terça-feira, 20 de março de 2018

Uma história no calor da Flor Vermelha. Os tempos de Mowgly na Selva. Era uma vez... Nos tempos das falas novas!



Uma história no calor da Flor Vermelha.
Os tempos de Mowgly na Selva.
Era uma vez... Nos tempos das falas novas!

“O homem ao homem”! É o desafio da Jângal! Já parte aquele que foi nosso irmão.
Ouvi, então, julgai, ó vós, gente da Jângal. Respondei: quem irá detê-lo então?
O homem ao homem! Ele soluça na Jângal! O nosso irmão se aflige dos males supremos. O homem ao homem!  Nós os amamos na Jângal!
Esta é o sua trilha e nós não mais o seguiremos...

“Um dia estavam Mowgly e Bagheera na encosta do morro frente à Waingunga. Era o fim do inverno. Sentado, Mowgly contemplava o vale semi-desperto. Um pássaro lá embaixo trinava as primeiras notas, ainda incertas, do canto que iria entoar na primavera. Embora esse canto ainda fosse só um ensaio, a pantera reconheceu-o. Eu não disse que o tempo das falas novas vem próximo? Relembrou ela. É Ferao o pica-pau escarlate. Ele não esqueceu. Ora, eu também preciso recordar o meu canto e passou a se ronronar para si própria. - Não há nenhuma caçada para hoje, observou Mowgly. – Irmãozinho estarão teus dois ouvidos tapados? Isto que canto não é palavra de caça, mas canto o que quero ter pronto para a primavera”.

                  – tinha me esquecido. Reconheço muito bem a chegada das falas novas, estação em que tu e os outros correreis para longe, deixando-me sozinho, respondeu Mowgly queixoso. Vós é que debandais e eu, Senhor da Jângal, tenho que viver sozinha.

                   - Porque não morri nas garras dos dholes? Gemeu Mowgly. Minha força esvaiu-se e não foi veneno. Dia e noite ouço um passo duplo no meu caminho. Quando volto à cabeça sinto que alguém se esconde atrás de mim. Procuro por toda parte atrás dos troncos, atrás das pedras, e não encontro ninguém. Chamo e não tenho resposta, mas sinto que alguém me ouve e se guarda de responder. Se me deito, não consigo descanso. Corri a corrida da primavera e não sosseguei. Banho-me e não me refresco. O caçar enfada-me. A flor vermelha está a ferver em meu sangue. Meus ossos viraram água. Não sei o que...

                 - Para que falar? Observou Baloo. Akelá disse que Mowgly levaria Mowgly para a alcatéia dos homens outra vez. Também eu o disse, mas quem ouve Baloo? Bagheera, onde está Bagheera? Esta noite se foi? Ela também sabe disso, é da lei. Quando nos encontramos nas Tocas Frias, homenzinho, eu já o sabia acrescentou Kaa. Homem vai para homens, embora a Jângal não o expulse. - A Jângal não me expulsa, então? Sussurrou Mowgly. - Os irmãos Gris uivaram furiosamente: - Enquanto vivermos ninguém, ninguém ousará...

                     – Mowgly lembrava quando se mudou da Alcatéia de Seone. É hora de parar de correr. Ele viu uma pequena cabana e uma luz. Cães latiram. Ele emitiu um profundo uivo de lobo, que fez os cães calarem e tremerem. Escondido nos arbustos Mowgly também tremeu. Por outro motivo. Conhecia aquela voz. Entendeu o que ela dizia. Lembrava bem. Quem está aí? Quem está aí? Mowgly gritou baixinho: - Messua! Messua! – Quem chama? Respondeu a mulher com voz trêmula. – Nathoo! Respondeu Mowgly. – Vem meu filho. Ela se lembrou. O acolheu, deu-lhe de beber e comer. Cansado Mowgly deitou-se e dormiu sono profundo. 

                     – Mowgly acordou e ouviu o irmão Gris chamando-o lá fora. Messua olhou para ele. Era um Deus da Jângal, reconheceu. Quando o viu sair abraçou-o. Volte sempre disse. A garganta de Mowgly apertou-se. Disse quase chorando – Voltarei – sim voltarei. Ele gritou com lobo Gris – porque não vieste quando o chamei? – Não foi tanto tempo assim, ainda ontem estávamos juntos respondeu. Você sabe, o tempo das Falas Novas chegou não te lembras?

                    - Irmãozinho, porque estás comendo e dormindo na Alcatéia dos Homens? – Se tivesse vindo quando o chamei isto não teria acontecido. – E agora como será? Perguntou o lobo Gris – Ele ia responder quando viu uma mocinha em direção à alcatéia dos homens. A seguiu com os olhos até ela ser perder ao longe. E então? Perguntou de novo o Lobo Gris. Agora não sei... Respondeu suspirando. Lobo Gris calou-se. Mowgly também. Quando abriu a boca foi para dizer a si próprio: - A Pantera Negra falou a verdade. O homem sempre volta para o homem.

                       - Raksha, nossa mãe também disse. E Akelá na noite do ataque dos Dholes, também Kaa, a serpente da rocha. - completou Mowgly. E tu irmão Gris, que disse tu? – Eles te expulsaram uma vez. Disse o Lobo Gris. Eles queriam te lançar na flor vermelha. Mandaram Buldeu te matar. São maus. Foste admitido na Jângal por causa deles. - Para! Que estás dizendo? - - Lobo Gris respondeu - Filhote de homem, senhor da Jângal, filho de Raksha, meu irmão de caverna – O teu caminho é o meu caminho. A tua caça é a minha caça e tua luta de morte é a minha luta de morte!

                       Mowgly já tinha resolvido o que fazer. – Vá, disse – Reúne o Conselho na Aroca, irei dizer a todos o que tenho no meu coração. Em qualquer outra estação aquela novidade teria reunido na Roca o povo inteiro da Jângal; - Lobo Gris saiu pelas planícies chamando a todos. O Senhor da Jângal volta para os homens. Vamos à Roca do Conselho. Todos respondiam – Só no verão, venha você e ele cantar conosco! – Quando Mowgly chegou a Roca, encontrou apenas lobos irmãos. Baloo que estava quase cego e a pesada Kaa. – Termina aqui o teu caminho, homenzinho? Disse Kaa – Grita o teu grito! Somos do mesmo sangue, eu e tu, homens e serpentes!

                           Lembra-te que Bagheera te ama, disse ela por fim, retirando-se num salto. No sopé da colina entreparou e gritou: Boas caçadas em teu novo caminho, senhor da Jângal! Lembra-te sempre que Bagheera te ama. Tu a ouviste murmurou Baloo. Nada mais há a dizer. Vai agora, mas antes vem a mim. Vem a mim, ó sábia rãzinha! - É difícil arrancar a pele, murmurou Kaa, enquanto Mowgly rompia em soluços com a cabeça junto ao coração do urso cego, que tentava lamber-lhe os pés.

- As estrelas desmaiam, concluiu o lobo Gris, de olhos erguidos para o céu. Onde me aninharei doravante? Por agora os caminhos são novos... “O abutre Chill conduz a noite incerta, e que o morcego Mang ora liberta - É esta a hora em que adormece o gado, pelo aprisco fechado. É esta a hora do orgulho e da força unha ferina aguda garra. Ouve-se o grito: Boa caça aquele que a Lei da Jângal se agarra”. Canto noturno da Jângal.

Nota – -E me seguireis na alcateia dos homens também? - -Não o fizemos na noite em que os de Seeonee te expulsaram do bando? Quem te despertou quando dormias nas roças? - Sim, mas me seguireis de novo? - Não te segui esta noite? – Mas me seguireis sempre, outra vez e outra vez, irmão Gris? O lobo calou-se por uns instantes. Quando abriu a boca foi para dizer a si próprio: - A pantera negra falou a verdade... Que o homem volta sempre para o homem, no fim Raksha, nossa mãe, também disse. E Akelá também na noite do ataque dos Dholes, acrescentou Mowgly. E também Kaa, a serpente da rocha, que possui mais sabedoria do que todos nós.

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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