A história de
uma flor.
Apenas uma
flor... Sem nome.
Prefácio: “Escoteiro
Escoteira! Saiam da sede, vão para
o campo, aproveitem o sol e tudo o que a natureza tem para oferecer. Tentem capturar
a felicidade que há dentro dos escoteiros. Pense na beleza que existe em tudo
ao seu redor, e sejam felizes. A beleza continua a existir mesmo no infortúnio.
Se procurá-la, descobrirá cada vez mais felicidade, e recuperará o equilíbrio.
Uma pessoa feliz tornará as outras felizes; uma pessoa com coragem e fé nunca morrerá
na desgraça”.
Um acampamento volante. A pé,
coisa de dezoito quilômetros. Devagar sem correr. Apreciando cada passo, cada
nuvem no horizonte. Sentir e ouvir o chilrear dos pássaros voando no ar. O
prazo foi calculado, três paradas três noites. A patrulha sorria na estrada.
Estradinha linda gramada. Desconhecida. Nunca passamos ali. Não era nosso
primeiro houve outros. Alguns assim e assim e outros menos ou mais ou menos
assim. Coisas de aventureiros, de uma turma de escoteiros que só querem
descobrir onde o sol se escondeu o horizonte.
O rumo foi calculado, passo duplo
bem armado, se preciso um passo Escoteiro, pois todos são bem mateiros. Um
riacho cantante ao lado, coisa já bem calculada, sempre um riacho a acompanhar
para a sede matar. As horas iam passando, uma curva aqui, uma subida ali, e
então avistamos um local para acampar. Era coisa de minutos para armar barraca,
um fogo estrela ou um fogão tropeiro.
Nas costas do intendente um
caldeirão médio, nas costas do aguadeiro uma frigideira e nas costas do
cozinheiro uma panela com alça. Dava para o gasto. O cardápio de um Chief
francês a gosto do freguês. - Arroz, batata e macarrão, quem sabe uns pedaços
de linguiça para adoçar o paladar eram levados em pequenas porções nas mochilas
de cada um. Diziam ser a famosa lista de comes e bebes chamada de Ração B.
O Monitor e o sub levavam em
pequenos vidros de pimenta jazia lá dentro gordura de porco, outro com sal e
distribuído com os demais uma faca de cozinha, um facão mateiro, uma concha e
uma espumadeira pequena. Precisava de mais? Um sorriso, um cantar, alguém grita
para parar. Os sete valentes escoteiros sabiam o que iam fazer. Três nas duas
barracas de duas lonas, dois na cozinha e dois no serviço de exploração.
Descobrir novas guloseimas que sempre existiam espalhadas na mata próxima. Os
da barraca terminando iam jogar uma linhada, quem sabe uma traíra ou um bagre
para o jantar.
Os pés doíam da caminhada.
Melhor jogar para cima as pernas cansadas e deixar o sangue circular. Primeira
noite. Não houve fogo, não houve contos, não houve causos. Estavam exaustos e precisavam dormir. Acordaram
cedo. O sono se foi, a porta da barraca foi aberta e o sol brigava com a noite na
montanha distante para aparecer. Como disse o poeta esta é a hora, cada dia que
nasce é um novo amanhecer. Um escoteiro olhou para uma árvore próxima. Pensou:
- Ver o mundo como um grão de areia, ver o céu como um campo florido, guardar o
infinito na palma da mão, e a eternidade em uma hora de vida.
Alguns saíram da barraca ainda
descalço. Separadamente esticaram os braços e as pernas, levantando o corpo
para um longo e gostoso espreguiçar. Nas narinas sentiram o bafejar do orvalho
da manhã, o movimento febril dos insetos da madrugada, o bailar dos pardais
anunciando um novo dia. Desentorpecer o corpo é bom demais. Hora de vestir o
uniforme, colocar a botina. Um deles olhou estupefato:
- Incrível! Debaixo do
Jequitibá uma flor. Nossa mãe! Que flor linda! Fascinante! Ficou olhando não
acreditando no que via. Não era grande e nem pequena, apenas uma flor segura
por um pequeno ramo que ia se esconder na terra molhada do orvalho da manhã.
Era grená? Ou então cor vinho com verde e azul? À medida que o sol nascia ela
se transformava. Dizem que nunca houve uma noite, ou um problema que pudesse
derrotar o nascer do sol ou a esperança.
Alguns sentaram em sua frente, seus
olhos vidrados a olhar a flor sem nome. Estavam fascinados. Gostavam de flores
amavam as flores e o seu perfume, a sua maneira singela de aparecer para a
gente assim tão linda e formosa. O sol espantou a lua, as estrelas
desapareceram no céu. Um comentou que ouviu falar que os jovens têm a memoria
curta, e os olhos para apenas o nascer do sol. Para o poente olham apenas os
velhos, aqueles que viram o ocaso tantas vezes. Os demais patrulheiros
apareceram na porta da barraca. O sol quente se mostrou na lona levantada onde
agora nossas bugigangas estavam a secar.
Alguns que chegaram agora
não viram a flor. O aguadeiro não sabia por quê. Ele amava todas elas,
vermelhas, rosas, azuis e formosas. Foi alvissareiro ajudar a patrulha e
olhando sempre seu novo amor. Quem tenta possuir uma flor verá sua beleza
murchando. Mas quem apenas olhar uma flor no campo permanecerá para sempre com
ela. Ele sabia que ela nunca seria dele, mas no seu coração a teria para
sempre. Um café, um pequeno biscoito do intendente, campo limpo e a partida.
Pediu licença ao Monitor e foi pela
última vez olhar sua flor, seu novo amor que sabia nunca mais iria ver. Partiram
e alguém começou a cantar o Rataplã. Os demais acompanharam. Viram que a
estrada era longe demais. Mais um dia outra parada, no longínquo céu azul
acompanhando o vento que os levava aonde o sol iria se por. Vida de Escoteiro,
sempre alegre a marchar, aonde vão? Onde vão parar novamente? Ah! O aguadeiro
pensou que na próxima parada iria plantar uma flor. Serão sementes de amor. E
quando voltasse ali um dia iria colher os frutos da felicidade.
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