quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Doce vingança.


Lendas Escoteiras.
Doce vingança.

            O utilitário negro parou em frente à Pensão Santa Ana. Um homem dos seus cinquenta anos desceu com uma pequena maleta e entrou. Mais tarde o povo ficou sabendo que ele pediu um quarto por algumas horas. Um banho e depois partir. Luar do Sertão não tinha mais que oito mil habitantes. Cidade pequena sem atrativos quem morava ali sabia que nada iria mudar. Uma hora depois nas frestas das janelas viram o homem de uniforme Escoteiro. Dirigiu-se ao Grupo Ventos do Norte e parecia saber o caminho. O Chefe ficou surpreso com a visita, pois nunca antes isto aconteceu. O cumprimentou com entusiasmo. Estava com o lenço da Insignia de Madeira e devia ser um figurão, pois tinha quatro tacos.

              Não ficou nem meia hora. Nada falou só olhou e partiu. A Alcatéia a Tropa escoteira e Sênior pararam as atividades para vê-lo ir em direção à pensão Santa Ana. No portão viram quando ele já sem uniforme entrou em seu utilitário preto e partiu rumo a Br.262. Quem seria? Porque uma visita de médico e tão sucinta? Nem disse seu nome e nem por que veio. Dolores foi quem disse que ele deixou um cheque de Oitocentos mil reais para Dona Zulmira, da Casa de Saúde que todos passavam longe só para não ver os mosquitos e a sujeira do lugar. Por quê? Porque tanto dinheiro para ela? – E tem mais disse Dolores, deixou também um cheque de setecentos mil reais para Madrugo. O que? Madrugo o mendigo embriagado?

              Zé Mulato o Chefe ficou intrigado. Se foi nos visitar porque não nos deixou nada? – Afinal não somos irmãos de ideal? A reunião escoteira terminou antes de começar. Os buchichos sapecavam orelhas nem sempre limpas. Na Praça Madrugo dava gargalhada. – Só eu! Só eu! Eu sabia que ele viria e iria se vingar da cidade. – Vingança? Que vingança que não viram? Fizeram uma roda em volta de Madrugo. – Quem era Madrugo? Ele continuava rindo e não dizia nada. Foram até a Casa de Saúde de Dona Zulmira. Ela sempre com o semblante preocupado disse que não se lembrava de quem era.

- Em algum lugar do passado. 
- Gato Preto foi amarrado a um poste e chicoteado pelo Delegado Mitongo. A cidade em peso veio assistir e aplaudir. Ele precisava diziam. Não foi a primeira nem a última. Beijou a filha do Doutor Virgulino o prefeito em plena praça e ao sol do meio dia. Um menino! Um menino fazendo isto? Zé Mulato já era o Chefe do Grupo e quando Gato Preto o procurou disse que não tinha vaga. – Dona Bastiana sua Avó bem que tentou, mas Zé Mulato nem quis saber. A Tropa suspirou aliviada. Tinham medo de Gato Preto. O Delegado o arrastou pela perna até o entroncamento da Br.262 com a entrada da cidade. O jogou no mato como se joga um porco. Viram Dona Zulmira indo até lá. No mínimo iria passar unguentos que ela mesma fazia nele. Madrugo foi atrás. Dona Zulmira voltou, Madrugo não.

                     O tempo passou Gato Preto desapareceu e ninguém soube se morreu ou viveu. Moleque o Sênior mais antigo disse ao Chefe Zé Mulato. – Chefe não era o Gato Preto? Ficaram todos ressabiados. Poderia ser. Lembraram que Madrugo também ficou mais de cinco meses sem aparecer na cidade. Todos respiravam aliviados. Sem Gato Preto sem Madrugo agora podiam respirar em paz. – Chefe, porque o senhor não o aceitou nos escoteiros? – Zé Mulato pensou e disse que não se lembrava mais. – Pois é Chefe, ele deve ter ficado magoado. Agora rico lembrou-se somente de quem o ajudou. – Mas porque veio nos visitar? Bem Chefe, no fundo ele agora é um Escoteiro, deve ter aprendido a não guardar mágoa. Ele sabia que toda magoa é um orgulho ferido. A magoa é um veneno que se toma para um dia se vingar.            

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