Contos de Fogo de Conselho.
O enigma da Cruz 451 da Colina dos Anjos.
Nota
- Toda estrada tem espinhos, pedras no caminho, mas
mesmo assim eu vou meu coração mandou. Quem sabe assim sozinho cruze o meu
caminho um anjo protetor, meu verdadeiro amor. Zezé de Camargo.
Da sede a Colina
dos Anjos eram menos de duas léguas. Em quilômetros onze mais ou menos. Era um
bom lugar para acampamentos. Boa aguada bambus e um bosque bem fechado que
imitava perfeitamente uma floresta. Acampávamos muito lá. Era fácil, pegar uma
estradinha atrás da Igrejinha do Bomfim no final da Rua Sete de Setembro e
seguir em frente. O bom da caminhada era porque atravessava uma pequena
floresta e isto dava sombra o tempo todo.
Perdi a conta que fui
lá acampar com os Lobos. Era uma delicia empurrar à carretinha na subida da
colina e descer até a nascente do córrego Pingo d’água. Antes da subida saímos
da estradinha principal e através de uma tronqueira aberta pegávamos a trilha
correta da colina. Não foi que todos se assustaram ao ver ao lado da tronqueira
uma área florida com uma cruz de madeira envernizada escrito o numero 451. Era
uma sepultura. De quem? Nunca soubemos de alguém morrer ali.
Era lindo o jardim sobre a
sepultura. Begônias, madressilvas e belas rosa brancas enfeitando o jazigo de
um desconhecido que não conhecíamos. Interessante que três dias depois no
retorno, o jardim estava enfeitado com bromélias, um pequeno pé de jacarandá
Paulista e muitas flores do campo. Como? Como em três dias tudo replantado e
florido? Fomos para casa encucados. Tentei saber na prefeitura, com o Delegado
Paredes e o cabo Bruno. Ninguém sabia de nada. Morte? Perguntaram... Quem
morreu? O mistério da cruz 451 ficava no ar.
Dois meses depois
convidei Rael para ir lá comigo. Fomos de bicicleta. Rápido, menos de 30
minutos e chegamos. Incrível, o jardim aumentou em volta da sepultura. Nunca vi
tantas margaridas e rosas brancas juntas em um só lugar. Uma nova cruz
substituía à velha. Sempre escrito 451. Uma semana depois cortando o cabelo na
barbearia do Seu Manoel ouvi alguém dizer: Roubaram a Cruz do Malaquias no
Cemitério da paz. Encuquei. Quem era Malaquias?
Como bom escoteiro lá fui eu
investigar. Morava na Rua Peçanha, atrás do Grupo Escolar Paulo de Tarso.
Menino dos seus 12 anos tinha a graça dos milagres. Dizia a todos que quando
seu milagre 451 acontecesse ele iria morrer. Fieis batiam em sua porta noite e
dia. Curou cegos, paralíticos, doentes incuráveis, mas nunca curou ninguém que
merecesse o que acontecia em sua vida. Carma de Jesus dizia! Morreu seis meses
depois com seu milagre 451.
Fui até o Cemitério da
Paz. Conversei com Julião o coveiro. – Vado Escoteiro, o jazigo dele sumiu.
Pluft! Assim num estalar de dedo. Contei para ele da sepultura na subida da
Colina dos Anjos. Ele me olhou como se não acreditasse. – Porque não vai comigo
domingo que vem? Fomos. A sepultura não
existia mais! Fiquei com cara de bobo. Voltamos e não falei mais disso. Até que
um dia a Patrulha foi excursionar no Pico da Coruja. Na subida do Morro das
Pedras lá estava ela, a sepultura bem no alto, florida, bonita, flores incrivelmente
belas. A cruz novinha, lustrada, limpa, envernizada e escrita a fogo: - 451!
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