria feliz para sempre. Ela ficou grávida. – Um filho Nestor. Vamos ter um filho! Incrível! Ele ia ser pai! Ele pediu a ela que diminuísse suas atividades nos Escoteiros, mas ela sorria e dizia: - Não me peça isto meu amor, antes de você era tudo que amava. – Ela o convidou tantas vezes a entrar e ficar com ela na mesma Alcateia, mas ele nunca aceitou. Por quê? Ele mesmo não sabia.

                Foi em um sábado triste, chuvoso, que ela lhe disse que iria acampar. – Vem comigo! Você não precisa fazer nada! Ele agradeceu, mas não foi. Clarisse são quase nove meses  para nascer Nestor. Você não pode adiar? Não adiantou. Ela foi. Às duas da manhã foi avisado que ela sofreu um aborto abruto ao cair em uma vala para socorrer um lobinho. Ele gritou de medo. Correu para o hospital. Ela estava morta. Quando alguém morre, ele deixa tudo o que tem e o que poderia ter um dia. Morria ali tudo que ele lutou para ser o homem mais feliz do mundo. Agora sabia que nunca seria. Nestor foi salvo e ele o renegou. Sua vida daí por diante não tinha valor. Chorou quando ela foi colocada em um simples jazigo, chorou quando viu dezenas de meninos Escoteiros cantando dizendo que não era mais que um até logo. Chorou e os maldisse para sempre. Malditos, foram vocês que tiraram Clarisse de mim.

               O tempo passou. Um dia Nestor sorriu para ele. Era o sorriso dela. Ele tentou sorrir também e não conseguiu. Mas foi o primeiro sorriso de uma grande união. Aos poucos ele saia com Nestor, brincava na gangorra, corria com entre flores no jardim do parque para ver seu sorriso com as borboletas que ele espantava a voarem para os céus. Um ano, dois e quando Leonel com sete anos pediu para ser lobinho, seu mundo desabou. De novo? Não posso perder mais um. Não ele disse. Mas dormiu e sonhou com ela. Clarisse sorria para ele e viu ao seu lado Nestor com o uniforme de lobo. No sábado o levou até o grupo. Todos sabiam quem ele era. O trataram desconfiado que ele pudesse desabar e maldizer a todos os culpando pela morte de Clarisse. Ele sentou na escada da biblioteca e viu a alegria estampada em Nestor. Se ele era feliz porque ele também não poderia ser? Conversou com o chefão, entrou, e hoje passou a ter o escotismo em seu coração... Ao lado dela e de Nestor! Nunca esqueceu Clarisse. Hoje ele sabe que o escotismo lhe trouxe de volta seu grande amor e um novo amor a se juntar ao dela!


                        Ah! Poetas, como eles são perfeitos em descrever os grandes amores e as grandes decepções. Dizem eles que só há uma força capaz de tentar matar o amor: a morte – que nos separa das pessoas que amamos. Entretanto, há uma única força capaz de sobreviver à morte é o amor – porque o fato de nos separarmos de quem amamos não nos impede de continuar a amá-los. O amor sobrevive à morte porque continuamos amando a pessoa que morreu. E, no nosso amor, ela continua a viver para sempre. Que Deus nos ajude a honrarmos a sua memória.

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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