quinta-feira, 25 de junho de 2015

O melhor Chefe Escoteiro do mundo.


Conversa ao pé do fogo.
O melhor Chefe Escoteiro do mundo.

                              Chefe! Oh Chefe! Galo não tem dente! Eu falava e morria de rir. – Aquele tinha e olhe uma dentadura de fazer inveja. Dentes enormes. Eu ria todos nós riamos. Alí na beira do Riacho Grande nos encantávamos com as historias do Chefe Joe. Na cidade o chamavam de Comandante. Todos o respeitavam muito. Meu pai disse que ele foi piloto da F.E.B (Força Expedicionária Brasileira) e pilotava um P.51 – Mustang. Meu pai dizia que ele tinha muitas histórias para contar das esquadrilhas e ele ria quando diziam para ele – “Senta a Pua”. Ele sabia que isso significava que o piloto tinha coragem e que na hora da disputa aceleravam o avião o mais rápido possível. Tudo mudou depois que ele chegou. A tropa pequena, muitos escoteiros saindo, o nosso Chefe de grupo não sabia o que fazer. Chefe Nelson não quis mais ficar e não tínhamos ninguém. Nem sei como convidaram o Chefe Joe. Ele já estava entrando nos seus cinquenta anos. Loiro, alto e magro, cara lisa sem bigodes, cabelos embranquecendo, andava meio curvado apesar de ainda ser bastante esperto.

                                Naquela noite de verão a nossa Patrulha de Monitores estava acampada ha dois dias as margens do Riacho Grande. Cada dia mais nos divertíamos. O Chefe Joe tinha tudo para nos atrair. Ele era demais. Isto não existia antes. No grupo o Doutor Mamede o Chefe do Grupo estava preocupado. O Chefe Joe deu férias para todos os escoteiros, ou melhor seis deles pois ficou com oito. Dizia que sem bons Monitores e subs não podia haver uma tropa escoteira. – Em três meses chamo todos eles, prometeu! Eu estava lá, não era Monitor nem sub, mas fui escolhido. Adorava o Chefe Joe. Chegava a sonhar com ele. Mudou tudo na tropa. Pouco ficávamos na sede. Era excursão, jornadas, bivaques e acampamentos. Cada um mais gostoso que o outro. Aprendemos com ele cada técnica mateira que nunca sonhávamos. A arte do uso do cipó foi por nós absorvida a ponto de abandonarmos inteiramente o sisal.

                               Passava das dez da noite. Uma brisa gostosa e uma pequena fogueira fora acesa. Um céu estrelado, cometas cruzando o espaço. Mas nossos olhos estavam fixos no Chefe Joe. – Continuando ele disse - Ventania tinha dentes, tinha mesmo. Podem acreditar. Ele me olhou e eu olhei para ele. Precisava dos ovos e ele era o dono do galinheiro. Ficamos encarando um ao outro. Caminhei até o primeiro ninho e ele me deu uma mordida na perna e uma esporada no braço com sua perna direita. Sua espora era enorme – Olhei para ele e disse - Quer briga? Vais ver com quem está se metendo! Sou um Comandante! Estive na guerra! Um galinho de nada me desafiando? Levantei os dois braços, preparei para lhe um soco e ele de novo me deu outra esporada. A galinhada no galinheiro fazia uma anarquia danada. Galo maldito! Josenilton devia saber aonde ia me meter. Ele era o dono do galinheiro. Comprei duas dúzias de ovos e ele disse estar com pressa – Vá lá ao galinheiro. Tem muitos ovos. É só pegar.

                              A Patrulha rolava de rir. Precisavam ver como o Chefe Joe contava a história. Sempre fora assim. Durante o dia em um jogo ele fantasiava de tal maneira que a gente se achava mocinho, polícia, soldado, índio, ou seja lá o que for. Nossos acampamentos eram demais. Ele para nos adestrar a cada atividade trocava o sub. Monitor, dizia que ele era o Monitor dos Monitores. O sub precisava aprender a liderar. Quando foi minha vez tremi. Um medo enorme. Mas achei que me dei bem. Nas Conversas ao Pé do Fogo ele balançava a cabeça ficava em pé como se estivesse bêbado e dizia: - Tenho que liderar, tenho que liderar. Meu corpo depende de mim! Em pé! Firme! Então ele ficava ereto e andava em linha reta indo e voltando. – A gente não entendia mas aos poucos seus exemplos e explanações nos  fizeram aprender a liderar com amor, com respeito e um belo dia ele disse:

                          - O Dia chegou. Vocês estão preparados. Mandei chamar os meninos que dei licença. Não voltarão todos, mas acreditem em pouco tempo as patrulhas estarão completas. Agora se vocês fizerem com eles o que fiz com vocês teremos em breve quatro patrulhas das melhores que existem. Dito e feito. Agora era outra reunião, outra motivação. Claro que não era só nós os responsáveis. Afinal o Chefe Joe era único. Ele sabia como dirigir a tropa. Só que ele dizia que não dirigia, nós os Monitores sim. Ele acompanhava e orientava. – Mas Chefe! E o Senhor, conseguiu ou não os ovos no Galinheiro do Josenilton? – Ele ria, seu sorriso era contagiante. – Achei melhor deixar os ovos lá. Se o Ventania defendia com tanto vigor seu lar não seria eu quem iria obrigá-lo a fazer o que não queria. Quando sai do galinheiro, ele se reuniu com outros galos, chamou as galinhas e deram uma tremenda vaia em mim! Kkkkkkk!

                - Isto é mesmo verdade Chefe? – Claro ele dizia, quando voltei no galinheiro outro dia com o Josenildo ele se posicionou para briga. Eu não entrei. Não ia de novo brigar por uns ovos. Josenildo me trouxe três dúzias e um pintinho. – Como recordação Comandante. Se tiver um lugar pode criar sem susto. É filho do Ventania. E não é que era verdade? Com dois meses os dentes começaram a nascer.  Vendaval mora comigo até hoje. É meu amigo, meu companheiro e toma conta de minha casa como ninguém! – Pensei em pedir a ele para conhecer o galinho Vendaval, mas achei melhor que não. Ele ia se sentir insultado pela dúvida. Durante cinco meses a tropa cresceu, já estávamos com quatro patrulhas completa. Ninguém faltava.

                  Uma tarde de verão Chefe Joe chegou à sede. Abriu o porta mala do seu carro, fez uma saudação Escoteira. Ninguém entendia, saltou de lá um galinho. Cheio de dentes. Era o Vendaval. Tal pai tal filho. Ninguém podia se aproximar. Mas nós rimos a valer. O livro de Atas da Corte e de todas as patrulhas ficou cheio com os relatos dos escribas. – Olhava para o céu. Um cometa passou brilhando deixando um rastro de pedras preciosas. Estávamos todos em silêncio. Até o Chefe Joe agora estava calado. Ele também vidrado no céu brilhante. Pensei comigo se ele voltava ao passado, pilotando seu Mustang nas lutas infernais que participou no céu. Ele falava baixinho: - O Laranja dos foguetes zumbindo no ar, a cor purpura explodindo em um céu que iluminava e a gente tentando escapar com seu paraquedas. Seu avião uma bola e fogo a cair em meio da metralha da noite.

                         Lembro que em uma noite, estamos todos na porta de sua barraca, Ele prazerosamente fez para nós, bancos baixos e nunca ficávamos sem um café na brasa um biscoito uma bala de hortelã. Nesta noite ele olhava para o céu estrelado e nos disse pensativo, voz baixa, olhos fixos no céu: – Sabem, quando precisarem compreender melhor uma situação, um problema, é preciso ver as coisas com certo distanciamento. Se tiverem aborrecimento, injustiças, desgostos, sonhem que estão em um Mustang, subam com seu avião às alturas e olhem lá embaixo as pessoas. Tão minúsculas. Pequeninas e nós somos tão grandes! Porque nos preocuparmos com pequenas coisas? Eu fazia isto e olhe, meu equilíbrio emocional voltava e a raiva desaparecia. Eu nunca tinha visto um Mustang. Eu forjava um na minha mente. Mas era um Teco-Teco o único que conhecia. Mas me sentia um verdadeiro piloto. Ria de mim mesmo ao me chamar de Comandante!


                   Deus sabe e o que faz. Trouxe-nos o melhor Chefe do mundo A Patrulha de Monitores sempre está em ação. Gosto disto. Adoro ser Escoteiro e ter um Chefe como o meu Comandante me faz vibrar e me orgulhar do nosso querido movimento. E quer saber mesmo? Amo de montão o meu Comandante. O meu querido Chefe Joe.

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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