Lendas
Escoteiras.
Apenas um
adeus... E nada mais!
Prefácio: - Em uma batalha quando o inimigo recua,
não quer dizer que você vai vencer, às vezes é necessário recuar para
surpreender.
O Chefe Bryan pediu a
palavra e se dirigiu ao centro onde se realizava o Cerimonial de Bandeira. As
tropas e alcateias se perfilaram. Os Pioneiros em posição de sentido. Ninguém sabia
o que ele ia dizer. Laredo Monitor da Onça Parda era o seu monitor mais fiel.
Tavinho monitor da Quati tinha nele o seu herói. Assim pensava também João
Vitor o Monitor da Pica Pau e João Gabriel da Arara Azul. Queira ou não a Tropa
o amava. Se ele fizesse um sinal todos acorreriam ao seu redor e bastava um
palavra para eles sorrirem a seu chefe que eles amavam quem sabe mais que
muitos familiares. – Meus caros irmãos escoteiros, escoteiras, chefes e pais
aqui presente. É com pesar que eu estou comunicando meu desligamento do Grupo
Escoteiro! Sei que é surpresa para muitos, mas estou indo para a Capital do
estado, pois somente lá poderei pensar em continuar minha obra aqui na terra.
Um silêncio profundo, um oh
surgido em muitos olhares e lábios que queriam pronunciar muito mais. Ninguém
sabia o que dizer. Qualquer comentário jamais poderia traduzir o sentimento que
se apossou de todos. Somente a espiritualidade conseguiria explicar aqueles
momentos em que um ser humano torna-se capaz de amealhar lágrimas de uma
multidão de jovens que não sabiam o que dizer. Chefe Bryan sorriu. Ele não
queria pensar que se seus olhos mostrassem a sua alma, todos ao verem-no
sorrir, chorariam com ele. Ele sabia que uma despedida, uma inquietude, uma
saudade é uma longa espera de um retorno impossível. Ele ficou em posição de
sentido. Tentava segurar as lágrimas que caiam em profusão. – Eu voltarei ele
disse e saiu sem nada mais dizer aqueles que fizeram dele um homem feliz.
Mesmo que o Chefe Nonô
tentasse manter todos formados foi impossível. Um choro convulsivo tomou conta
de muitos que pensavam não saber viver sem ele. O zunzum corria de boca em
boca. Todos tinham ouvido falar que o Chefe Bryan estava com uma doença mortal.
Ninguém sabia qual era. Muitos sabiam que ele iria partir e a dor de o ver
assim fez com que o Grupo Escoteiro não mais acreditasse em um final feliz. No
acampamento em Verdes Mares os monitores viram com ele tentava ser o chefe de
sempre... Mas não era. Na ronda muitos o virão pelas madrugadas a girar em
locais inacessíveis e até mesmo na Mata do Condor. Na jornada a Pedra Bonita
ele tentou escalar e não conseguiu. Ele calado fazia tudo para que seus
escoteiros aprendessem tudo que um dia ele aprendeu da saga de Baden-Powell.
Ninguém o viu partir naquela
tarde de quinta feira. Percival o Maquinista do Trem das cinco foi quem deu
notícia. – Ele desmaiou no vagão especial que o levamos e tivemos que deixá-lo
no hospital de Monte Verde. Soube que uma ambulância o levou até a capital.
Qual hospital nunca soube... A tropa jurou fidelidade. Ninguém iria sair.
Ninguém iria mais chorar. Se ele deixou a todos palavras de força,
solidariedade e vontade de vencer, ele seria assim lembrado para sempre. Chefe Daniel
seu assistente queria seguir o chefe. Não era fácil. Mas os monitores o
ajudavam. Até mesmo o ensinaram como fazer muitos programas de atividades
aventureiras. O Chefe Nonô um baluarte na liderança do Grupo, já entrando nos
seus 80 anos lá estava sempre presente.
As escolas cheias faziam os
alunos calados a tentarem terminar a última redação do dia. Valia para a prova
final. Um burburinho começou a correr de sala em sala. Ninguém prestou mais
atenção a sua fase estudantil. Laredo entrou correndo e gritando: - Escoteiros!
– O chefe Bryan chegou no trem das onze! Está de uniforme! Dizem que seu
sorriso é aquele quando nos levou ao Pico da Felicidade. – Foi uma correria. As
professoras sabiam que seria impossível segurá-los. A rua foi tomada por uma
horda de meninos que gritando diziam a todos: - O Chefe Bryan voltou! O
encontraram em frente à Prefeitura e formaram em linha. Ele sorrindo
cumprimentou um por um. As escoteiras, os lobinhos, os seniores e pioneiros
batiam palmas.
O Chefe Bryan sorria, mas as lágrimas
não paravam de cair. Conseguiu vencer um câncer que tentou matá-lo por muitos
anos. Como ele não sabia. O Doutor Rosalto disse para ele: - Agradeça Bryan
primeiro a Deus. Agradeça também a este corpo médico que tudo fez por você. E
olhe agradeça a sua garra, ao seu espirito escoteiro que nunca o deixou
desistir! – O Chefe Bryan queria cantar, queria gritar com as patrulhas os
gritos de outrora. Um nó na garganta não deixava ele dizer nada. Seu coração
batia sem parar. Ele abraçado pelos meninos falou baixinho como a rezar a Deus:
- Permita Senhor que o pássaro voe. Permita que a chuva caia. Permita que o sol
brilhe e que o tempo cure minha dor de uma partida que acreditei não ter volta!
Chefe Bryan fechou os olhos e pensou: - A vida é uma longa despedida de tudo
aquilo que a gente ama. Mas quem acredita sabe que não é mais que um até logo!
Por
um instante sentiu aquele nó na garganta sufocá-lo, a ponto de encharcar seus
olhos. Sorriu disfarçadamente como quem dissesse: "Vai passar". Levou
a mão até o rosto para limpar as lágrimas no canto dos olhos, controlando-se
imensamente. Olhou para o céu, olhou para seus escoteiros e gritou como há
muito tempo não gritava: - Eu voltei!
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