Lendas
escoteiras.
E a vida
continua...
Nota - Para mim ela
sempre foi uma grande amiga. Apaixonou-se por alguém que não lhe daria o que
ela merecia. Diziam nas patrulhas que eu seria seu grande amor, mas não fui. O
tempo não explica nossos sonhos de menino. O final foi triste e doloroso, mas a
vida é assim, a vida continua para quem precisa viver!
- Você a conheceu? Olhei para
Lisbela. Sim... Foi minha melhor amiga. Tive muitas amizades com uma jovem foi
à primeira. Quando ela adentrou na sede naquele sábado chorando não dei nada
por ela. Ela gritava chorava que não queria e sua mãe praticamente a arrastava.
Usava um vestidinho comprido rosa, cabelos presos em um rabo de cavalo. Pensei
comigo: Outra chorona? O Akelá Flavio Antunes me apresentou. Esta é Ruth, vai
ser Lobinha da sua matilha.
– Olhei para ela... Parou de
chorar. Olhou-me espantada e me deu um sorriso. Sorri também. Ali tudo começou.
– Lisbela perguntou: - E como foi que tudo aconteceu? – Não respondi de
imediato. Lembrar doía muito. Foi um golpe do destino. Meus pensamentos se
misturavam. - Ruth confiava em mim. Na matilha sempre ao meu lado. Nos jogos
nos acantonamentos aonde ia ela ia também.
- A Akelá não via com bons
olhos. Ruth cresceu. Eu também. Muitos interpretavam mal aquela amizade. Eu amava
Ruth como uma grande amiga e irmã. Eu era o único que ela sorria e conversava. Fiz
a passagem para a Tropa e ela não. Como chorou. – Gritava e dizia: - Não vá!
Não sei viver sem você! Sem você não serei mais Lobinha. Após o Grito da
Patrulha olhei para ela no círculo de parada. Chorava. No final da reunião
tentei consolá-la. Impossível.
Um ano e veio me contar: -
Vou fazer a trilha, breve estaremos juntos outra vez. Não demonstrei afeto.
Aprendi a ficar longe dela para esquecer. Mas sentia enorme falta.
Criticaram-me pela proteção que dava a ela. Pedi ao Chefe para ficarmos na
mesmo Patrulha. Disse não sem explicar. Ruth cresceu, ficou uma moça bonita e
chamava atenção dos demais. Eu sentia ciúme como amigo e não como namorado. Era
uma irmã que nunca tive. Morava no meu coração.
Brincamos, acampamos em
atividade de sede ou fora. Ia com ela ao cinema ao Shopping, fomos passear de
trem e ficava admirado em ver seu sorriso sua vivacidade olhando pela janela
voando como se tivesse asas. Fui para os Seniores e logo me avisou que já iria
fazer a Rota Sênior. – Olhei para Lisbela. Vi que ela sofria na medida em que
contava sobre Ruth. Eu também estava emocionado. Era cruel essa lembrança.
Sabia que do destino ninguém foge.
Quando ela me disse que
ia partir, não acreditei. – Meu irmão vou-me embora. – Embora? Sua família vai
mudar? – Seus olhos encheram de lágrimas. – Conheci alguém. Apaixonei-me
perdidamente. Os pais dele não aceitam minha mãe acha que sou nova. Acho que sou
bastante madura para tomar uma decisão. - Encontrei um grande amor e não vou
deixá-lo para trás.
– Não perguntei quem era.
Não tinha esse direito. Não me disse quem era só me abraçou me deu um beijo na
face, segurou minha mão esquerda com a dela, apertou e disse: - Adeus! Partiu
naquela tarde de setembro sem dar adeus aos que dela gostavam.
- Olhe Lisbela parecia
que o amor abandonado era eu. Não parecia amizade, mas sim uma história de
amor. Amor? Eu fui seu irmão seu melhor amigo. Meses depois fiquei sabendo por
quem se apaixonou. Rodney Sacramento. – Não acreditei. Tinha vinte três anos e
ela quinze. Sua mãe me disse que ela partiu com a roupa do corpo. Saiu chorando
dizendo que não iria mais voltar. Mãe eu amo Rodney, não importa sua idade, vai
ser com ele que irei viver. – Olhei para a mãe dela chorando e suas lágrimas
não paravam de cair. O Sênior que eu era nunca compreendeu e nunca quis
compreender.
- Fiquei sabendo Lisbela
que ela voltou. Acho que você também sabe e por isso me perguntou. Você é a
mulher da minha vida. Nossos filhos são tudo que um homem como eu pode desejar.
Mas verdade seja dita eu a procurei sim, vi que ela precisava de ajuda. Está
internada no Sanatório Santa Maria. Meu Deus! Não era a escoteira que conheci.
Magérrima, olhos escamoteados, rosto cortado e cheio de rugas. Poxa Lisbela.
Ela não tinha mais do que 23 anos.
- E Rodney aonde
anda. O que fez para maltratá-la deste jeito? Estava tuberculosa. Era tarde
demais para a cura. Deixaram-me vê-la em seu quarto que repartia com mais seis
outras mulheres. Abriu os olhos quando cheguei. Tentou sorrir, não era mais o
sorriso de outrora. Surrando disse: – Eu sei que é você! – Ficamos mudos eu e
ela. Recriminações não era hora e nem lugar.
- Sabe Lisbela, acredite.
Eu sempre te amei e tentei esquecer e não consegui. Você fez de mim outro
homem. Agradeço demais por isso. Vieram me contar que ela morreu. Não deixou
testamento. Não escreveu sua história. Fui à sua campa. Vazia... Não havia
ninguém. Era uma desconhecida, sem amigos, sem pais e foi enterrada em um
buraco de terra. Mandei e paguei para fazer uma sepultura descente. Hoje fui
lá, ajoelhei e chorei. Precisava chorar. Rezei pedi ao Pai que desse a ela a
alegria dos tempos da Lobinha que conheci. Tempos que se foram destino traçado,
ruídos da noite que marcaram uma vida.
As coisas passam, os
dias mudam, os ventos da alegria irão chegar. A vida continua não há como
mudar. Sonhamos com a felicidade. Alguns realizam outros não. Alcançar a
felicidade é fugir das dificuldades do dia a dia. Como disse o poeta: - E assim
a vida continua, ganhando, perdendo, sorrindo e chorando... Procuramos
desculpas no passado para alimentar melhoras futuras e nos esquecemos de que o
momento de se viver é agora, no presente, com todas as emoções e situações
possíveis... Viva!
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