Lendas Escoteiras.
Marina Morena.
¶ Marina morena, Marina, você se
pintou Marina, você faça tudo, mas faça um favor Não pinte esse rosto que eu
gosto que eu gosto e que é só meu Marina, você já é bonita com o que Deus lhe
deu.
Dava gosto de ver quando ela toda
serelepe descia a Rua dos Coqueiros com aquele rebolado sensacional! Ah! Marina
Morena moça linda de morrer. Um pedaço de mau caminho. Olhos verdes que Fernão
dias Paes poderia pensar ter achado suas esmeraldas tão procuradas nas Minas
Gerais. E os cabelos? Caramba! Da cor do mel. Solto nos ombros com ondas
fazendo cócegas no mar. Os lábios? Carnudos, vermelhos deliciosos. Olhos
grandes, jabuticabas em flor. Negros enormes pareciam saracotear nos sorrisos
escondidos como há dizer: Sou sim, boa demais!
Quando andava todo mundo
esquecia-se de Vera Verão, na sua sainha curta, a propagandear sua cerveja para
os sortudos do mar. Todos saiam às portas, as filhas de Maria olhando na greta
da janela, as mães com uma inveja danada a excomungar Marina Morena. Que culpa
ela tinha de ser deliciosa? Mulher formosa, gostosa, mulher nota mil? Depois
que ela passava, as comadres se juntavam nos portões embranquecidos: - Você
viu? Para mim uma rapariga! Mulher de programa, metida a bacana, dizem que
dormiu com todo mundo do lugar! Não era verdade, ninguém sabia como ela vivia,
ela se escondia num quartinho alugado na casa de Dona Veronica.
Padre! – Tome uma providencia!
Ela é uma indecência para o povo deste lugar! – Senhor prefeito, se quer ficar
satisfeito e nossos votos ganhar, suma com ela. O prefeito coitado, barrigudo o
danado só pensava: - Carne de primeira prá cachorro nenhum botar defeito. Mas
quem tomava efeito, se ela não tinha defeito todos queriam enxergar. Aonde ela
vai? O que faz? Como vive? Dona Verônica era um túmulo. Não dizia nada.
Um dia um susto dos
Escoteiros, em reunião correndo a jogar, lobinhos a cantar, eis que adentra no
portão, nada mais nada menos que Marina Morena feitiço ao luar. O jogo parou, a
canção terminou a meninada correndo e dizendo: Chefe! Ela vai ser uma de nós? –
Tenente Bossalto tomou de assalto em nome dos bons costumes e da galhardia
escoteira. Diretor Técnico famoso era um homem brioso e perguntou? Moça! (queria
dizer linda e gostosa, mas não disse) o que queres aqui?
¶ Me aborreci, me zanguei, já não
posso falar, E quando eu me zango Marina, não sei perdoar Eu já desculpei muita
coisa, você não arranjava outro igual.
- Tenente Chefinho, eu queria
ser lobinha, e na Jângal aprender. Não tenho idade, mas que saudade de meus
tempos de criança. Quem sabe uma Escoteira, valente faceira e contigo acampar?
Também não? Isto vejo pelo seu olhar. Pioneira Valente, alguém que nunca mente?
Certo também não posso. E Chefe Escoteira, sem bagaceira meu caro Tenente, será
que tem vaga prá mim? Tenente Bossalto, tomou de assalto seu coração explodiu e
amou aquela mulher. Esqueceu Tereza sua patroa com certeza e com um amor enorme
falou - Se queres aqui ajudar, por favor, não seja rameira, pode ser faxineira
e a limpeza fazer. E ela sorriu, encantando a meninada, fez cantar a passarada
e seu ninho fez ali.
Todos adoraram o arranjo, que
muitos chefes marmanjos voltaram a escoteirar. Até Dulcineia sem dente, uma
Akela de repente, falou prá Chefe Toninha – Olha, deixa prá lá. Um dia a casa
torna, ela não é de bigorna e vai sumir sem voltar. Menino! Nem lhe conto, a
sede ganhou um trinco, a limpeza era um brinco, ninguém esquecia a moça mulher.
Um dois três seis meses ela ficou. Aos Escoteiros ela amou, nem uniforme pode
ter. Queria voltar de Odessa e fazer sua promessa, mas o malvado Chefe Tenente
que tinha amor ardente... Não deixou! A meninada escoteira corria, gritava com
galhardia; - Viva Marina Morena, nossa musa nosso amor!
Um sábado não apareceu.
Desapareceu sem dizer Sempre Alerta. A escoteirada chorava, Tenente Bossalto
cantava sua saudade danada uma bela canção de amor. Mas as chefes feiosas
sorriam. Pensaram ser coisa-feita e agora satisfeitas, brindavam com água
benta, chupando bala de menta diziam: - Ela se foi teremos enfim a paz. Um mês,
dois três, quatro cinco, as saudades aumentando, o sonho de ela voltar
acabando, lembranças se apagando. O tempo dizem apaga o tempo, mas existe
contratempo e mesmo alguns esquecendo no sábado a bomba explodiu. Dulcineia a
Akela sem dente, aquela que nunca mente, se assustou quando viu: Que mundo
louco, será que ela voltou? Cena nunca antes imaginada, Marina Morena a danada,
adentrou sede adentro dizendo que voltou para ficar.
Que dia passado ditosos, um dia
que ninguém esqueceu. Um dia da benção do Senhor, alguém tirou do penhor e eis
que ela surgiu no portão! Um susto, alguém gritou – É ela meu Deus! Seja bem
vinda!. Era Geraldo Magrão. Ela Bonita a danada, até eu levei um baque, ela
vestida de caqui, Chapelão e lenço de Gilwell. Ficou linda demais, sainha
curtinha com pregas, meião cinzento a puxar. Não é que a moça perfeita, moça
demais arteira, estava com a Insígnia da Madeira? – Voltei ela disse, voltei
para de novo partir e dizer adeus mas um dia vou voltar. Aqui não posso ficar,
Meus lideres queridos disseram que sempre me querem lá, disseram-me que nunca
levarei tabefe, pois serei Escoteira Chefe. Deram-me tantas medalhas, que agora
não saio de lá. Sou do CAN, do DEN sou de todos, Escoteira honrosa querida, lá
eu farei guarida e ao escotismo ajudar.
¶ Desculpe, Marina morena, mas eu
estou de mal De mal de você, de mal de você!
E assim termina a história, ainda trago
na memória esta história infernal. Hoje estou de bem com a vida. Se Marina
Morena foi um blefe, e se tornou Escoteira-Chefe não sou capaz de jurar. Só sei
que ainda gostosa, agora ficou famosa e eleita Chefe internacional. Por
unanimidade, foi eleita e sorridente, agora Secretária Presidente, da WOSM.
Dizem que manda em tudo. Dizem ainda enternecido, que Baden-Powell foi
esquecido, ela sim falada em todo mundo, a nova Escoteira Chefe Secretária
Presidente do escotismo Mundial! Risos. E se quer acreditar, saiba que boi não
é vaca, e feijão não é arroz, e se quiser meu amigo, que conte até dois!
Marina Morena é uma canção interpretada por Emílio
Santiago.
Nota de Rodapé: - Apenas
uma história. Diferente das que escrevi. Alguns iram gostar outros não. Eu me
diverti muito quando escrevi. Afinal a cada dia eu me descubro um pouco mais, minhas ânsias e desejos... Isso é fundamental
para dizer quem eu sou, porque às vezes eu mesmo me surpreendo...
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