quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

O Velho Nolasco.


Lendas Escoteiras.
O Velho Nolasco.

                Tem oito anos que Nolasco faleceu. De morte “morrida” me disseram. Pelo menos atendeu seus desejos que não queria morrer de morte “matada”. Nolasco foi da Patrulha Morcego e como Sênior escolheu a Águas Calientes. Por que este nome não sei e, por favor, não me perguntem. Lembro-me dele até quando deixou a Equipe de Formação por estar em uma idade que não dava para acompanhar mais. Era um bom contador de histórias e um dia quando todos os escoteiros e lobos partiram ao final da reunião, ficamos eu ele e Notre Dame, um Pioneiro antigo que estava se preparando para colaborar na Alcatéia. Sentados na escada da Biblioteca Nolasco contou para nós sua ultima historia, pois duas semanas depois Deus o levaria para o céu.

               - Jeová estava velho, muito Velho e quase não podia andar. Eu o conheci quando deixou a Chefia do Grupo Fernão Dias e sozinho resolveu ir viver com seu filho sogra e o neto de quatro anos. Sua mão tremia sempre e a vista já embaralhada quase não enxergava mais. Seu passo era hesitante. A família comia todos juntos a mesa. As mãos tremulas de Jeová e sua visão falhando, tornou difícil o ato de comer junto a eles. Sempre rolavam alguma sobra pelo chão. Um dia quando pegou o copo de leite ele derramou na branca toalha de mesa. A bagunça irritou seu filho e sua nora: - Mulher, nós temos que fazer algo sobre o meu pai. Disse seu filho. Chega de leite derramado, ouvindo-o comer acintosamente, pois era banguelo e quase todos os dias derramava comida no chão. 

                Assim seu filho e a esposa prepararam uma mesa pequena no canto da sala. Lá seu pai comia sozinho enquanto o resto da família desfrutava o jantar. Desde que seu pai tinha quebrado um ou dois pratos, a comida dele era servida em uma tigela de madeira. Quando a família o olhava de relance às vezes percebiam nele uma lágrima caindo pela face como se estivesse chorando.  Ainda assim as únicas palavras que o casal tinha para ele eram de advertências acentuadas quando ele derrubava um garfo ou derramava comida. O neto de quatro anos assistia tudo calado.

                 Uma noite antes da ceia, o pai notou que seu filho estava brincando no chão com sucatas de madeira. Ele perguntou docemente ao seu filho: O que você está fazendo? Da mesma maneira dócil, o menino respondeu: - Oh! Eu estou fabricando uma pequena tigela para você e mamãe comerem sua comida quando eu crescer. O menino sorriu e voltou a trabalhar. As palavras do menino golpearam os pais que ficaram mudos. Então lágrimas começaram a fluir de seus rostos. Entretanto nenhuma palavra foi dita, ambos souberam o que devia ser feito.

                  Naquela noite o filho pegou a mão de Jeová seu pai e com suavidade o conduziu até a mesa da família. Para o resto de seus dias de vida ele comeu com sua família. E por alguma razão, nem o filho e nem a esposa pareciam mais se preocuparem quando um garfo era derrubado, ou o leite derramado e nem olhavam se a toalha se tivesse sujado.


                Meus amigos chefes, vocês sabem que as crianças são notavelmente perceptivas. Seus olhos sempre observam e suas orelhas sempre escutam e suas mentes sempre processam as mensagens que elas absorvem. Se elas no veem paciente providenciando uma atmosfera feliz em nossa casa, para nossos familiares, elas imitarão aquela atitude pelo resto de suas vidas. Um pai e um Chefe escoteiro sábio percebe isso diariamente que o alicerce está sendo construído para o futuro da criança. Sejamos nós pais e Chefes sábios construtores de bons exemplos de comportamento de vida no que fazemos e no que um dia poderemos vir a ser. 

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