terça-feira, 18 de setembro de 2018

Lendas Escoteiras. Nunca é tarde para perdoar.



Lendas Escoteiras.
Nunca é tarde para perdoar.

Nota - Nota - Errar é humano, aprender com o erro é ser sábio, perdoar quem errou é ser os dois ao mesmo tempo. A nossa lei sempre nos ensinou a sermos irmãos. Não há como não perdoar um irmão. Feliz quem sabe perdoar, pois a felicidade é assim. Fazendo os outros felizes com seu perdão!

                       Gente fina o Robertinho. Alegre, feliz, abraçava todo mundo quando chegava às reuniões. O escotismo o transformou. Era outro jovem, diferente daquele taciturno, sem amigos em sua escola e em sua rua. Mudou e como mudou! Mesmo na Patrulha ele fazia questão de honrar o nome dos Touros. Sabia que tinha sete novos amigos, fora o Monitor Tolon. Sentia-se bem com eles. Tolon não era um bom monitor. Gostava de mandar, humilhar, e se gabar que só ele era o bom.

                     A patrulha cabisbaixa não reclamava. Ele nunca valorizou ninguém. Nem mesmo Nicodemos o Submonitor. Robertinho aprendeu muito com Nicodemos. Era ele um bom camarada que sabia conversar e respeitar. Aprendeu tudo para tirar o Cordão Verde e Amarelo. Não recebeu, pois Tolon não concordou. Ele achava que só ele tinha o direito de receber primeiro. Ele era o Presidente da Corte de Honra e o Chefe Givaldo fazia questão de deixar tudo nas mãos dos monitores.

                        Interessante que por dois anos ninguém saiu da Patrulha mesmo com um monitor mandão, gritador, que vivia chamando a todos de mariquinhas, preguiçosos e negligentes. As outras patrulhas não gostavam de Tolon. Moreno monitor da Gaivota o achava prepotente, abusado e despótico e Tolon ria. Achava-se o tal. – Não vou passar talquinho em ninguém – dizia. O Chefe Givaldo atento chamava sua atenção, mas o Chefe era um pai, uma mãe, um irmão. Nunca o vi de cara feia. Quando a situação apertava ele chamava Tolon em particular e tentava falar. Mas gaguejava mais do que falava.

                     A tropa o considerava muito. Respeitavam-no e tinham por ele uma enorme admiração. Se não era enérgico, dominante não importava. Bastava ele sorrir e a Tropa se desmanchava. Uma vez em uma atividade distrital Tolon se envolveu em um bate boca com o monitor de outro Grupo Escoteiro. Do conflito saíram para os tapas. Foi uma encrenca e até hoje os chefes das demais tropas evitavam participar em atividades onde estivessem os Touros, ou melhor, Tolon.

                       Tolon não se incomodava. – Dizia: - Comigo bateu levou. Se for para desculpar melhor não ser escoteiro! - Mas afinal o que tinha Tolon de tão interessante para seus patrulheiros confiarem nele e nunca terem pedido para sair? Ele não era feiticeiro, muito menos agradável. Aparência divina passou longe. Era inacreditável que se mantinham fieis a ele e a patrulha. Ele ambicionava ser um Lis de Ouro.

                    Ninguém colocava a mão no fogo para apoiá-lo. Não era preguiçoso, mas parecia ter mente curta para aprender e ter tudo que sonhava. O chefe Givaldo sabia que se fizesse o processo para pedir seu Lis de Ouro o distrito não iria aprovar. Quem sabe daí nasceu toda sua cólera, seu arroubo e rompante de levar tudo a ferro e fogo. Ainda bem que a patrulha no fundo gostava dele. Sem destempero e seu rompante era levado sem reclamação pelos seus subordinados.

                       Se havia alguma qualidade em Tolon eu nunca vi. Fiquei deverás preocupado com a maneira que Tolon tratava Robertinho. Era mau, intragável e humilhante. Robertinho não reclamava. Seu amor ao escotismo e a patrulha era maior que a prepotência de seu monitor. Durante mais de um ano e meio Robertinho foi subserviente, aceitava o mau humor mesmo não conseguindo seu sonho de conquistar o cordão Vermelho e Branco. Neste Período a patrulha perdeu Humberto e Laerte. E não foi por causa do monitor. Humberto foi morar em outra cidade e Laerte foi trabalhar como continuo nas Lojas Estrela. Interessante que entraram dois meninos que moravam na Rua de Tolon, e olhe que o conheciam de sobra no bairro.

                       Dizem que tudo nesta vida tem uma razão de ser. Tudo que acontece tem um motivo para acontecer. Eu sei que a vida não é tão simples como se pensa, mas se fosse, qual seria a graça de vivê-la? Destino ou não tudo aconteceu no acampamento de verão. Alegres, cantantes, lá iam eles empurrando a carretinha com as rodas de madeira cantando. Era um desafio fazer as rodas cantarem. Subindo e descendo todos ansiosos para mais um acampamento esperado por muitos meses.

                    Claro que Tonon não fazia força, só quando em subida íngremes. – Dizia gritando: - Eu já fiz muito isto agora é com vocês. Afinal são escoteiros ou ratos? E ele ria, dava gargalhadas e a patrulha seguia para seu acampamento tão esperado. Até hoje não sei como aconteceu. Estava ajudando a patrulha na descida segurando à carretinha quando vi um grito. Robertinho perdeu o equilíbrio e foi ao encontro da cerca de arame farpado a beira da estrada.

                        Eu sei que foi Tonon quem o empurrou. Logomarca da patrulha Onça parda confirmou. Todos correram para ajudar. O olho direito de Robertinho sangrava. Havia um buraco parecendo que uma ponta do arame rasgou parte do seu olho. Tolon ficou branco. Robertinho chorava, mas não acusava ninguém. O Chefe Givaldo tentando animar. Nicodemos tirou seu lenço amarrou em volta de sua cabeça e com outro lenço forçava o olho ferido de Robertinho. A Tropa ficou na estrada esperando a volta do Chefe Givaldo e Nicodemos que foram buscar socorro. Infelizmente o acampamento foi cancelado. Eles sabiam que o acontecido tinha um sabor de derrota. Dois meses depois Robertinho foi para a capital morar com sua tia e tentar uma operação que afinal nunca aconteceu. Ele ficou cego de um olho.

                           O tempo passou... Contaram-me que Robertinho já velho se encontrou com Tolon um dia na Rua do Ouvidor. Ambos pararam. Tolon abaixou a cabeça e começou a chorar. Robertinho não esperava aquela demonstração de fraqueza de Tolon também um Velho de cabeça branca. Fraqueza? Chorar é para os fracos ou para os fortes? – Robertinho abraçou Tolon sorrindo. Meu amigo, a vida passa e as magoas também. O que passou, passou. Hoje alguém no céu achou por bem que nos encontrássemos novamente. Isto não é bom? Afinal não temos muitas historias boas para contar dos nossos tempos de meninos escoteiros?

                         – Tolon ali no meio da rua, com dezenas de pedestres passando ajoelhou em frente a Robertinho: - Perdão meu amigo, perdão. Vivi todo este tempo amargurado. Porque fiz aquilo? Pedi a Deus para me perdoar, mas sabia que só seu perdão poderia me dar à paz que nunca tive. Pois é, ainda bem que ouve perdão. Nunca é tarde demais para mostrar que não existe mais rancor e ódio!

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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