sábado, 27 de junho de 2015

Quinzinho, um amigo de verdade.


Conversa ao pé do fogo.
Quinzinho, um amigo de verdade.

                           - Eu juro palavra de Escoteiro que não fui eu! – Mas você estava lá, disse que não podia ir conosco, pois estava com o pé doendo, se ofereceu para tomar conta do campo na nossa ausência. Nós confiamos em você e agora disse que dormiu? – Tico, por favor, eu dormi um soninho de nada! – Tico olhou para os outros Monitores e para o Chefe Darli. Ele mesmo como presidente da Corte de Honra não sabia que atitude tomar. Estavam em reunião da Corte há mais de uma hora. Marlon sempre foi um bom Escoteiro. Mais de dois anos na tropa, mas por duas vezes em um acampamento na fazenda do Seu Jorginho alguém entrou no acampamento e roubou todos os víveres. Tiveram de voltar. Na primeira vez Marlon deu a mesma desculpa, mas duas vezes é demais. – Espere lá fora Marlon. Vamos deixar a Corte de Honra decidir. Chefe Darli não dizia nada. Deixava que os Monitores tomassem as decisões a não ser quando ele via que alguém poderia ser prejudicado o que não era o caso.

                              Meia hora depois Marlon foi chamado. – Foi Tico quem deu a sentença – Marlon, infelizmente você foi suspenso por trinta dias. Achamos que não foi você quem tirou os mantimentos, mas alguém foi e por sua culpa. A tropa Escoteira ficou desolada. Acharam que Marlon não merecia a suspensão. Mas o Chefe Darli explicou que cada um de nós tem que assumir nossas responsabilidades e se algum acontecer não podemos fugir as nossas  culpas. Todos ficaram pensando, quem poderia ser o culpado? Quem tirou os mantimentos? – Metido a detetive, Jairo dizia que iria investigar. Naquela época começaram a pipocar nas bancas livros de bolso e ele um leitor inveterado achou que tinha por obrigação de descobrir. Primeiro – Os roubos foram todos na Fazenda do Seu Jorginho. Segundo -  Marlon acampou em outros lugares e nada aconteceu. Terceiro - O local era longe da fazenda e impossível alguém de lá ir ao campo para isto. Quarto, melhor ir lá acampar e ver. Dito e feito. Mochila nas costas e lá foi Jairo e o Gentil. Foram em uma sexta a noite de bicicletas para voltar no sábado seguinte.

                            Jairo e Gentil combinaram tudo que deviam fazer. Barraca armada, intendência pronta, toldos nos lugares e o Gentil partiu como se fosse fazer uma jornada de Primeira Classe. Jairo ficou encostado em uma seringueira a dormitar. Ou seja, fingia dormitar. Caramba! E não é que ele dormiu mesmo? Acordou com um barulho na intendência. As linguiças, a farinha, meia dúzia de bananas, quatro laranjas, feijão cozido (levaram de casa) tinham desaparecido. Gentil não deu trégua. - O detetive de araque dormiu? - Fazer o que. Em volta da intendência nenhuma pista. Procuraram até o bosque e nada. Voltaram para a cidade. Na semana seguinte eles estavam de volta. Não eram seniores desistentes. Começou? Tem de terminar. À tarde, sonolenta Jairo (fingindo) foi deitar na sombra da seringueira. E foi então que avistou o famigerado ladrão de comida. Desta vez ele não ia escapar. Atrás do bosque ele veio de mansinho, cabeça baixa, levantando e abaixando como se estivesse cansado. Nada mais nada menos que um Macaquinho carvoeiro. Um pobre coitado, magro pelagem caindo e um olhar triste, pois só andava de cabeça baixa.

                            Não caminhava em linha reta. Parecia não ver o caminho ou como se estivesse com sono. Entrou na intendência e Jairo atrás. Pegou-o pelo rabo. Guinchou alto. Um berreiro tremendo, tentou correr e se soltou da sua mão. Correu a esmo e bateu a cabeça em uma árvore na entrada do bosque. Porque não subiu em uma árvore? Jairo pensou. Ele ficou grogue. Levou-o no colo até ao acampamento. Gentil chegou e deu belas risadas do ladrão de comida. – Melhor soltá-lo, veja – disse – está sozinho e seu bando? Realmente ele estava só. Nessa hora acordou. Levantou e viram em seus olhos manchados de vermelho que ele não olhava para ninguém. Só para os lados se virando sem parar. – Cego! Isto mesmo. O macaquinho era cego. Abandonado pelos seus. No bando se não podia se virar não podia ficar.

                            Resolveram ajudar. O levaram para casa. Foi sem reclamar. Dócil muito dócil. Havia uma seringueira enorme no quintal da casa de Jairo. Ele adorou. Todos os dias Jairo dava para ele um pouco de arroz e feijão cozidos, bananas e laranjas. Ele adorava. No sábado na reunião comunicaram ao Chefe Darli quem era o ladrão. Ele sorriu – Olhe Jairo, eu sabia que o Marlon não tinha roubado comida. Isto não. Mas ele foi negligente. Isto um dia poderia prejudicar muitas pessoas. Melhor ele aprender agora a ser responsável com suas obrigações. Jairo e Gentil concordaram com o Chefe. Levaram Quinzinho (novo nome que Jairo e o Gentil colocaram nele) o macaquinho para a sede. Os seniores construíram um ninho de águia para ele em duas mangueiras que existiam lá. Paradoxo, um macaco em um ninho de águia. Todos se revezaram levando comida para ele. Precisavam o ver nas reuniões, pulava, guinchava, gruía e fazia mil piruetas. Mesmo cego sabia que tinha amigos protetores. O seu bando o deixou e o bando dos escoteiros o adotou.

                        Aprendeu de tudo. Ensinaram-no a fazer a saudação. Vinham pessoas da cidade só para o ver fazendo a saudação, marchar, pular nos gritos de Patrulha. Ele conquistou um amigo, o maior amigo que já teve. Nada mais nada menos que Marlon. Sei que no Grupo Escoteiro ele ficou até morrer quinze anos depois. Nunca voltou a enxergar, mas agora sabia que seriam seus amigos. Estava em casa. Vivia feliz. Tinha uma nova família. Jairo ficou pouco tempo no Grupo Escoteiro. Seu pai doente foi para a capital e ele fui também. Mas sempre recebia uma carta, um telegrama falando de Quinzinho. Na capital ficou sabendo que ele não perdia um acampamento ou atividade extra sede. Ele acreditava que agora todos que o conheceram nunca o esqueceram. Jairo acreditava que Quinzinho ficou gravado no coração de todos os escoteiros que o conheceram.


                       Ops! Ultima notícia. Marlon juntou dinheiro, muito na época e comprou uma macaquinha fêmea que dizem jurou fidelidade para sempre a Juquinha. Que os digam o Prince, Caledônio, Naninha e a própria esposa Juquita, quatro macacos carvoeiros que pelas noticias que Jairo recebe estão morando na sede até hoje!     

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

Bem vindo ao Blog As mais lindas historias escoteiras. Centenas delas, histórias, contos lendas que você ainda não conhecia....