Saudades do
meu Fogo de Conselho.
Uma história,
uma lenda escoteira.
Prólogo: - Vêm aí uma
semana fria alguns lugares tem neve outros geada. Nestas horas se abre o bau do
tempo e lá dentro retira a manta, brilhosa, cheia de lembranças, distintivos
nas beiradas, e ela só falta falar: - Escoteiro! Já está na hora, me leve para
a floresta, o Fogo do Conselho vai começar...
Dizem que tudo de bom
na vida tem seu preço. Se pudermos pagar, pagamos se não... Partimos em busca
dos nossos sonhos transformando-os na vida real ou imaterial. Quanto custa ser feliz? Bendito seja quem
encontra a felicidade em pequenas nuances que o tempo nos dá a cada segundo que
vivemos. Partiremos agora célere a uma felicidade que muitos conseguiram ter
neste maravilhoso mundo dos escoteiros. Hã! Deitar na relva, respirar o ar puro
do campo, da floresta encantada, sentir a brisa cair suave no rosto, olhos
fixos nas estrelas cintilantes no céu como a dizer que seu brilho vai nos fazer
felizes para sempre.
Quantos de nós não sorrimos
nas noites de acampamento em volta de um encantador Fogo de Conselho? É
surpreendente estar ali, olhos fixos no fogo, ou mesmo quando as chamas vão
crescendo parecendo querer alcançar o céu. Os sorrisos, as paixões, a vontade
de ficar ali para sempre. Quem sabe ter asas para voar sobre aquela clareira,
ver do alto os amigos cantantes, canções errantes displicentemente cantadas por
lábios que aprenderam a entoar o Rataplã. Voltar novamente a terra, olhos
vidrados no Contador de Histórias. Ah! O Contador de Histórias. Indispensável
na vida escoteira de todos nós. Contar histórias é uma arte, uma arte gostosa,
palatável de agrado geral. Histórias se contam em todos os lugares, mas nos
Fogo de Conselhos elas têm seu lugar.
A fogueira alta, o Contador
de História sorrindo a história surgindo seus gestos acompanhando, todos de
olhos fixos tentando viver os personagens daquela história maravilhosa. Os
olhos da moçada não piscam. Mesmo aqueles que já estiveram ali por muitas vezes
são atraídos como os grilos e pirilampos com suas luzes brilhantes e
saltitantes parecem querer também participar da história. É lindo estar ali com
amigos, vendo um céu de estrelas, ouvindo o piar de uma coruja escondida em um
carvalho com seus olhos grandes, negros sem piscar em um galho qualquer.
É gostoso demais viver e
participar de um Fogo de conselho. Poder ouvir o ruído da noite, a gente
enrolado na manta se enrosca em um tronco para melhor sentir o calor do fogo e
dos amigos que estão ao nosso lado. Nas brasas o bule de café, e enquanto a
história vai sendo contada alguém dedilha um violão encantado com um toque
saudoso ao luar. Ouvidos atentos, olhar penetrante cada um vai sentido o ar
puro da floresta invadir a seara do Fogo de Conselho. Em determinada hora se
ouve os sapos coaxando na lagoa próxima. A brisa não para de cair. O vento
sopra trazendo das montanhas distantes o latir do lobo guará que parece estar
ali junto a escutar.
Os velhos mateiros sabem que já
está na hora de ouvir o canto do Uirapuru quando chama sua companheira, lá bem no
fundo da floresta Encantada. É um fogo especial, não tem hora para terminar.
Outras histórias virão, uma peça bem montada, alguém dá uma gargalhada e quem
sabe pode até chorar. Tudo ali é felicidade e as coisas vão desenrolando e
chamam atenção até dos anjos lá do céu. E sem perceber a gente se achega mais
perto do fogo, pede a coruja espantada que venha cantar conosco. Sinta-se em
casa todos dizem. A gente vê no olhar dos escoteiros e eles sorriem como a
dizer: Pode contar uma história, ou quantas quiser...
É... A gente ama o Fogo de Conselho. Ele marca entra na gente afunda no
coração, bate na mente e escreve suas páginas na memoria e depois ficar na
historia. A gente sorri e sabe que não quer perder outro nunca mais. Ali
naquela clareira distante, pequenas chamas errantes se perdem no sonho do vento
que as leva para longe. Pequenas fagulhas são como cascatas invertidas que
sobem no ar. Ali perdido nos sonhos das mil e uma noite, a gente olha para o
céu, quer tocar as milhares de estrelas brilhantes que encantam a todos nós. A
gente se perde naquele infinito e passa a sentir que tudo faz sentido. Afinal
quem sabe a gente pode pegar uma e dizer: - Esta é minha, deixo-a no céu para
que Deus possa guardar para mim.
E quando tudo termina, ao chegar ao lar quem sabe ao dormir e olhar para
o teto a gente vai ver a estrela escolhida que Deus guardou para nós. Fogo do
Conselho, vermelho na noite escura, dos ventos do sul e do norte, das montanhas
da lua, do sol. É ali que a realidade aparece, A gente vê Deus aquele que nos
deu a vida e quem sabe a alegria é tanta que deixa uma lágrima cair. E a gente
serra os olhos e pede a ele que não será o último. Senhor, neste azul do céu,
onde encontrei a calma, encontrei a paz que alimenta minha alma. Que os ventos
do mundo me façam viver novamente, em qualquer clareira, em matas escuras, e
ver o fogo vermelho iluminando as almas dos escoteiros que ali estarão sorrindo.
Obrigado Senhor!
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