Contos
de Natal.
Um
certo curso de Gilwell.
Os alunos iam chegando
cumprimentando e sorrindo. Julião um Velho Chefe Escoteiro o Diretor do Curso era
muito conhecido em seu Estado. Idade avançada muitos haviam lhe aconselhado que
desse folga a si mesmo. Chefe, estas atividades exigem muito esforço para que o
curso fosse pródigo em dar o que todos precisam. Afinal ele sabia que o elixir
do conhecimento era o que muitos desejavam. Seriam oito dias intensivos. Julião
nunca abriu mão dos seus cursos que fossem cópias fieis ao programa editado em
Gilwell Park. O presidente da Região e muitos membros formadores eram contra. -
Porque só ele tem esse direito? Falar diretamente com ele ninguém tinha
coragem. Afinal era um dos mais antigos formadores e só seu nome era motivo de
centenas de inscritos o que dava sempre trabalho para escolha. Desta vez mais
de 200 e no final foram separados os 32 primeiros inscritos.
Julião gostava disto. Sentia-se
de bem com o escotismo que praticava. Sempre acreditou que dali sairia bons
chefes e com isto o escotismo só tinha a ganhar. – Chefe Julião já chegou?
Perguntavam os primeiros a chegar na arena geral do campo escola. Era sempre o
primeiro, mas neste chegou em cima da hora. Não comentou com ninguém a dor no
peito e a falta de ar quando saia de casa rumo ao curso. Nem mesmo disse a Mamã
sua esposa o que sentia, pois sabia que ela iria fazer tudo para ele não ir. –
Não posso ficar como um pária, um excluído sem dar minha colaboração ao meu
amado escotismo. 79 anos e sabia que não iria parar nunca. Sempre diziam que
ele iria viver para sempre.
Fez questão de cumprimentar um
por um dos alunos, dar um abraço e um sorriso como se ele o aluno fosse mais
importante que o Diretor. Reuniu sua equipe composta de quatro chefes e uma
Chefe. Ele conhecia um por um, alguns ainda não tinha atuado com ele e iriam
aprender muito. Nunca acreditou em equipe finita, pois todos deviam ter as
mesmas oportunidades em ter seus conhecimentos aumentados conforme ele mesmo
defendia nos seus cursos. – Podemos sim mudar se preciso, mas o que B-P deixou
com seu método e o programa Escoteiro este é imutável. Nunca discutiu tais
ponto de vista com nenhum outro formador. Quando diziam diferente ele
comentava: - Mudam muito e ouvem pouco e o pior não ficam muito tempo para ver
o que fizeram!
Tinha realizado duas reuniões
antecipadamente com a equipe. Dois eram velhos conhecidos e os demais não. Em
cima da hora pediu ao Chefe Alvorada para formar a Tropa. Fazia questão da
disciplina e disto não abria mão. – Todos terão oportunidade para se manifestar
no andar do curso. Isto era uma rotina onde ele ouvia um por um, seja em uma dinâmica
ou mesmo nas horas de tempo livre que aproveitava para passear nos campos de
patrulha e amigavelmente ouvir e quem sabe aconselhar se preciso. Apresentou-se
rapidamente e pediu que a equipe fizesse o mesmo. Todos deveriam dizer sua
experiência escoteira, do Formador ao aluno mais novo. Sempre dizia a si mesmo
e aos demais que se você não sabe fazer a massa não sabe fazer o pão.
Ele tinha poucas palestras
para fazer. Fazia questão dos Deveres para com Deus e disto não abria mão mesmo
sabendo que esta unidade didática não mais estava sendo usada entre os formadores
de então. Programando o programa, Lei e promessa e sistema de patrulha eram
outras que ele se sentia bem ao palestrar junto aos alunos. – Sem isto não
temos escotismo, se outros não fazem é um direito deles e espero que tenham
bastante experiência para contradizer e demostrar em suas tropas que o que
fazem está dando certo. Após as rotinas de início, liberou as patrulhas para
escolherem seus campos e deu duas horas para tudo estar pronto. Tudo? Isto
mesmo. Cozinha com toldo e fogão suspenso, barracas armadas e mesa com bancos e
toldo. Sem esquecer as fossas e a latrina de campo. Afinal era um curso da
Insígnia de Madeira e não podia ter “Pata Tenras”.
Muitos duvidavam que duas horas
fossem suficiente. Mas os chefes alunos sorriam e iriam demonstrar para os
incrédulos que eles não iam falhar. Julião quando viu todos pegando sua tralha
e indo para seus campos começou a sentir uma dor no peito e viu que ela não
iria parar. Pegou um analgésico, um copo de água e tomou. Isto sempre bastou para
parar. Não naquele dia, começou a cair e foi amparado por muitas mãos que ainda
estavam ali na Arena Geral. Uma ambulância foi chamada e muitos acharam que
desta vez não tinha volta. Sua família foi avisada e no leito do hospital ele
exigiu que o curso não fosse interrompido. Passou o bastão para o mais antigo.
Ficou cinco dias entre a vida e a morte. Acordou no nono dia véspera de natal e
viu que o quarto estava cheio de amigos.
- E o curso? Perguntou. – Chefe,
mesmo com a preocupação com sua saúde ele foi feito conforme suas instruções e
sempre observado as exigências de Gilwell. Uma grande fotografia dos cursantes adornada
em uma moldura foi entregue a ele que em posição de sentido davam seu sempre
alerta ao seu mentor que não pode ir até o fim. Julião olhou para a foto e seus
olhos ficaram molhados com as lagrimas que caiam. Sua esposa ao seu lado o
abraçou, seus filhos vieram para ficar juntos a ele naquele instante. Julião
ficou mais vinte dias no hospital. Durante mais seis anos Julião ainda
permaneceu na terra, mas sem fazer o que mais gostava. O escotismo para ele
estava na alma no coração e na mente.
Faleceu
aos 93 anos dois dias antes do Natal. Quem estava presente nunca esqueceu o que
disse: - Mamã! Está na hora de partir. Era assim que ele chamava sua esposa.
Ele chorando o beijou. Seus filhos o abraçaram pela última vez. Julião foi
sepultado no dia 24 de dezembro daquele ano. Não houve milagres, pois sua hora
havia chegado. Até hoje ele é lembrando pelo seu sorriso e pelo seu abraço que
fazia questão de dar a cada um dos alunos que tiveram a honra de participar dos
seus cursos. Na lembrança suas palavras permanecem até hoje: - Chefes aprendam
muito, sorriem muito para seus escoteiros e Escoteiras, e não esqueçam nunca: -
Quem não sabe fazer a massa não sabe fazer o pão!
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