Lendas
Escoteiras
A
felicidade não se compra.
Nota – Qual Escoteiro ou
Escoteira não sonha em ir a um Jamboree? Alguns têm a felicidade de ir outros
ficam nos seus sonhos e outros lutam pra conseguir. Esta é a história de Gino
que um dia foi a um Jamboree!
Gino era um jovem
humilde. Seu pai carpinteiro tinha o hábito de beber vez ou outra. Quando bebia
costumava ficar pelas calçadas jogado como um cão sem dono. A mãe de Gino uma
senhora simples aceitava o marido, pois o amava. Ela fazia questão de ensinar a
Gino ser bom e honesto. Gino nunca pensou o pior para seu pai e o amava também.
Sentia-se feliz com a vida que tinha.
Gino era escoteiro da
patrulha Corvo. Bom escoteiro fazia suas boas ações diariamente. Na sua
patrulha era amado e bem considerado. Gino adorava ser escoteiro. Não era
fácil. Gino só conseguiu ser um escoteiro por uma bolsa oferecida pelo Grupo
Escoteiro. O pai de Gino era trabalhador, mas ganhava pouco e mal dava para as
despesas da casa. Ele e Gino quase não conversavam por causa da bebida.
Gino nunca disse a
ninguém que seu pai bebia. Isto o entristecia muito. Um dia sem esperar ele
apareceu na sede pensando que era dia de festa. Estava bêbado, quase caindo e
Gino não sabia onde se esconder. Seu pai não deu vexame, mas o Chefe da Tropa
notou e olhou de maneira embaraçosa para Gino. Naquele dia Gino quase morreu de
vergonha.
Foi nos avisos no final
da reunião que seu Chefe falou do Jamboree Brasileiro daí a dois anos. – Será o
maior acampamento já realizado no Brasil falou. Gino disse para sí mesmo: -
Agora é minha vez. Neste eu vou se Deus quiser. Afinal chega de ver os amigos
retornando e contando seus casos. Ele também iria contar os seus. Não tinha
este direito? Tristeza na alma e sorriso nos lábios chega, ele pensava.
Quem quer anda quem não
quer manda pensava. Iria nesse Jamboree de qualquer jeito. Gino era excelente
nas técnicas Escoteiras e todos seus amigos o admiravam. Seu Monitor prometeu
que ia fazer dele um Lis de Ouro. No entanto ele tinha outro sonho. Participar
de um Jamboree.
Foi para casa sorrindo e
fazendo planos. Desta vez estarei lá. Tinha que juntar mais de mil reais. Só a
taxa seria de setecentos. Sonhou que era possível. Um Jamboree Nacional?
Incrível! Uma apoteose! O Máximo que ele podia pensar. Milhares de escoteiros e
escoteiras. Ele jurou a si próprio que não iria perder essa.
Comentou com seu pai e sua mãe. Eles
balançaram a cabeça concordando e tristes por não poderem ajudar. Ele ia
conseguir. Começou a economizar. Lutou para juntar um dinheiro lavando carros, limpando
quintais e fazendo tudo que os vizinhos pediam. O tempo passou. Faltavam seis
meses para a partida ao Jamboree. Gino já economizara mais de
setecentos reais. Faltavam somente uns trezentos para o transporte e
alimentação.
Gino
tinha um uniforme antigo desbotado e sabia que não poderia fazer outro. Ia com
ele mesmo. Escoteiro trabalhador já tinha comprado seu chapéu de abas largas,
sua faca, sua bússola e seu cantil. Iria se apresentar garboso, não ia
envergonhar ninguém. Aguardava o Chefe avisar o dia para pagar a inscrição.
Naquele sábado ao final da
reunião foi com amigos da Patrulha ver um jogo de Basquete em uma quadra perto
de sua casa. Viu seu pai chegando. Assustou. Outra vez pensou? Já havia meses
que ele não bebia. Tinha prometido parar. Mas não era o que pensava, não estava
bêbado. Seu pai o procurava. – Filho sua mãe estava muito mal e no pronto
Socorro o médico deu uma receita enorme. Não tenho como pagar. Sei do seu
sacrifício para ir ao Jamboree, mas só você pode ajudar. Só você pode salvar
sua mãe. O mundo de Gino caiu sobre ele. Ele amava sua mãe.
Gino não iria negar nunca.
Foi com o pai e deu toda sua economia. Oitocentos reais. Seu sonho acabou.
Jamboree, adeus! Gino não chorou, mas por dentro sentia que não merecia viver.
Sonho? Ele sabia também que sua mãe valia muito mais que um sonho.
Durante cinco dias sua mãe
ficou entre a vida e a morte. Numa manhã ela sorriu. Bom sinal pensou. O
sorriso de sua mãe foi um balsamo para a tristeza dele. Tentava esquecer o
Jamboree. Tinha de esquecer. Agora era esperar eles voltarem para ouvir os
amigos contarem como foi. Quando no sábado o Chefe avisou do pagamento da taxa,
Gino chorou. Quando o chamaram ele só disse com voz miúda: - “Chefe eu não vou
mais”! A patrulha não acreditou. Sabiam que tinha ajuntado todo o dinheiro. Gino
com a garganta engasgada não disse mais nada.
Gino foi para casa
pensando como a vida era ingrata. Não tinha escolha entre o Jamboree e sua mãe
ela vinha em primeiro lugar. Sonhou tanto com esse Jamboree e o sonho morreu. Em
casa não sorria e não chorava. Tinha sempre para ela um sorriso amargo. No seu
quarto chorava, mas entendia sua vida. Sua mãe diversas vezes o abraçava e isto
ainda era um consolo para ele.
O sábado dia da partida
amanheceu com sol e um céu de brigadeiro. Gino foi para a janela ver o ônibus
da tropa passar. Calado e taciturno não sorria e não chorava mais. Não
adiantava. Deus dizia dai-me força. Vai ser difícil sair dessa fossa! Gino foi
para o quintal e sentou embaixo de uma mangueira frondosa.
Dormiu e sonhou com um anjo
a lhe dizer sorrindo: Gino, você vai conseguir. Você vai ao Jamboree! Acordou
assustado. O ônibus buzinou na frente de sua casa. Ele viu seu Chefe seu pai e
sua mãe sorrindo. Vá se preparar meu filho, você vai para o Jamboree! Falou sua
mãe. Foi demais. Ele não estava acreditando. O chefe da tropa contou que todos
se cotizaram. Souberam do seu ato de grandeza. Um escoteiro assim
não ia ficar para trás. Gino deu um salto. Gritou alto. Viva! Ainda tenho
sonhos e eles estão sendo realizados.
Brincou e cantou na viagem.
No Jamboree todo pomposo cumprimentava a todos e dizia: Eu? Sou de Mira Flores
e você? E assim ia abraçando a escoteirada. Canadá, Estados Unidos, México,
Inglaterra, muitos países. Gino nunca soube quantos. Quando do último dia, os
olhos de Gino encheram-se de lagrimas. Desta vez de alegria. Uma grande cadeia
da fraternidade. Cantada em vários idiomas.
O
ônibus, a chegada, a mãe e o pai esperando. Gino gritando – Mãe! Consegui! Mãe
eu fui ao Jamboree! Mãe, oh mãe, me abrace, sou o menino mais feliz do mundo!
Seus pais choravam de alegria. É. Gino conseguiu. Ficou marcado para sempre em
sua vida. Seu sonho foi realizado. Ele pensava e dizia em voz alta – Eu não
fiquei olhando a montanha. Eu a escalei. Vi o outro lado. Gino sabia. A chave
da felicidade é sonhar. A chave do sucesso é fazer dos sonhos a realidade. O
mais importante na vida não é o triunfo, mas a luta para alcançar.
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