sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Histórias da Jângal. Como Apareceu O Medo... E outras histórias.



Histórias da Jângal.
Como Apareceu O Medo... E outras histórias.

Nota - O conto é mais introspectivo, menos divertido, e é sem dúvida o conto mais sério de Mowgly. É muito tocante, Mas o conto faz o necessário: termina a história de Mowgly de forma tocante, simples e direta, com elementos simbólicos permeando tudo.

Essa história se passa antes do primeiro conto, quando Mowgly ainda vivia com os animais na selva. É tempo de seca e todos os animais se reúnem no Poço da Paz, um dos poucos locais que acumulam água e onde a caça é proibida e todos, carnívoros ou herbívoros, vão até ali sem medo para beber. Shere Khan perturba a paz reinante e Hathi, o elefante, o animal mais sábio da floresta, resolve contar a história de como, por culpa de um tigre, o medo surgiu entre os animais.

Eu pessoalmente acho esse um dos contos mais sem graça do livro, apesar de reconhecer seu valor como lenda indiana coletada pelo autor. Os personagens nada fazem na história a não ser ouviu o conto de Hathi, e sinceramente isso não é das coisas mais empolgantes.

O Avanço da Selva
- Depois que Mowgly é expulso da aldeia dos homens – fato descrito no conto Tigre! Tigre! – ele resolve deixar as coisas como estão e voltar para a selva, onde ele agora acredita que pertence pelo resto da vida. Mas aí ele e seus amigos lobos ouvem o caçador Buldeo conversando numa trilha com alguns carvoeiros, e Mowgly descobre que a aldeia vai queimar o casal que o acolheu como feiticeiros por terem abrigado o menino-demônio.

Enfurecido, Mowgly vai até a aldeia e conversa com Messua, a mulher que o acolheu, e a encontra machucada e amarrada dentro de uma casa. O marido dela explica – mas Mowgly não entende bem – que o motivo real pelo qual estão sendo acusados é que ele é um dos homens mais ricos da aldeia, e se ele for queimado como feiticeiro todos os seus bens serão redistribuídos, O cheiro do sangue de Messua faz com que Mowgly tome a decisão definitiva. Ele planeja resgatar ela e o marido, arranjar uma “escolta” até a cidade mais próxima onde os ingleses têm base – os ingleses não aceitam essa bobagem de queimar vivos os acusados de feitiçaria – e destruir toda a cidade.

Para isso ele pede a ajuda de Hathi, o elefante, que já participou de uma destruição semelhante, quando foi pego por uma armadilha e resolveu se vingar dos homens que a tinham armado. Não estamos falando de um simples duelo entre dois seres que são inimigos. Estamos falando da destruição de casas e fazendas de dezenas de pessoas para a vingança pessoal de um garoto pesado. E o pior – ou melhor – é que é tudo baseado em história real: existem relatos na Índia de elefantes enfurecidos com um indivíduo, por terem sido atacados durante caçadas, que voltaram para a cidade do tal e destruíram tudo.

O Ankus do Rei
Muito favorito! A história pode ser dividida em duas partes, a primeira com Mowgly e Kaa e a segunda com Mowgly e Bagheera. Primeira parte: o que eu chamo de A Cobra Branca. Mowgly e Kaa estão brincando de se espancar – é normal, gente, amizade – e Mowgly, depois de perder da cobra, reclama que está entediado. Kaa se lembra de uma colega muito estranha que encontrou nos subterrâneos das Tocas Frias e decide levar o colega até lá.

Sem muito a contara, o fato é que Kaa sai dali mais do que certa que sua colega descolorida é completamente louca e Mowgly sai segurando uma peça que ele gostou muito: um cetro com um gancho na ponta, decorado com coisas brilhantes e desenhos de elefantes, que atraem Mowgly imensamente porque o lembram de seu amigo Hathi.

A segunda parte, é quando Mowgly, ao conversar com Bagheera (que já viveu entre os homens), descobre pra que serve o tal cetro: é um Ankus, usado por rajás para enfiar na cabeça dos elefantes que cavalgam para fazê-los andar mais rápido – o equivalente a esporas. Mowgly fica horrorizado que aquilo tenha sido usado para machucar animais e o joga longe, mas Bagheera o alerta de que se cair em mãos erradas – ou seja, nas mãos de homens – vai dar problema. Mowgly, que não entende porque os rubis e esmeraldas, dos quais ele nem sabe o nome, encrustados no Ankus são interessantes, ignora o aviso e vai dormir.

No dia seguinte, o Ankus não está mais onde ele o havia jogado, e pelas pegadas o objeto foi pego por um homem. Curiosos, Mowgly e Bagheera passam a seguir os rastros. Aqui a crítica social fica mais do que clara. E, além dela, tem a história da Cobra Branca, ou Thuu, como Mowgly a apelida, que é de uma graça só dela: os tesouros perdidos dos antigos rajás da Índia são para qualquer criança dar asas à imaginação.

Os Cães Vermelhos
- Esse é, sem dúvida, o melhor conto de Mowgly.
Porque os dholes, os cães vermelhos das planícies indianas, estão invadindo a selva, e eles vêm em excursão sangrenta, para matar tudo o que veem. Do começo perfeito, com o pheeal (grito de morte de um lobo) deixando a todos de cabelo em pé, passando pelo meio, quando o conselho de Kaa faz com que Mowgly arrisque sua vida como nunca antes, até o final, com a batalha épica contra os cães vermelhos, esse é sem dúvida a obra prima do livro: aterrorizante, desesperador, épico, o conto poderia fechar a série da vida de Mowgly com maestria.

O Despertar da Primavera
E Mowgly chega à idade adulta. Quase todos os que conhecia na selva já estão mortos. Os que sobraram estão pouco se importando com sua crise existencial, já que é primavera e todos estão ocupados com seus afazeres. Entediado, deprimido e irrequieto, Mowgly vaga pela floresta sem saber o que lhe acomete.

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