Contos em
volta da fogueira.
Salvem minha
bandeira que voa pelo céu do meu Brasil!
... - Numa tarde
sombria e chuvosa, em um acampamento escoteiro, um menino virou herói. Herói do
meu Brasil. Salvou nossa bandeira, valente como ele só, mostrou sua garra
sofrida, naquela tremenda ventania, de farda chapéu e descalço, sangue
espirrando no braço ele foi levantado pelos valentes camaradas. Hoje sua saga é
lembrada, por dezenas de gerações. O chamavam Zé do Osso, um escoteiro colosso,
salvador de bandeira, da pátria do meu Brasil. Quer ler?
Não era uma tarde de sol de
brigadeiro... O tempo estava nublado. O acampamento sorria com a escoteirada
fazendo seus bordados com cinzais nas dobras de uma costura de arremate. Um
pequeno punhado deles carregavam um tronco, uma birosca de barro, bambus aos
chumaços cada um querendo fazer mais e mais para aprender. Não ouve trovão, não
ouve faíscas e nem relampejo no ar. Em segundos o céu escureceu com uma nuvem
cor de cobre. Muitos disseram para si e para os outros: – “É temporal que se
descobre”. É hora de aprisionar no seio da barraca a matutagem do campo, fincar
no alto da cabeça o chapéu para proteger. Todos deviam se abrigar, pois o
molhado na mata não perdoava ninguém. Até a passarinhada que se aninhavam a
cantar para ver a escoteirada escoteirar se calaram. As burras da borrasca
pronunciava uma torrente de águas cristalinas a cair do céu. Cada um sabia o
que fazer, pois ao anoitecer tudo seria mais difícil para ver, para imaginar e
para consertar os estragos que iam acontecer.
Aflito o amofinado
cozinheiro protegia seu lenheiro, berço do fogaréu que em breve horas iria
cantarolando nos comes a fazer. O mal aventurado abençoava o temporal, mísero
chuveiro que Deus lhe reservou. Não haveria na hora do ajantarado o bife pança
vazia, guardada proporções ele sabia que a fome da escoteirada ao debandar no
bucho e na goela, depois da chuva seria de matar. Melhor uma sopa, daquelas bem
brasileiras, daquelas famosas Escoteiras que um sal, óleo e um pouco de mingau
aguado daria para sustentar. O céu desabou no acampamento. Não havia
firmamento, não havia sol, ninguém cantava o arrebol. Correm os corvos na
bandeira, ela desce bem treteira naquele enorme vendaval. Mas o vento, oh! O
vento danado soprou enviesado e a bandeira subiu aos céus. A escoteirada se
animou e desandou a correr atrás. Pega aqui pega ali é nossa pátria, a ela
vamos salvar. Cada um virou herói, herói da bandeira, herói do universo do
nosso querido Brasil. Salvem ela, é nossa pátria, por ela vamos lutar ou morrer!
Um pé de vento mais
forte, a bandeira foi lá pru norte e ninguém ficou para trás. Sobem montes,
atravessam lagos, correm bem nos vales brejeiros do Morro da Vaca Preta, e a
escoteirada gritando: - Pega bandeira! “Não deixem escapulir”. Parecia um jogo
infernal. O vento sorrindo o danado, a escoteirada mesmo cansada não desistia.
Afinal ali não era a terra do nunca, eles não podiam voar, mas tinham pernas
treteiras, pernas bem Escoteiras e a bandeira não ia escapar. Eis que ela subiu
e se deitou bem no alto do Jequitibá, numa galhada enorme, pequena até disforme
e a escoteira em volta olhando o vento que sumia, deixando no alto da coxia, da
arvore que escolheu para ficar. A bandeira molhada encolheu. Zé do Osso, um
escoteirinho, amarelo magro que nem angu do brejado, esbelto cabeça chata, se
lança no tronco da dita cuja. Seus braços pequenos não dava a volta que
precisava para firmar e subir. Mas quem desiste depois da promessa? Promessa
que um dia prometeu amar a Deus e a Pátria, portanto a bandeira ele fazia
questão de salvar.
O vento escondido nos
montes olhava de esbugalho o escurecer do horizonte, sorria ao ver Zé do Osso,
subir no Jequitibá. Deixa ele, ele pensou. Quando estiver para chegar, vou lá
de novo pé de vento a levo para longe do acampamento. Não deu outra, os
bracinhos bem curtinhos de Zé do Osso arranhou. Um galho pegou no menino, o
sangue correu pelo corpo, mas quer saber? Zé do Osso não desistiu. Seu chapéu
de abas largas foi levado pelo vento, amarrou no tronco seu lenço e sem mostrar
canseira ele abraçou a bandeira. Embaixo se ouviu um urro do bravôo da
escoteirada. A bandeira estava salva. Honras a Zé do Osso o nosso Escoteiro
herói. Salvou a Pátria, salvou a honra, palmas e bravos pipocaram no ar. E
depois da aventura, foi carregada nos altos, a escoteirada sorrindo todos se
divertindo e a chefaiada aplaudindo.
À noite no céu de
estrelas, a lua brotou altaneira lá num cantinho do céu, espantou o vendaval o
vento e seu carnaval. A fogueira foi acesa, sussurros de boca em boca, saudando
um Escoteiro valente que não deixou de barato, afinal se tornou um mateiro dos
maiores aventureiros cabra macho sim senhor! Salvou nossa alma nossa honra...
Nossa Bandeira. Alegria e contentamento
valeu acampamento. Zé do Osso ficou famoso, teve glorias de valente, foi
saudado docemente pela linda escoteira Maria. Hoje de tempos passados, os dois
já bem casados, contam histórias sem fim. Maria sabia da saga, da bandeira lá
na mata, do espinhaço sofrido, contava a seu filho Walfrido o que seu pai
realizou. E assim a história termina lembranças de fatos passados, aqui aos
poucos narrados de um vendaval que se foi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário