Crônicas de
um Chefe Escoteiro.
As flores da
primavera.
... - “Na
mesma pedra se encontram, conforme o povo traduz, Quando se nasce - uma
estrela, quando se morre - uma cruz. Mas quantos que aqui repousam hão de
emendar-nos assim: “Ponham-me a cruz no princípio”... E a luz da estrela no
fim!”. Mario Quintana
- Naquela pequena
clareira a pequena fogueira estava apagada. Nem brasas havia mais. A lua
esquecera-se que ele estava ali e se escondeu em uma montanha distante. As
estrelas no céu desistiram de tentar alegrá-lo e ficaram paradas sem brilhar. Ele
não tinha forças para ao menos colocar mais um galho seco, soprar e quem sabe o
calor do fogo poderia ajudar na sua imensa dor. Uma dor cruel, uma perda que
marcaria seu coração para sempre. Chorar? Ele chorou muito. Chorou quando
soube, pensou em se matar, sentiu a vida se esvair nos meses que ficou só sem
ter ela sorrindo ao seu lado como sempre fazia. Os amigos escoteiros tentaram
consolar, palavras bonitas surgiram e ele sabia que seu coração estava morto.
Não ligava. Porque falar do artigo da lei? O que sabem da dor de uma perda de
alguém que nunca mais vai voltar? Sorrir? Para que sorrir se nunca mais ela
estará junto dele? Preferia estar morto e não se matou por que acreditava em
Deus.
- O vento soprava a
brisa da noite começou a cair. Ele não sentia frio e nem calor, seu corpo embruteceu-se
nas suas necessidades mais simples. Tentava, chorava e por dentro gritava para
si que precisava esquecer se não ficaria louco. Os tempos das alegrias se fora.
Há tempos não acampava mais com a tropa. Não tinha motivos mesmo porque parou
de frequentar as reuniões. Seus Escoteiros o procuraram, mas só viam lágrimas
nos seus olhos. Sentia-se bem acampando sozinho. Sem vozes, sem alguém com sua
piedade que não o satisfazia. A dor vinha mais forte ele sabia, mas pelo menos
a natureza poderia lhe trazer a calma que ele precisava. Fazia outra Pioneiría
para passar o tempo. Não tinha fome, quase não comia. Pescara sim bons peixes
que apodreceram na mesa rustica da cozinha que construiu. Ele gostava das
noites sombrias. Nem ligava para a lua, para as estrelas e esquecera
completamente o encanto do nascer e do por do sol.
- Nunca esqueceu o dia
quando a viu pela primeira vez. A chuva caia torrencial e ela brincava na chuva
cantando e dançando com uma alegria tal que o encantou para sempre. Quem era
ela? Não importava ele sabia que foi assim do nada que surgiu um grande amor. Ele
sempre acreditou que os Escoteiros são fortes, sabem pular uma dificuldade e
sabem sorrir. Suas reuniões eram simples e rápidas. Queria terminar para ir se
encontrar com ela. Rosamaria, seu nome era Rosa rainha das flores e Maria mãe
de Jesus que diziam ter uma beleza sem igual. Passeavam de mãos dadas, viviam
sorrindo um para o outro, iam a mil lugares e ele nunca a tocou a não ser roçar
seus lábios vermelhos molhados como o néctar das flores. Ele gostava do cheiro
dela. Gostava do seu modo de sorrir de olhar e de sua voz de anjo.
- Seu casamento foi inesquecível.
O melhor dia de sua vida. A escoteirada sorrindo, brincando com seus bastões
sobre suas cabeças, cantando o Rataplã e palmas escoteiras repaginando as
folhas do livro da história que nunca existiu. Quando ficaram a sós ele não
sabia o que fazer. Ela estava linda em uma camisola branca suave a mostrar sua
pele e sorria envergonhada. Amaram-se sobre a proteção de Deus. Foram os dias
mais felizes de sua vida. A escoteirada sentia sua força e sua nova forma de
viver. Seu Chefe agora era outro. As atividades eram feitas com alegria tal que
todos vibravam querendo mais. A pequena cidade ovacionava aquele casal
maravilhoso e quando ela fez sua promessa foi uma apoteose. Parecia que o tempo
reverenciava aquela moça dos olhos negros com seu sorriso enorme e sua vontade
de amar para sempre o jovem Chefe Escoteiro há quem jurou fidelidade para sempre.
- Ninguém soube
realmente o que aconteceu. Ela começou a definhar e morreu em poucos meses. O
tempo parou para ele. Ninguém sabia o que dizer. Ele definhava a olhos vistos. –
Meu filho dizia o pároco sofrer pelos outros é caridade, sofrer voluntariamente
por motivo próprio é egoísmo! Meu Deus, não deixe que ela morra, ele dizia. Mas
ela estava morta. Ele se transformou em um zumbi que não comia não dormia e
queria morrer. O que para uns é uma coisa terrível,
para outros é apenas um pequeno choque; o que para certas pessoas é uma
verdadeira tragédia, para outras não passa de um golpe contornável, mas para
ele era como se fosse uma faca transpassando a cada minuto seu coração que ele
dera para ela.
- Naquele dia ele fez a fogueira como
se fosse uma máquina que não pensava. Era seu ultimo dia, pois precisava
voltar. Precisava trabalhar já que suas pequenas economias estavam no fim. As
chamas subiram aos céus e juntas as fagulhas faziam seu espetáculo que ele
adorava, mas hoje não tinha a beleza dos tempos de outrora. Havia um bule de
café fumegante, e ele sabia que quando o fogo terminasse o café estaria frio e
ele chorando esperando o amanhecer. Veio um soluço forte. Estava engasgado de
emoção. Um barulho de um galho quebrado lhe chamou a atenção. Em uma trilha que
levava ao Lago cinzento ele viu se aproximado um homem velho, Barbas brancas,
cabelos brancos e trazia na mão um Velho e tosco chapéu escoteiro. Ele olhou
com espanto. Aquela figura não lhe era desconhecida.
- O Velho o saudou carinhosamente e
sentou em uma pequena tora de madeira que há anos estava ali. Ele não disse
nada. Sorria, um sorriso cativante como se sua vida fosse um mar de rosas. O
Velho olhou para o fogo que rejuvenesceu. As chamas aumentaram. Olhou para o
céu e ele nunca viu um céu tão brilhante onde as estrelas no firmamento davam
seu espetáculo sem cobrar. Os cometas cruzavam o céu como a saudar aquele Velho
que resolveu voltar ao mundo onde viveu há muitos e muitos anos. A lua saiu de
trás das montanhas e uma brisa suave começou a roçar seu rosto trazendo o
perfume das flores silvestres. Ninguém disse nada. Ele não sabia o que dizer.
Começou a sentir uma paz que nunca sentiu antes. Frases começaram a brotar em
seu cérebro.
- Ele segurava-se em suas lembranças.
Não queria esquecer. Rosamaria não podia ser esquecida. Sem perceber lembrou-se
das palavras de um poeta: O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a
caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher. Lagrimas começaram
a cair, mas diferente das lágrimas doidas de antes. O Velho estava em pé.
Sorria para ele da mesma maneira que chegou. Foi até onde ele estava. Colocou a
mão em seu coração e no dele. Somos irmãos de sangue, tu e eu! Ele disse e
partiu. Ele o viu andando sobre o Lago e desaparecer nas sombras da noite.
Nesta noite ele dormiu. Sonhou com ela. Ela sorria e dizia que o nosso amor era
eterno. Estava escrito nas estrelas que seria assim. Ele acordou rejuvenescido.
Nunca esqueceu Rosamaria e sabia que eles se encontrariam em muitas vidas que
Deus lhe reservou.
- Quando ele chegou naquela tarde ao
Grupo Escoteiro ninguém perguntou, ninguém tentou mudar a rotina que sempre
teve. Ele se incorporou a ela. O mundo não para e todos nós seguimos o passo do
mundo. Ele sabia que ia lembrar-se dela para sempre, mas como uma alegria que
iria continuar na eternidade. Ao sair do portão para retornar a sua casa ele
viu em uma esquina o Velho. Ele estava sorrindo e lhe fazendo o sinal
Escoteiro. Ele retribuiu. O Velho partiu subindo até uma nuvem branca e ele nem
perguntou quem era de onde veio e para onde ia. Ele só sabia que sua vida mudou
para sempre!
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