Contos de Fogo de Conselho.
Um milagre chamado Amizade!
Prefácio: - Há um milagre
chamado “Amizade”. Você não sabe como ela aconteceu ou quando começou, mas você
sabe a alegria que ela traz e percebe que a “Amizade” é um dos dons mais
preciosos que o ser humano possui.
Nunca esqueço aquele mês
de maio de 1961. Desci do Trem na Estação Intendente Câmara pela manhã, o burburinho
de gente indo para todo lado, vendedores de doces, salgados e um pastel de
carne me chamou a atenção. Quanto? – Dois reais. Leve três e pague dois! Estava
com fome, meu dinheiro era pouco, mas não sabia o que ia passar naquele dia.
Sentei em um banco de madeira e rememorando meu passado comi os pasteis devagar
saboreando cada pedaço.
Do Outro lado da linha, o bulício
da Usina, arfante na sua montagem com um futuro promissor. A estação esvaziou. O Chefe da Estação me
informou onde ficava o Escritório Central da Usina. Eu era um novo contratado
da Usina Siderúrgica de Minas Gerais. Desempregado há mais de um ano precisava
trabalhar. Deixei minha vida de vendedor de livros em Belo Horizonte e a
procura de novos horizontes ali estava sentado em um banco comendo pastel...
Atrás da estação uma
estrada, nua, esburacada, empoeirada... Nada dos prédios suntuosos da usina, só
vi ao longe uma espécie de armazém de madeira, enorme com uma fila de homens
também enorme dando volta em matos espigados e lá fui eu, pisando na terra
seca, vento soprando poeira no ar sem saber o que seria o meu futuro dali a
alguns anos. Fichado, pés nos costados, agora era achar meu alojamento e no dia
seguinte me apresentar ao gerente no Alto Forno número um! Uma saga que um
livro inteiro não daria para contar!
Aprender... Conhecer...
Tentar fazer amigos e compreender minha nova função de programador de alto
forno. Eu programador? Era um mero anotador de horários, vendo o gusa liquido
cair em uma panela espécie de vagão e depois ligar para a Aciaria e perguntar
se chegou... Escoteiro? Você? Já ouvi falar... Era Raimundo, estava ali há seis
meses. Foi meu mentor, meu mestre, meu Monitor. – Vado, você precisa conhecer o
Carlos só fala escotismo e é um amigo onde moro e durmo na Candangolãndia!
Carlos, meu amigo, meu novo irmão escoteiro. Ficamos inseparáveis...
Dois jovens meninos escoteiros metido a homens passando horas e horas contando
suas nuances, seus percalços, suas idas e vindas em serras distantes, seus
amigos de Patrulha que ficaram para trás... Fomos morar em uma pensão, em Melo
Vianna, na época distrito de Cel. Fabriciano. Precisávamos fazer escotismo, ele
escoteiro Lis de Ouro e eu um mero Primeira Classe...
Pelas
nossas mãos surgiu o Grupo Escoteiro Tapajós, ele Chefe de Lobos, eu de Escoteiros.
Um salto no tempo, Grupo Grande, chefia coesa, Padre no meio abençoando, eu
olhava para ele, ele para mim... Vado... Ele dizia... Conseguimos. Cantávamos junto
à canção do grupo: “Eu sou um bom escoteiro, ouçam bem a minha voz, vivo alegre
o dia inteiro... Pois pertenço ao Tapajós”!
Juntou-se
a nós o Zé Pedro, o Zé Pontes... O Venâncio, o Odair, cursados escoteiramente na
capital, fazendo escotismo naquele pedaço de chão. Amigos... Tempos passaram
amizade aumentando, casei, veio à revolução de 64. Pego desprevenido na capital
aproveitando uma folga. Soldado prá todo lado. Sem ônibus, sem trem, sem nada
para voltar. Um dois três dias e voltei. Chico Mulato motorista de Taxi: -
Vado! Cuidado a policia está atrás de você, levaram o Carlos para o DOPS na
capital!
Padre Júlio com os olhos vermelhos contou: - Disseram que ensinamos aos
meninos comunismo. Lenço Vermelho e Branco. Não pode! Quem disse? – Vado, acho
que foi o Lourenço, Juiz de Paz! Uma semana, duas o Carlos voltou. Cabeça
baixa, acabrunhado, revoltado. – Vado! Olhe o que fizeram comigo! – Arrancaram-me
duas unhas de cada mão com alicate! Colocaram-me pendurado de cabeça para
baixo, fizeram o “diabo”... Deus do céu! Revolução? Alcaguete, dedo duro,
destruiu uma vida de sonhos...
Fui
demitido da Usina. Carlos voltou para Juiz de Fora sua terra natal. Uma semana
depois morreu dirigindo seu Karmann Ghia com uma carreta passando por cima do
seu carro que comprou com tanto sacrifício. Hã... Vida
que te quero viva, vida que vivo todo dia... Talvez um dia... Vida
que vivo a minha;
Histórias
para cantar, Grupos Escoteiros que rodei acampamentos que viajei terras que
conquistei sem ser um desbravador! Amigos tantos amigos que ficaram na história
de um Velho Chefe Escoteiro que nunca os esqueceu! E o Velho Primeira Classe
perdeu sem amigo Lis de Ouro dos belos tempos de outrora!
Ah! Quantas histórias. Quantas
lembranças. Umas ficam marcadas e a gente quando lembra a saudade bate fundo e
os olhos ficam molhados como a lembrar de um passado que valeu. Escotismo é
assim, traz amigos que entram em nosso coração e ali ficam para sempre!
Apenas um relato de um fato de
uma lembrança que a gente não quer esquecer. Não é uma história, é apenas um
relato de dois amigos que se conheceram, viveram por alguns anos juntos e o
destino os separou. Três anos e meio e a amizade parece que veio da eternidade.
A vida é assim, uns vão e outros ficam, mas o destino tem um final que ninguém
conhece, mas sabe que vai acontecer!
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