quinta-feira, 22 de março de 2018

Os contos de Fogo de Conselho. Um lugar chamado Felicidade.



Os contos de Fogo de Conselho.
Um lugar chamado Felicidade.

                  Era uma vez... Uma cidade chamada Felicidade. Pequena graciosa apenas cinco mil almas viventes. Todos amavam sua cidade, tinham sonhos gostavam de sorrir e os habitantes se davam como irmãos. O sol trazia dias incríveis e as noites o céu de estrelas mostrava seu luar. Não havia ricos e nem pobres, todas as casas eram iguais. O Delegado nunca prendeu ninguém.

                 Dois ou três carros na garagem as bicicletas reinavam transportando o povo de Felicidade. As pessoas se amavam, as ruas eram limpas e ninguém jogava papel no chão. As crianças alegres corriam pelas praças, diziam “senhor”, pois não e obrigado. Na escola amavam e respeitavam seus mestres. Nas casas não havia grades e as portas e janelas sempre abertas.

                 À tardinha os casais namoravam com respeito na maior bem aventurança. Felicidade podia ser considerada o sonho de todos que um dia desejaram paz e tranquilidade. O Cabo Damião passava horas na praça cochilando. O Prefeito Nolasco nunca deu golpe honrando a honestidade. Fazia questão de respeitar os parcos recursos que recebia dos impostos de seus cidadãos.  O Juiz Tião desistiu e abriu uma loja de perfume. Dom Carmona o vigário aparecia aos sábados para celebrar a missa na capela cheia de fieis.

               A população sorria quando passava a tropa de escoteiros. Com suas mochilas as costas, um chapelão escondendo a chumaça dos cabelos, um meião cortante até o joelho e a calça curta faziam o sonho de seu Criador Baden-Powell. O Chefe Toledo se orgulhava dos seus meninos. Era uma tropa perfeita. Escoteiros cantantes, sorridentes e a chumaça da patuleia sabia que seus jovens meninos tinham conquistado o que toda cidade sonhava: - A honra, a palavra, a ética e o respeito para ser respeitado.

              Quando fizeram o juramento da bandeira no Campo do Peroba Futebol Clube, a cidade em peso compareceu. Montaram um palanque onde o Prefeito Nolasco o Vigário O Cabo Damião e o Juiz Tião discursaram para a escoteirada.  Não faltou o Cabo Damião e a professora Cacilda e até mesmo o Bispo Dom Joaquim fez questão de estar lá. Chefe Toledo todo envergado no seu caqui descomunal dava o exemplo para aquele povo feliz.

                Foi belo, foi lindo meninos dando continência com três dedos entrelaçados até o ombro e dizendo que iriam fazer um novo Brasil. Durante anos a cria escoteira cresceu. Mas tudo que é bom dura pouco. Uma doença mortal levou para a eternidade o Chefe Nolasco. Tristeza, choro, desânimo, e desalento.

                     Chefe Toledo cometeu um erro de muitos. Não preparou ninguém para substituí-lo. Sempre foi o “Faz Tudo”. Chefe da Tropa, da Alcateia, dos seniores e fazia às vezes da Diretoria. Poderia ter convidado, mas se sentiu possuído pela divindade e pensou que era um Deus Escoteiro. Morreu e ninguém para ficar no seu lugar. A cidade em pânico. Reuniões aconteciam. O prefeito reclamava. Vamos buscar ajuda na sede distrital. Enquanto isso as patrulhas foram diminuindo, não havia mais cantorias, acamamentos e até Ponciano dono da Fazenda Outeiro reclamou da falta dos escoteiros e dos acampamentos.  

                      O distrito não tinha ninguém. A poeira cobriu a sede. Tudo acabou? Virou fumaça? A tristeza invadiu o lugar. O que fazer? O tempo passou. A cidade acabrunhada. A escoteirada sem patrulha esqueceu-se do sol da lua e das estrelas nas lindas noites de fogo de conselho e de luar.

                     Para-raios passou por Felicidade em uma noite de natal. Precisava descansar. Viajante cavaleiro, no seu Cavalo Trombone procurava uma fazenda para comprar. Comprou de dona Chiquita uma casinha atrás da venda do Seu Pascoal. Tinha de tudo. Seu Pascoal alma sofrida ajudava quem não podia pagar.

                     Para-Raios ficou sócio, amou Felicidade. Esqueceu o seu passado. Agora só o presente. Na porta da venda viu dois meninos escoteiros andando devagar, mochilas as costas, e lá na praça começaram a chorar. – O que é isto meu Deus? – pensou. Foi até eles. Uma conversa amena, um sorriso breve, um aperto de mão e ele voltou decidido a voltar. Ali precisam dele, e ele não podia negar. Não seria como em São Domingos, onde a chefia do grupo o despediu sem agradecer e dizer adeus. Um Grupo que só havia ódio em vez de amor.

                    Foi deverasmente bem recebido. Um antigo Escoteiro sabia onde era o seu lugar. Foi até a sede. Um abraço uma promessa. Os três hastearam a bandeira Nacional. Muitos curiosos aportaram para ver o acontecido. Ah! Ainda existe neste mundo um lugar chamado felicidade. A cidade voltou ao que era. Os sorrisos, os abraços e apertos de mão voltaram. O Prefeito Nolasco sorria de orelha a orelha. A missa de Dom Carmona foi a mais bela que já houve.

                    O Cabo Damião suspirou e soltou Bate Boca o bêbado que prendeu. O Juiz Tião sorria, Dona Cacilda suspirava de alegria, sabia que agora a meninada teria juízo, pois Escoteiro é assim, sabe obedecer, tem disciplina e sabe opinar. Ainda me lembro de quando naquela final de sexta, vinte e oito meninos escoteiros passaram marchando, envergando garbosamente seus uniformes com belos chapéus escoteiros rumo a Salamanca, um vale perto do Riacho das Flores onde iam acampar e atrás deles Para-Raios sorria. Ele voltou novamente a escoteirar!

Nota - Era uma vez uma cidade chamada Felicidade. Um lugar lindo, desses que qualquer um de nós gostaríamos de morar. Não tinha rico remediado ou pobre. Não tinha mansão nem favela. Os burricos que pastavam na praça eram bem considerados, as pessoas não brigavam. Felicidade amava seus escoteiros, eles amavam Felicidade até que um dia... Seu Chefe partiu para as estrelas... E quem iria ficar no seu lugar? Então descobriram que não havia mais Felicidade.

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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