domingo, 25 de março de 2018



Em volta de uma fogueira em uma noite de luar...
Origens do Fogo de Conselho.

                     Do Lobinho ao Antigo Escoteiro todos amam um Fogo de Conselho. O primeiro de cada um é inesquecível. Conheci escoteiros que eram mestres para desenvolver o Fogo de Conselho no verdadeiro espírito da tropa. Chefe! Diziam-me: Aquele da tropa é demais! O do Grupo Escoteiro e o Festivo também valem a pena. Fogo de Conselho é uma reunião em torno de uma fogueira, uma atividade noturna feita ao ar livre para sorrir cantar e segurar a emoção!

                    Nos lobinhos passaram a chamar de Flor Vermelha. Mowgly levou para a alcateia quando aprendeu na Aldeia dos Homens. A Flor Vermelha ajudou a matar o Chery Kaan. Que o Tigre Cruel devia morrer, todos torciam. Será que ele merecia morrer queimado? Ruim ele era. Não sei por que mudaram, pois Fogo de Conselho sempre foi tradicional. Nunca me contaram se os lobos na Alcateia de Seeonee brincavam e contavam suas histórias em volta da Flor Vermelha. Algum dirigente tirou da mente e mudou. Se assim é melhor não sei.

                   No Guia do Escoteiro o Velho Lobo escreveu que no Fogo de Conselho não se cozinha. É um fogo simbólico. É o fogo da paz o fogo do amor. Concordo, mas fui um emérito assador de bananas e batatas doces quando encontradas nas florestas ou planícies. Adoro bem passadas! O bule do café nunca faltou nas brasas da fogueira. Mas isto não é cozinhar! Participei de centenas de fogo em lugares incríveis com patrulhas sênior ou escoteira. Amadores quando dirigem sempre tem uma pitada de emoção.  

                  Sabemos que as fogueiras ao ar livre já existiam muito antes do fundador ter imaginado o escotismo. Os efeitos mágicos do fogo acompanham o homem desde sua origem até hoje. Essa origem se perde no tempo, quando o homem dormia ao ar livre. A luz e o calor espantavam as trevas, o frio e os animais selvagens. Era o local para conversar, cantar, contar histórias ou planejar caçada, decidir a paz e a guerra.

                 A história conta que Baden-Powell ao criar o Fogo de Conselho, se inspirou em rituais semelhantes. Os índios americanos faziam reuniões em torno das fogueiras para comentar seus feitos do dia, suas aventuras e suas preocupações. Na África existia a figura do “Contador de Histórias”, o homem que sabia de cor toda a história da tribo e era o guardião de todas as tradições. Era ele quem nas horas importantes relembrava os exemplos mais adequados.

                  No Fogo de Conselho aprende-se a escutar, aplaudir na hora certa, obedecer e apresentar com alegria às ordens de sentar, levantar e cantar. Estar junto com seus camaradas de Patrulha ou Matilha cria um espirito de camaradagem e união. É bom estar ali, com amigos vivendo, sorrindo cantando e amando o que há de mais belo em um Fogo de Conselho.

                   Vi milhares de apresentações (esquetes) em Fogos de Conselho. Desde os primórdios do escotismo se insistia dentro do possível a Matilha ou a Patrulha participar sempre com seu efetivo. Criatividade é melhor que “colagem” de velhas apresentações na TV. Aos poucos os contos imaginários, as imitações tudo dentro do espirito da Lei se fez prevalecer. Em 1954 participei pela primeira vez onde se cantou a Canção da Despedida. Pela primeira vez chorei. Foi demais.

                   Um fogo festivo bem planejado é uma maneira simples de se fazer marketing escoteiro que dão bons resultados. Os pais e simpatizantes são convidados e assim irão conhecer melhor a vivência escoteira. Tem criações de abertura do Fogo que merece aplauso. Lembro-me de uma que usamos bambus escondidos sobre a terra, com um rastilho de pólvora dentro e devidamente treinado o Animador gritou: - Ascenda-te fogo! E nada! Ele pensou que a saída estava entupida foi olhar e “Bum”! Nada demais, queimou as pestanas os cabelos, mas o danado continuou a animar o fogo até o final! Rsrsrs.  

                    Fogo do Conselho cria histórias. Em todos elas aprendemos novas palmas, esquetes e novas canções. Violões, harmônicas são importantes. Uma Chefe de lobinhos em um fogo em Malacacheta tocou soberbamente um violino a Árvore da Montanha e quando acompanhou a Canção da despedida foi demais. Nunca vi tantos chorando. Que choro gostoso de chorar. Maravilhoso!

                     Tive a honra de receber a minha Segunda Classe em um fogo de Conselho de tropa. Ascendi o fogo com um palito que deveria durar pelo menos trinta minutos. Pular a fogueira três vezes com a ajuda de um padrinho para receber o nome de guerra de origem indígena era comum. Não sei se ainda fazem assim. Lembro um escoteiro que iria receber a Primeira Classe e uma tempestade desabou. Não houve debandada. Todos aplaudiram quando o Chefe entregou o Distintivo e ele chorando de emoção nem se preocupou por estar todo molhado!

                    Baden-Powell foi realmente um iluminado. Suas criações místicas e símbolos são inigualável. Sir Percy Everett contou como foi o Primeiro fogo de Conselho na ilha de Brownsea. Ficou na história. Eu daria tudo para ver BP dirigindo e desenvolvendo o Fogo de Conselho, a camaradagem, a alegria a técnica que estava sendo criada naquele momento. Um aula do verdadeiro Espírito Escoteiro.

Sir Percy Everett: - “As memórias mais vividas de todas eram os fogos de conselho, antes das orações e do apagar dos lampiões. Ao redor do fogo à noite BP nos contava algumas histórias assustadoras, conduzia ele mesmo o canto Eengonyama e com seu jeito inimitável atraia a atenção de todos”. - “Eu ainda posso vê-lo como ele ficava diante da luz da fogueira, alerta, cheio de alegria e de vida, um momento grave, outro alegre, respondendo todas as questões, imitando o chamado dos pássaros, mostrando como tocaiar um animal selvagem, contando uma história, dançando e cantando ao redor do fogo, mostrando uma moral, não apenas em palavras, mas usando histórias e convencendo a todos os presentes, rapazes e adultos, que estavam prontos para segui-lo em qualquer direção”.

Nota – Um Velho Lobo contou uma bela tradição que ainda não conhecia. Na manhã seguinte ao fogo, se recolhem uns gravetos do Fogo e guardam em uma caixinha, para acender o próximo Fogo de Conselho. Assim, espiritualmente, o “fogo” é repassado de um Fogo de Conselho para outro, acendendo o atual com os gravetos do anterior. “Brilha fogueira ao pé do acampamento, para alegria não há melhor momento, velhos amigos não perdem ocasião de reunidos cantar uma canção”! Stodola...  


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