quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Lendas Escoteiras. A saga da Tropa 222.



Lendas Escoteiras.
A saga da Tropa 222.

Nota: Conto baseado no primeiro capitulo de um novo livro que estou escrevendo. Espero terminar antes de partir para o meu Acampamento no céu. Divirtam-se com este começo. “Quando a vida lhe oferece um sonho muito além de todas as suas expectativas, é irracional se lamentar quando isso chega ao fim”.

Capitulo I – 1956
Tudo tem seu tempo, sua hora e lugar.

             - Vai cair! Deus do céu eu não aguento mais segurar! – Xavier com seus 12 anos gritava sem parar. Ele não estava só havia mais dois com ele. Mas a chuvinha fina incessante caia sem parar, a estradinha ia desaparecendo e com ela a carretinha da patrulha. Castelo gritou alto – Segurem! Vou tentar pegar o material com a corda por cima. Vi uma fenda bem próximo da estrada no alto e cabia até duas pessoas. Todos olharam e viram também. Estava enlameada. Não seria fácil ir até ali, mas todos sabiam como Castelo era. Tudo para ele era sempre um desafio e ele nem pestanejava. Para isto era o Monitor. Silva correu para ajudá-lo. Conseguiu. – Gritou para Tavares – Suba na carretinha, amarre primeiro o saco de patrulha e depois o material de sapa! E vocês segurem, pois se não vai o Silva e a carreta cair pelo despenhadeiro! Tavares gritou de alegria. A carretinha parou de escorregar. Já quase vazia conseguiram tirar a roda que balançava no ar. Moreira sorriu aliviado. Pensou que não ia sobrar nada, o medo estava passando. Botelho tentava ajudar, mas sua perna doía demais. Foi ele o culpado quando a chuvinha começou e foi coçar as costas perdendo o equilíbrio e a carretinha começou a cair no precipício.

       Depois do susto todos os olhares era para Coutinho, ele abaixou a cabeça. Afinal foi ele quem deu a sugestão de alterar o caminho. – Foi o Seu Rinaldo da venda quem me ensinou. Disse que se passássemos pelo Morro do Sultão iriamos economizar mais de uma hora na jornada. – Coitado do Coutinho. Se a carretinha tivesse caído ele nunca iria deixar de se culpar. No principio não foi difícil. Eram sete e a carretinha não estava tão pesada. Foi na volta do Macuco, logo após passarem pela Porteira que tudo começou a ir por água abaixo. Uma chuvinha fina, a terra formando barro, a carretinha deslizando e o perigo chegando. Se tudo estivesse seco não haveria perigo algum. Qualquer mancada eles sabiam que era uma garganta profunda, mais de oitenta metros. Uma queda fatal. Castelo gritou alto com todos: - Deixem o pobre do Coutinho em paz, ele só queria ajudar! Vamos partir, pois temos menos de duas horas antes que escureça! – E lá foram eles, agora mais fácil só descida. Meia hora e avistaram o local do acampamento. O Vale das Sombras era um local excelente para acampar. Conhecido do Chefe Nonô e plenamente avalizado pelo Chico Totonho. Dono da Fazenda Santana. Tinham ido lá uma vez com ele em um domingo. Escolheram outro caminho e nada deu certo.

       O acampamento estava marcado. O Chefe Nonô expediu um estafeta para avisar aos demais de uma reunião urgente com os monitores e subs. Eram somente sete em treinamento para quando fizessem a promessa e os demais inscritos entrassem. Fazia três meses que estavam juntos e muitos não se conheciam antes de serem escoteiros. Quando fizeram à promessa eles mesmos juraram que seriam amigos e irmãos para sempre. Nenhum deles conhecia o Chefe Nonô, ficaram sabendo depois que era novo na cidade. Ninguém o viu chegar. Matreiro não mostrava o rosto. Ele chegou quando o sol estava se pondo. Dormiu na Pensão da Dona Gloria e no dia seguinte todos comentavam que ele tinha comprado a Loja do Raimundo. Uma loja simples, mas com bom tamanho na rua principal. Em menos de dois meses era a maior loja de eletro domésticos da cidade. Sem que a cidade percebesse foi conquistando a todos que entravam em sua loja.

     Todos foram chegando e se assentado em volta da mesa. Não era comum o chamado do Chefe, mas naquela noite ficaram sabendo o porquê da convocação. Era comum sempre fazerem reunião de monitores e subs. Chefe Nonô explicou a todos que ficaria fora por um mês e que a patrulha devia continuar se reunindo. – Afinal vocês não podem ficar sempre dependentes não acham? Ele disse. Tem que fazer como Caio Vianna Martins, o Escoteiro caminha com suas próprias pernas! – Moreira o Cozinheiro riu. Ele se lembrava da história e até gostou. Pediu ao Chefe que escrevesse para ele guardar na sua pasta Escoteira. Quem não gostou muito quando soube da viagem foi Castelo. Ele sonhava com o acampamento marcado para o sábado seguinte no Vale das Sombras. Eles conheciam o local. Fizeram uma atividade lá em um domingo. Era meio escondido, o sol quase não aparecia por causa das montanhas em volta. Mas tinha uma linda cascata, um local gramado e bambus à vontade. Tudo tinha sido preparado pelo Xavier o intendente. Nada faltava. Ele fez questão de afiar as ferramentas, limpar as duas barracas e as panelas apesar de velhas sempre brilhando.

         E então Chefe, vamos cancelar o acampamento? Chefe Nonô ficou pensativo. Foi Tavares o sub quem deu a ideia – Porque não vamos com a patrulha? Não somos unidos? Não estamos preparados? E olhou para o Chefe Nonô. – Ele pensou e disse que queria ouvir a opinião de todos! – E assim pela primeira vez a patrulha iria acampar sozinha. Ficou determinado que cada um trouxesse a autorização dos pais por escrito. Não foi difícil. Para explicar aos pais a patrulha comparecia completa na casa de cada um. Só o pai do Botelho teve duvidas, mas tantos a falarem ao mesmo tempo, que ele para se livrar deu a autorização. Tudo certo para a partida. Chefe Nonô viajou naquele dia mesmo. Ninguém sabia onde ele foi. Ele não contava nada. Sempre viajava sem dizer para onde. O que fazia era uma incógnita. Gostavam dele, nunca viram um adulto como ele amigo dos jovens, sabia ouvir e aconselhar claro se os Escoteiros pedissem. Ele sempre dizia que se conselho fosse bom se vendia e não de graça como é hoje.

        Chegaram ao Vale das Sombras às quatro da tarde. Cada um já sabia o que fazer. Haviam treinado antes. O tempo melhorou o céu estava limpo e sem nuvens. Em pouco tempo as barracas ficaram de pé, Moreira improvisou um fogão tropeiro até que o suspenso ficasse pronto. Uma mesa na cozinha foi feita por Silva e Botelho. A noite chegou mansa, calma e gostosa. Uma brisa leve do norte soprava levando a fumaça do fogo para outras paragens. Nada deu errado. Castelo sorria aliviado. Ele ficou com medo de acamparem sem a chefia. Mas graças a Deus todos sorriam e ele sabia que aquele sorriso era porque estavam gostando do acampamento. – Interessante, pensou Castelo o que três meses de convivência pode fazer. Ele sentiu as mudanças desde o primeiro dia. Cada um desconhecendo o outro. Alguns querendo mandar e outros a criticar tudo que se fazia. Agora não eles pareciam uma família. Mas não era este o objetivo? Não é assim que se vive em grupo? Bem pelo menos foi assim que o Chefe Nonô nos explicou.


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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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