Coisas da
vida.
Carol.
Porque você não matricula seu
filho nos escoteiros? Olhei para Jane minha vizinha. - Nem pensar. Ele só tem
sete anos. - Mas é a idade certa. Ele pode ser Lobinho e tenho certeza vai
gostar muito. Tanto pensei que no sábado fui lá conhecer. Gostei do que vi.
Meninos brincando, sorrindo e disciplinados. Fiz sua inscrição e tive a sorte
de ter uma vaga. A taxa mensal era pequena. Os gastos não eram tantos. Gilberto
adorou. Voltou para casa falando maravilhas dos amigos, da Akelá do Balu e da
Bagueera. – Tem outros chefes Mamãe, mas não decorei o nome deles.
Três meses depois me sentia como um
deles. Sempre ajudando onde precisassem de ajuda. Chefe Rildo me convidou a
participar na chefia. – Onde Chefe? Nos lobinhos tem muitos chefes. – Nos
escoteiros Carol. Você aprende fácil. Não é difícil e o Chefe Demétrio está
sozinho.
Assisti duas reuniões deles.
Gostei. Achei errado ter meninas e meninos daquela idade juntos sem uma Chefe
feminina. Tinha minhas dúvidas com o Chefe Demétrio. Sempre me olhava de
maneira lasciva o que não me agradava. – Vai ver que é impressão minha pensei.
Afinal ele sempre foi respeitoso e me tratava com educação. Fiz um curso e
adorei. Comprei alguns livros e devorei página por página. Senti que a Tropa
não crescia. Eram dezoito e alguns faltando.
Quatro meses depois fomos
acampar. Os faltosos retornaram. A escoteirada vibrava com acampamentos. Sempre
cobrando, mas acampar não é fácil. Uma estrutura enorme para montar e realizar.
Insisti com o Chefe Rildo para fazer minha promessa antes de acampar. Convidei
Matheus meu marido para assistir e ele franziu a testa mostrando não estar
interessado.
Matheus sempre foi um bom
marido. Tivemos uma época inesquecível quando casamos. O tempo foi passando e
aquela paixão diminuiu. Eu sabia que o amava e ele era bom pai e bom marido.
Trabalhava muito e chegava em casa cansado. Poucas vezes me perguntou sobre os
escoteiros. Fiz a promessa e até chorei. Foi lindo demais. Pensei comigo que
seria escoteira para sempre. Minha alegria com o acampamento foi como se
tivesse recebido uma injeção de felicidade.
Chegamos ao local pela manhã, o
corre, corre da escolha do campo, a montagem e a meninada cantando e dando o
grito de patrulha quando terminavam alguma pioneiria ou alguma artimanha ou
engenhoca. Ajudei o Chefe Demétrio na montagem do campo de chefia. Duas
barracas uma minha e outra dele. Dividimos o serviço de limpeza e cozinha. Não
dependíamos dos escoteiros para refeições.
Tudo corria a mil maravilhas.
Estava encantada. A alegria de todos era demais. Amei os jogos noturnos, a
conversa ao pé do fogo e no penúltimo dia o Fogo de Conselho. A cadeia da
fraternidade ficou marcada no meu coração para sempre. Após o toque de silêncio
com o Chifre do Kudu todos foram dormir. Fiquei na porta da minha barraca
esperando o sono chegar. Uma banqueta era um convite para ficar olhando o céu
cheio de estrelas.
O Chefe Demétrio se aproximou.
Sentou ao meu lado. Sem eu perceber passou as costas da mão em meu rosto. Senti
um calafrio. À noite, os vagalumes o som da floresta o lago cinzento e o céu
cheio de estrelas me mantiveram hipnotizada. Não sei por que não reagi. Tudo
aconteceu sem esperar. Quando lembro choro do erro que cometi.
O escotismo depois disto
nunca mais foi o mesmo para mim. Disse ao Chefe Rildo que não ficaria mais nos
escoteiros. Tentou saber por que, mas não disse nada. Comecei a faltar. Levava
Gilberto e vi que ele também estava desanimado. Um dia saímos. Fiz questão de
agradecer a todos. Matheus nunca me perguntou por que saí. Acho que ele
adivinhou, pois passou a me dar maior atenção e fazíamos lindos programas
juntos. O Velho amor voltou em todo seu esplendor.
Aquela noite de acampamento
que devia ser a melhor da minha vida só trouxe tristeza e decepção. Ainda gosto
do escotismo, minha promessa nunca esqueci. Sei que não tem volta. Eu errei e
não Demétrio. Ele nunca me procurou nunca me deu falsas esperanças e manteve o
segredo com ele por toda vida. Sei que muitos passam por isto e tudo fica
normal com o tempo. Não era meu caso.
Não voltei mais ao Grupo. Ele não teve culpa. A
culpa foi somente minha. O escotismo é maravilhoso sinto enormes saudades e belas
recordações das reuniões, das amizades dos sorrisos da meninada. Mas eu tenho a
culpa de tudo. Preciso aprender a não desculpar as pessoas, mas primeiro, falta
eu aprender a dizer não!
Nota
- Caí, levantei. Chorei, sorri. Amei, esqueci. Errei, aprendi. Ganhei, perdi.
Fui feliz, sofri. Mas, o que não se pode dizer é que não vivi. Vivi, e ainda
vivo. Com uma intensidade que por vezes me dói, mas, por outras, a maior parte
delas, me faz a pessoa mais feliz do mundo. Histórias são estórias. Nem todas
com um final feliz. Afinal são coisas da vida que acontecem com todos nós!
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