Lendas escoteiras.
O
fantástico voo do paraquedas amarelo.
Nota – Quem um dia não sonhou em
ganhar um paraquedas e fazer uma grande barraca para toda Patrulha! Sonhos de
muitos realidade de poucos. Quem sabe esta história irá dar uma volta no tempo
para os Antigos Escoteiros matarem a saudade com um paraquedas amarelo.
Quando somos crianças temos
sonhos, desejos e não nos preocupamos se serão alcançados ou não. Basta sonhar.
Criamos em nossa mente tudo aquilo que gostaríamos de realizar. Nada há ver com
a história, mas quando minha mente me leva ao passado de criança, lembro-me da
personagem de Dibs: em busca de si mesmo. (autoria de Virginia M. Axline) È a
história de uma criança que lutou pra conquistar sua identidade através do
processo psicoterápico. O Livro oferece uma visão daquilo que chama busca de si
mesmo. No final Dibs consegue emergir como uma pessoa brilhante e talentosa. Um
verdadeiro líder.
Eu estava com treze anos.
Pertencia a patrulha da Raposa. Éramos sete. Uma felicidade sem par. Sem
televisão, sem internet, ainda sem pensar nas namoradas a patrulha escoteira
era nossa vida. Reuníamos praticamente todos os dias. Amigos dentro e fora do
escotismo. Cuidávamos com cuidado de nossa intendência. Pobre claro. Pouca coisa
– um lampião vermelho a querosene, panelas de alumínio doadas por nossas mães,
uma machadinha um facão tudo conquistado a duras penas. Duas barracas de duas
lonas era nosso céu nos acampamentos. Daquelas usadas pelo exército na década
de trinta.
Estavam velhas e por mais
que cuidássemos elas estavam se diluindo. Não tínhamos mais o que fazer. Tudo
que nos disseram para fazer fizemos. Estava difícil acampar. Lonas extras? Nem
pensar. Um preço que não tínhamos como pagar. Um dia achei uma revista na casa
de uma tia, e vi um lindo pára-quedas. Encantei-me com ele. Mas como ter um
para nós? Seria uma grande barraca. Daria para armarmos facilmente e caberia
todo mundo.
Sabia que era um sonho. Cidade
pequena, só um cinema, uma igreja, uma praça com um coreto, alguns ricos e a
maioria pobres. Em nossos acampamentos de fins de semana perdíamos muito tempo
montando abrigos naturais. Tínhamos uma técnica própria, mas mesmo assim
perdíamos tempo na construção. Um dia, acho que foi em um domingo de sol, vimos
um avião sobrevoando a cidade. Uma surpresa. Isto nunca acontecia. Só ouvíamos
os roncos de um que passava todas as quartas feiras pela manhã.
Em dado momento, vimos alguém voando
fora do avião (um teco-teco). Um pára-quedas se abriu. O povo da cidade parou.
Embasbacados todos olhavam para o céu. Que beleza! Que espetáculo! O homem do
céu caiu bem na praça e um bêbado que todos chamavam de Sebastião Barrigada
ajoelhou-se no pé do paraquedista e gritou bem alto – Louvado seja Nosso Senhor
Jesus Cristo! Todos caíram na risada.
Eu não tirava os olhos do para
queda amarelo. Ele enrolou tudo com carinho e explicou que sua irmã iria se
casar e ele não queria chegar atrasado. Por isto o salto no pára-quedas. Ele
não iria decepcionar Mercedes. Conhecia-a. Irmã de Laudivino nosso sub.
Monitor. Grande. Fui correndo a casa dele. Chamei os demais da patrulha.
Conseguimos o para quedas. Arquimedes o irmão de Laudivino nos presenteou. Um
presente dos céus!
Levamos o pára-quedas para a sede.
Todos os escoteiros do Grupo se juntaram a nós. Ninguém tirava os olhos dele.
Chefe Jessé chegou mais tarde. Sorriu. Grande chefe! “Fazer fazendo” era seu
lema. Abrimos o pára-quedas para conhecer melhor. Muitas cordinhas de nylon que
não conhecíamos. Uma época de cordas de cânhamo. Aquelas de fibras nos faziam
arregalar os olhos. Foi aberto o para quedas. Nossa sede ficava na entrada da
cidade. Na estrada do Alvarenga. Próximo ao rio das Flores.
Um pé de vento apareceu de uma
hora para outra. Levantou o pára-quedas. Todos correram. Eu não. Agarrei-me as
cordas. Amarrei-me em uma delas. Era meu sonho! Não iria perdê-lo nunca! Fui
levantado no ar. O pára-quedas com a força do vento se elevou a vários metros
de altura. Virei um menino voador. Um medo incrível, mas não larguei o
pára-quedas. Fui elevado a mais de oitenta metros de altura. Não vi. Meus olhos
se mantinham fechados. Pedia a Deus que não deixasse perder o paraquedas.
A cidade inteira viu o menino Escoteiro
voando nas alturas agarrado ao pára-quedas amarelo. Não entenderam nada. Uma
multidão seguiu o pé de vento e o pára-quedas. Ele desceu suavemente na baixada
do cristão. Graças a Deus! O local não tinha árvores e era um descampado onde
acampamos várias vezes. Não tive um arranhão. Todos bateram palmas. Abri os
olhos e vi uma multidão em minha volta. Sebastião Barrigada estava lá ajoelhado
– Louvado seja o menino filho de Deus! Disse.
O pára-quedas deu uma linda
barraca. Durou anos. Mesmo depois que fui para os seniores e finalmente os
pioneiros, lá estava os raposas orgulhosos de sua barraca de pára-quedas. A
única nas redondezas. Ninguém tinha. Só ela. A Raposa que nunca mais esqueci.
Não sei o que aconteceu depois. Cresci, mudei de cidade, participei de outros
grupos, mas acreditem, nunca mais esqueci o fantástico pára-quedas amarelo. Um
sonho que se realizou!
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