terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Bandeiras ao vento!


Lendas Escoteiras.
Bandeiras ao vento!

                           O topo da montanha do Guairá estava longe, a Patrulha Kalapalo seguia a trilha dos seus antepassados. Todos sabiam que a Bandeira de Brás Esteves Leme havia passado por ali ha muitos e muitos anos. Brás era filho de outro sextanista e deu sua vida para achar as esmeraldas de Fernão Dias Paes Leme. Sertanejou na região limítrofe de Minas Gerais com São Paulo e antes de morrer nos anos de 1700 se estabeleceu em Pindamonhangaba. Tarântula um Sênior novato e estudioso foi quem sugeriu a caminhada. – Seria uma aventura e tanto seguir os passos de Brás Esteves Leme disse. Não iriam percorrer todo trecho, pois tinham pouco tempo. Máximo de quatro dias e meio aproveitando o feriado de Corpus Christi. Partiram a noitinha de quarta feira recebendo as bênçãos do Padre Ludovico.

                          Mesmo a noite com ventos calmos e frescos a subida era uma tortura. Eram seniores experimentados e em suas mochilas levavam só o essencial. Calmon o escriba de cabeça baixa pensava que maluquice fora esta de aprovar tal atividade. Jonathan o cozinheiro pensou em sugerir uma parada para fazer um chocolate quente. Para ele não tinha segredos um fogão estrela, um tropeiro ou mesmo um trincheira que dava trabalho, mas garantido de não espalhar pela floresta. Quintino o sub pensava o porque Valete o monitor ainda não deu a ordem de descansar. Isto nunca aconteceu. Sabiam que Valete era experiente, fora guia de Tropa e sempre sabia onde metia sua cumbuca em jornadas ou atividades aventureiras.

                          Com a brisa fresca a maioria dos seniores suava e até mesmo Donatela a única guia presente fazia tudo para não demonstrar que a caminhada estava sendo um suplicio. Ela sorria para si mesma a pensar nas grandes atividades que fizeram com os seniores. Tinha orgulho de pertencer a Patrulha Kalapalo. A trilha tinha ficado mais difícil a cada curva a cada passada. Cem duzentos metros se tornara um enorme sacrifício de percorrer. Algum aconteceu, pois Valete que ia a frente parou sem dizer nada. A patrulha o seguiu. Por alguns minutos só se ouvia os grilos da montanha e os pirilampos que rodeavam os seniores aventureiros.

                          - “uma fogueira há cem metros” Valete disse baixinho no ouvido de Donatela que vinha logo atrás. Ela treinada para os grandes jogos noturnos que faziam na Tropa Sênior, repetiu para Jonathan que fez o mesmo com Quinino e este a Calmon. Tarântula sorria. Quem sabe vamos filar um cafezinho quente? Foi então que um vozeirão repicou naquela trilha da Montanha do Guairá. – Caolho! Os meninos chegaram! – O que faço com eles? – Caolho veio ver quem era os meninos.  – Nossa! São Escoteiros Tiro Certo. Os patrulheiros continuaram em silêncio. Correr era perder tempo. Só uma trilha e em curva dando facilidade para Tiro Certo acertar qualquer um. – Caolho olhava nos olhos de cada um e sentiu um arrepio na espinha, pois não demonstravam medo.

                            Tirou de sua cintura um facão cuja lâmina brilhou ao luar. Tiro Certo sorria maliciosamente. – Vamos disse Calmon. Está no Tropeiro duas juntas de javali que matamos hoje. Podem comer a vontade! E deu uma enorme gargalhada. Jonathan respirou aliviado. Tiro Certo chegou próximo a Donatela que não demonstrou ter medo dele. Foram até o acampamento e viram só os dois bandidos. Tiro certo era baixinho, com um bigodinho preto e Caolho era enorme com uma venda preta no olho esquerdo. Os seniores sentaram-se em volta do fogo. Jonathan o cozinheiro tirou uma lasca da carne que estava assando. Ainda pingava sangue. Comeu e balançou a cabeça. Todos sabiam que poderiam comer sem problema.

                            - Eu também fui Escoteiro disse Caolho. Calmon quase riu da mentira, mas viu que era melhor ficar sério.  Tarântula perguntou onde. – Dois meses em Capiacanga. A carne mal passada do javali tinha um cheiro horrível, mas estava gostosa. Caolho se levantou cortou um pedado do sisal que tinha na sua mochila e começou a fazer nós. Todos olhavam embasbacados. Era um perito na arte de nós. Valete se levantou e nem olhou para Caolho e Tiro Certo. – Está na hora disse. Vamos em frente. Deu a mão esquerda para Caolho que ficou sem saber o que fazer. Todos viram que ele nunca fora Escoteiro. Levantaram-se deram o grito de patrulha e partiram. Tiro Certo e Caolho estavam espantados com tamanha coragem e nada disseram.

                           O cansaço da subida desapareceu. Se ouve medo ele também seguiu a lua que agora se punha no horizonte. Duas horas depois pararam. Eram três da manhã. – Vamos dormir um pouco. Amanhã partimos ao nascer do sol disse Valete. Dormiram e dividiram o tempo de sentinela. Quintino de olhos no céu começou a contar estrelas. Dormiu antes das duzentas. Calmon rezou uma pequena oração. Todos em silêncio acompanharam sua fala. Tarântula imaginava como devia ser a vida de bandoleiros. Jonathan repetia para si mesmo: Quem ousa conquista e saiu para a luta, irá chegar mais longe. Donatela atualizou em segundos o que passaram e dormiu em seguida. Valete dormia o sono dos juntos. Sua experiência para enfrentar as adversidades era conhecida.


                           No retorno da Montanha do Guairá, cinco seniores e uma guia cantavam na descida. Mais um tempo juntos. Quantos teriam pela frente não sabiam. Mas isto pouco importa, tinham como lema uma frase que Donatela quando saiu da Tropa das Escoteiras ensinou a cada um deles: - Não desista, vá em frente. Sempre há uma chance de você tropeçar em algo maravilhoso. Nunca ouvi falar em ninguém que tivesse tropeçado em algo enquanto estava sentado ou dormindo. É como dizem os seniores do mundo? - O futuro é nosso, vamos prosseguir. Vemos longe a brilhar a nossa estrela Dalva. Quando se é jovem não se pode desistir Marchar avante, e sempre avante, por sobre a terra, sobre os ares e pelo ar continuando se os outros param Sorrindo sempre! 

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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