Lendas
Escoteiras.
A
dança da morte.
Prefácio: - Gostam de histórias de
terror para contar a sua tropa? Esta quem sabe seria uma boa pedida. Escoteiros
acreditam na bondade e na fraternidade. Alguns jovens gostam de um filme cheio
de sustos. Escrevi esta história pensando em um fogo de conselho, um Chefe
contando e eles de olhos arregalados pensando que histórias de terror não fazem
bem. Divirtam-se!
Os ponteiros do relógio se
aproximavam da meia noite. Em volta do fogo eu Tomazo e Toninho Caixão.
Sinceramente? Ele me dava arrepios. Adorava uma história de terror. Não perdia
uma oportunidade para tirar do tumulo as almas do outro mundo. Adorava visitar
o cemitério da cidade. Era Sênior da Patrulha Cova Rasa. Isto mesmo. Brigou com
todos para ter este nome. Dizem que era um bom Escoteiro e a chefia o
respeitava. Olhou-me enviesado. Sentado a moda índia não tirava os olhos para o
fogo – Vado! Eu conheci Nando. Olhei para ele de soslaio. Sabia que aí tinha
treta. Tinha susto tinha capeta. Sei que não vai acreditar, mas nunca achei que
ele chegaria a tanto. Se chegue, se sente se estique, pois esta história eu
faço questão de contar...
- Nado sempre ouviu falar em
Deus. Sua mãe exigia a reza em casa, confessar uma vez por mês e ir à missa
todos os domingos. Nando queria falar com Deus, mas ele nunca o atendeu.
Entrava em igrejas, em templos em busca Dele e nada. Ficou cinco dias no monte Chaparral
olhando as estrelas procurando um sinal. Nada. Resolveu jejuar por um mês e ver
se Deus iria aparecer. Nada. Nando desistiu. Esse Deus não existia. Se Deus não
existe quem sabe o Demônio? O Capeta? Ia provar que ele também não existia. Mas
para isso teria que fazer a invocação com a Dança da Morte. Havia lido sobre
ela. Horrenda, alguém tinha de morrer para ela existir. O que iria fazer seria
horrível, mas valeria a pena provar que o inferno não existia. Nando era
magrinho, cara de “fuinha” na escola o chamavam de “porquinho da índia”. Alugou
um sitio próximo a cidade. Avisou seus pais que iria fazer uma viagem de um mês
para não se preocuparem.
Conhecia Safira, menina magrinha,
treze anos, muda e morava com a avó próximo a sua casa. Safira pouco saia de
casa. Olhos pequenos, cabelos escorridos, aparência comum. Nando a raptou
quando ela ia a padaria comprar pão. Fazia isso toda a manhã. Colocou-a em seu
fusquinha e partiu para o sitio que alugou. Comprou éter e com um lenço viu
Safira desmaiar. No sitio, tirou sua roupa e a deixou nua. Pequena, magra,
treze anos não possuía nenhum atrativo sexual. No quintal colocou-a dentro de
um tanque de agua fria, amarrou seus braços abertos em duas estacas fincadas ao
lado do tanque com cordas finas. Ela não tinha como levantar e teria que ficar
dentro da água só com a cabeça para fora. Safira quando acordou estava
horrorizada. Abria a boca e só saia grunhidos. Seus olhinhos saltavam como se
fosse fugir. A dor era incrível.
Tentava gritar, pedir ajuda,
implorou com seus olhos assustados. Ele
com um canivete cortou varias lascas finas de bambu. A cada hora enfiava uma
lasca em uma parte do corpo dela. Gargalhava, louco vociferava chamando os
demônios. Gritava quando o sangue vermelho dela se mistura com a água do
tanque. No segundo dia desmaiou. Com um pequeno alicate, arrancou duas unhas de
sua mão direita. E duas do pé esquerdo. A dor era demais. Safira gemia
horrorizada tentava gritar era muda não tinha voz e nem um grito se ouvia.
Desmaiava e acordava. Uma dor tremenda. Não entendia o que estava acontecendo.
À noite Nando ficou nu.
Pintou-se de preto. Matou um galo que tinha comprado. Espalhou as penas e o
sangue em cima de Safira que estava desmaiada. Sem socorro Safira iria morrer
em pouco tempo. Não aguentava mais de tanta dor. A meia noite Nando começou a
gritar cacarejara e levava as mãos ao céu dizendo: – Apareça demônio! Mostre
sua força! Mostre que você existe! Onde está você demônio dos infernos! E
gargalhava como um louco. Dançou por muito tempo a Dança da Morte. Safira
acordou assustada. Viu aquela visão dos infernos e pediu a Deus para levar sua
alma para o céu. Safira horrorizada via aquele louco, aquele satanás gritando e
dançando a dança da morte.
Olhe Chefe disse Toninho
Caixão. Se não fosse Estônio um Chefe Sênior nem sei o que teria acontecido.
Uma noite ele acordou assustado. Dois dias como o mesmo pesadelo. Estônio era
investigador de polícia, casado com dois filhos homens. Um de três e outro de
cinco anos. Amava os escoteiros. Sentia-se bem quando estava uniformizado. Amava
sua profissão e dos meninos e meninas da tropa quando pediam para ele contar
historias de bandidos. Considerava-se um bom policial. Nunca abusou e nunca
deixou de cumprir suas obrigações dentro da lei. Seu pesadelo o levava sempre
ao mesmo sitio que ele não conhecia. Uma menina indefesa na mão de um maníaco.
Teria que ser verdade. Isso só podia ser um sinal de Deus. Teria que descobrir
onde era o tal sítio. Sem querer comentou com os monitores seu sonho. Estava
preocupado. Rildo um dos monitores
lembrou que seu pai alugou um sitio para um homem por um mês somente.
Junto ao pai de Rildo ele foi
ao sitio. O que encontraram lá era uma verdadeira história de terror. Nunca
imaginaria algum parecido. Ele pensava que era um bom policial, temente a Deus
e já tinha trocado tiros com bandidos da pior espécie. Mas o que viu deixou-o
estarrecido. A maldade não poderia chegar a tanto. Tinha visto muitas coisas na
sua profissão, mas o que viu superava tudo. Ainda encontraram Safira com vida
dentro do tanque. Desmaiada, machucada, mas respirava. Em volta pedaços de
corpo de um homem todo queimado. Tinha sido esquartejado. Seus membros fediam.
Acharam sua cabeça fincada em um bambu. Sua língua para fora mostrando que
morrera gritando horrorizado. Todos os membros cortados, lascas de bambus
pontiagudos. Nas duas mãos e nos dois pés todas as unhas arrancadas a alicate.
Nando ficou estarrecido. Depois
que a ambulância levou Safira, viu uma porteira saindo fumaça como se estivesse
queimando. Foi até lá. Viu escrito a fogo nas taboas e o que leu gelou suas
veias. Estarrecido imaginou o que poderia ter acontecido ali. Dizia: – “Não se
preocupem. Ele queria me ver, duvidava de mim. Ele agora vai morar comigo. Lá
no meio dos infernos e vai queimar comigo para sempre” assinado o “Demônio”.
- Fui dormir. Toninho Caixão
ficou em volta do fogo sozinho. Olhei para ele que sorria com os olhos
esbugalhados. Nunca esqueci esta história. Contei uma vez em um final de Fogo
de Conselho. Todos adoraram, mas ninguém dormiu naquela noite. Até hoje me
perguntam se foi verdade. Só respondo para perguntar ao Toninho Caixão. Ele sim
sabe da verdade!
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