Lendas Escoteiras.
Um vira latas
de nome Takala.
... -
“Recolha um cão de rua, dê-lhe de comer e ele não morderá: eis a diferença
fundamental entre o cão e o Homem”. - “O Homem tem feito na Terra um inferno
para os animais”. - Separei algumas de minhas histórias mais incríveis para
postar novamente aos que ainda não conhecem. Takala eu tenho certeza vocês vão
adorar.
Ele tentava entender o
porquê, mas era um cão, um mísero cão vira lata que achou que tinha um lar para
morar. Cão não fala e não pensa dizem. Ele nem raciocinou quando ela o jogou
pela porta do carro no meio da rua naquela tarde fria com uma chuvinha
intermitente. Pensou ser uma brincadeira apesar de que ela nunca brincou com
ele. Batia sim, chutava seu corpo e um dia lhe deu uma surra de vara porque fez
xixi na porta que estava fechada. Correu atrás do carro de sua dona, mas já era
Velho demais para isto. Logo ela sumiu em uma esquina e ele perdeu o carro de
vista. Assustado no meio da rua quase foi atropelado por outros veículos. Alguém
lhe deu um chute e ganindo correu para o passeio debaixo de uma marquise. Ele
ficou ali por pouco tempo todos que passavam lhe davam um pontapé ou gritava
com ele. Molhado ele gania de frio. Não sabia o que fazer. Nunca passou por
isto, nunca.
Takala não sabia quando
estava feliz ou triste. Era um cão vira lata com mais de doze anos. Quando mais
jovem morava em um sitio de um homem pobre e velho e quando o menino da cidade
começou a brincar com ele sua vida mudou. Nunca entendeu porque a mãe do menino
o levou com ele. Durante meses foi feliz com o menino. Brincavam corriam e
Takala se sentia outro. Um dia o menino sumiu. Sua mãe chorava pelos cantos.
Ele não sabia o que fazer, afinal era um cão vira lata que não sabia pensar. Quando
ela o pegou pelo rabinho e o jogou no carro ele não entendeu nada. Quando ela o
jogou porta afora muito menos. O que fazer? A chuva aumentava. Na esquina encontrou
um viaduto. Escondeu-se em um buraco onde ninguém poderia bater nele. A fome
chegou. Comia pouco, pois a mãe do menino quase não o alimentava. Só o menino
que sumiu. O dia clareou e a chuva passou. Precisava encontrar comida e água. Saboreou
a água nas poças que encontrou.
Começou a passear entre
as arvores e flores que havia embaixo do viaduto. Viu do outro lado da rua um
menino o chamando. Sorriu. Será que terei um novo dono? O menino estava vestido
de azul com um lenço branco no pescoço. Para Takala a roupa pouco importava ele
queria era um dono amigo, que gostasse dele. Correu atrás do menino e ficaram
brincando de pega, pega. O menino de azul sorria a mais não poder. Chegaram a
um portão. Takala sabia que não o deixariam entrar. Sempre foi assim, cão vira
lata sem pedigree não entra em nenhum lugar. O menino de azul entrou e o portão
fechou. Takala esperou pensando que o menino lhe daria alguma coisa para comer.
Algum tempo depois o portão se abriu e o menino de azul sorrindo o chamou para
entrar. O rabinho de Takala nunca balançou tanto. Ao entrar viu muitos meninos
de azul, outros de chapéu todos gritando e sorrindo. O menino de azul o levou
até uma cobertura. Fez sinal para ele ficar ali.
Muitos meninos e meninas
de azul se aproximaram de Takala. Ele sorria nunca pensou ter tantos amigos.
Latiu, um latido fraco quase mudo. Logo trouxeram comida para ele. Ele nunca
vira tanta comida. Comeu e quando comia levantava a cabeça com medo de um chute
ou de um tapa, pois sua dona sempre fazia isto quando comia. Escurecia e os
meninos estavam indo embora. O menino de azul veio com uma moça e Takala viu
que conversavam muito. O levaram até um galpão coberto e aberto nas laterais. O
menino de azul mostrou para ele um pequeno capacho, uma vasilha d’água e muita
comida encostada a parede. O pegou no colo e o beijou. Takala viu que seu
coração batia. Nunca ninguém o beijara. Ele ficou ali naquele galpão, pois
agora era seu novo lar. Sempre a esperar que o menino de azul chegasse.
Um dia eles chegaram cedo.
O sol acabara de nascer. Takala sorriu Agora no seu novo lar amava os meninos e
as meninas de azuis. O seu amigo o pegou no colo e entrou com ele em um ônibus.
Takala tremeu, de novo não! Pensou em latir, em morder e só o medo de ser
jogado pela porta de novo o fez calar. Fechou os olhos embaixo da poltrona. Ele
não sabia rezar, mas seu instinto o alertava para tudo. Durante horas ele ficou
no ônibus tremendo de medo. Quando chegaram foi uma algazarra, todos correndo e
Takala correndo atrás deles. Nunca Takala o vira latas foi tão mimado, tão
cercado de amigos. A noite uivava para a lua como a dizer – Agora eu sou feliz,
pois posso amar... No terceiro dia correu atrás do seu amigo de azul que se
embrenhou em um bosque. Takala adorava aquela brincadeira. Sentiu seu coração
batendo, corpo tremendo, e não queria parar. Correram tanto que uma hora ele
deitou. Uma dor incrível no seu coração. Coração velho de vira latas que só
sabem amar.
Ao seu lado o menino de
azul ria e rolava no capim verde chamando Takala. Ele não aguentava mais. A dor
era muito forte. Viu uma serpente enorme se enroscar para dar o bote no menino
de azul. Ele sabia o que era uma serpente. Quando jovem seus donos corriam
delas no sitio em que morou. Takala fez um esforço enorme. Levantou gemendo,
pulou em cima da serpente latindo fraco, respiração ofegante. A serpente o
mordeu na sua jugular. O menino de azul saiu correndo chamando a moça que
tomava conta. Vieram vários. Não encontram a serpente e nem Takala. Os meninos
e as meninas de azuis choravam. Ao voltar para a fazenda viram ao longe uma
serpente e um cão lutando. Correram até lá. Tarde demais. Takala estava morto,
mas conseguiu matar a serpente. Aquela noite nunca se viu tantos meninos e
meninas de azul chorar. Custaram para dormir.
De manhã uma surpresa.
O sol brilhava nunca se viu tantos pássaros no céu. Uma revoada acontecia. A
moça amiga do menino de azul fez um lindo esquife verde. Ela reconheceu que
Takala foi um herói e precisava ser homenageado. Embaixo de um Abacateiro em
uma cova simples fizeram uma cerimonia fúnebre cantando uma canção chamada de
até logo, breve adeus. Para um simples vira lata Takala teve honras de estilo.
Todos choravam quando era enterrado. Takala só no céu ficou sabendo que era a Canção
da Despedida. Takala próximo a eles estranhava que ninguém o via. Só o menino
de azul que sorria para ele. Viu descendo do céu em uma nuvem branca uma grande
Vira Latas cinzenta, sorrindo, focinhos com focinhos ela e ele deixavam as
lágrimas de alegria cair. Ela deu um latido leve e correu pela nuvem, Takala
correu atrás dela e sumiu no horizonte azul. O menino de azul também chorava e
ao chamado da moça todos ficam firmes e fizeram uma saudação que Takala já
conhecia. Era o Grande Uivo. Feito em homenagem a Takala, um vira latas que só
sabia amar e foi para o céu.
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