Crônicas de
um Velho Chefe Escoteiro.
“A ronda”
Prefácio: Outro dia me lembrei dos
meus tempos de noviço, quando fiz a primeira ronda da minha vida. Foram tantas e
algumas incríveis. Porque não escrever sobre elas? Não tem um antigo escoteiro
ou mesmo um escoteiro ou um sênior que fez sua ronda que não tem histórias para
contar. Como dizia BP, são caminhos para o sucesso na luta pela vida. Felizes
aqueles que puderam escoteirar sem impedimentos e sem normas feitas por quem
não as viveu.
O tempo passou, o sol apareceu
milhares de vezes como se estivesse dormindo e acordando por centenas de anos.
A lua chegou vaidosa e também se foi retornando meses depois. Estrelas?
Milhares delas. Olho de soslaio uma Patrulha naquele Vale do Rio Corrente, noite
alta, uma pequena fogueira um escoteiro de longe parecendo astuto, mas de perto
se pode ver o medo que aflora. Ele faz a sua ronda. Sua primeira. Seu turno
determinado em Conselho de Patrulha ou pelo Monitor. Sabe que ao terminar irá
acordar outro escoteiro para continuar... Ele não sabe, mas este seu dia ficará
marcado para sempre.
Muitos dos antigos escoteiros
fizeram. Sei que tem algumas tropas nos dias de hoje que ainda fazem. Qual seu
valor? Ora, ora são tantos! Velar pelos companheiros, aprender com o silêncio
da noite, treinar responsabilidade, cultivando atitudes e valores, aprender a
viver com suas próprias pernas... Tem mais? Deve ter sim. Quem ainda não sonhou
em participar de uma ronda? Dizem os chefes aventureiros que a Ronda é uma
atividade de Vigilância desenvolvida pelos jovens, por turnos durante os
acampamentos. Verdade?
Muitos chefes fazem questão.
Eles aprenderam que deve ser mantida uma vigilância no período que estiver
acampando principalmente à noite. Ela serve para prevenir invasão de intrusos,
de animais e até mesmo alertar para uma noite chuvosa. Alguns chamam de Ronda,
outros de Vigia e alguns mais de Sentinela ou Guarda. Comentam por aí que isto
não deve acontecer. Os perigos de marginais, de deixar um jovem ou dois
sozinhos se responsabilizando, isto poderia ir de encontro ao ECA (Eca!) e
acidentes graves podem acontecer.
Eu tenho outra maneira de
pensar. Se o local foi bem escolhido, se os perigos são reconhecidos porque não
deixar o jovem realizar uma ronda? Afinal ele não sonha com isto quando vai
acampar? Pais e mães fazendo isto? Isto é escotismo para os jovens ou para os
pais? Quando os jovens irão aprender a lutar pela vida, a enfrentar seus
percalços? E quando a mamãe e o papai não estiverem por perto? O que ele deve
fazer? Chorar pedindo a mamãe?
Sei que os sonhos existem. Um
Chefe me disse que os jovens de hoje não tem mais esta maneira de pensar. Eles
não têm mais sonhos filosóficos, aventureiros e quando falo da natureza ele
responde: - Chefe, os sonhos de hoje são outros... Se isto for verdade, então o
escotismo acabou! Eu penso o contrário. Se você não der a isca para pescar ele
vai pescar o que? Prevenir sim, proibir não. O Escotismo Badeniano é feito ao
ar livre. Fugir dele é ser outra organização e não escotismo.
E olhe, como é bom sentar em
volta de uma fogueira, ouvir seus jovens contar histórias de acampamentos e a
ronda aparece em primeiro lugar. Juca Pato um Chefe do Interior me disse que
levava sempre com ele para o campo uma Parabellum de seis tiros. Deixava com o
escoteiro de ronda e ia dormir tranquilo. Risos. Não aconselho. Um bastão é
imprescindível e um facão deste que o escoteiro saiba usar e foi treinado. As
histórias de quem fez ronda surge e cada uma é melhor que a outra. É uma
delicia ouvir os contos dos meninos escoteiros.
Existem normas eu sei. Mas
sonhos ninguém os vende e não fabrica. Eles não tem normas. Sei que se vender o
peixe pescado ele nunca mais vai esquecer. O sonho aventureiro, a mística do
herói da floresta, os contos ouvidos e que a maioria quer fazer tenho certeza
que ainda existem. Acampamentos é sinônimo de escotismo Badeniano, é sinônimo
de motivação, é sinônimo de aprender fazendo. Esqueçam as palestras, as normas
(no bom sentido) e dêem a eles o que eles querem e sonham.
É... Só de falar em rondas
minha mente parte célere para o passado. São tantas aventuras vividas, são
tantas rondas divertidas, são centenas de “causos” para lembrar. O medo? Ficou
perdido lá atrás, na minha primeira ronda só a Patrulha, sozinho um bastão um
facão e um apito. Cinco minuto depois apitei até não querer mais. Risos.
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