Lendas Escoteiras.
O Destino de Salomon St Gilles.
... –
O começo... Lembro quando Salomon me descreveu seu Castelo na França: - Chefe
foi construído no cume de uma colina formada por um rio cheio de voltas. Eu
gostava de ir lá e até fiz uma nova cadeira com encosto. O pátio interno do
castelo forma um retângulo áspero, com mais de 40 metros de comprimento. Tem
torres voltadas para o Sul e o Norte. Á porta é protegida por uma barbacã...
Quando ele me contava eu chorava com ele. Lembranças de um Castelo de Najac que
Salomon deixou para trás, para morar numa cidadezinha comum. Morro
Vermelho!
- Salomon
St Gilles estava preocupado. Há dias estava assim. Não tinha ideia qual atitude
tomar. Nas margens do Regato Baden-Powell nome que os escoteiros deram quando
acamparam ali pela primeira vez, ele não sorria. Não tinha como. Em uma cadeira
com encosto que construíra às margens do Regato feita com encaixes para durar
muito tempo ele meditava. Sua Tropa gostava de acampar nas terras do Miranda,
um amigo dos escoteiros. Passavam das doze horas e as patrulhas foram liberadas
para fazer o almoço. Carlito e Moeda tinham feito uma proveitosa pescaria ao
anoitecer de ontem e as patrulhas sabiam que os cozinheiros iriam preparar uma
deliciosa moqueca já famosa de acampamentos passados. Nem pensava no que iam
fazer à tarde. Seu pensamento era outro. Porque seu pai nunca lhe contou onde
nasceu e quem fora sua família na França. Na França? Ele sempre pensou que
nasceu em Morro Vermelho. Era a única cidade que conhecia.
Monjave
e Lamparina chegaram sem fazer barulho. – Chefe, hoje o senhor vai almoçar
conosco. Já conversamos com os Tigres, Beija Flor e Morcego. Eles concordaram.
Salomon agradeceu. – Muito obrigado, me chamem quando ficar pronto. Sempre fora
assim ele amava seus escoteiros que também o amavam como seu líder seu herói.
Era um simples carteiro na cidade, por sinal o único. Dona Florência era a
Chefe dela e dele. Morro Vermelho nunca cresceu apenas três mil habitantes e
perdia boa parte de pessoas que iam embora. Vinte anos de Correio. Vinte anos
que fez amizade com quase todos da cidade. Gostava de papear com Dona Valência,
Seu Pafuncio, Dona Violeta e tantos outros. Todos os dias saia para trabalhar
sorrindo e voltava sorrindo. Doutor Flaviano se apresentou a ele na sua casa na
tarde de quinta feira. – Senhor Salomon, sou advogado contratado para lhe
informar suas origens. Salomon se sobressaltou. Viu um homem de terno, cabelos
brancos, muito educado e ouviu tudo que ele tinha a dizer. Porque seu pai nunca
lhe disse nada? Por quê?
-
Senhor Salomon, o senhor é descendentes de uma nobre família francesa. Seu pai
era filho do Conde Bertrand de St Gilles e da Condensa Adélia Taipé St Gilles.
Em 1948 seu pai teve uma altercação com seu Avô e ele saiu de casa prometendo
nunca mais voltar. Seus avós nunca tiveram notícia dele. Ano passado seu Avô
faleceu aos noventa e dois anos. Sua Avô contratou diversas agencias para achar
o paradeiro do filho. Chegamos ao senhor o neto. - Sua Avó já com idade
avançada requer cuidados e quer o senhor ao seu lado. Em um testamento deixou
toda a fortuna para o Senhor desde que fique ao lado dela até sua morte. Recebi
ordens de depositar em sua conta $100.000 Euros para sua viagem e despesas.
Aqui está o endereço onde o senhor deve ir à França: - Salomon leu devagar.
Estava assustado. Nunca pensou que era rico e gostava da vida que levava.
Naquela
noite Salomon St Gilles reuniu os monitores. Contou a noticia quase chorando. –
Tenho de partir meus caros monitores, não posso deixar minha avó sozinha.
Embarco para a França a semana que vem. Meu endereço é Najac, departamento de
Averon no sul da França no Castelo de Najac onde mora minha Avó. Os monitores
correram a abraçar Salomon. – Chefe! Disse um deles, o que será de nós? A tropa
não tinha Assistente e nem era reconhecida. Eram livres para voar onde
quisessem e fazer o escotismo de campo que todos adoravam.
Na plataforma da Estação Don
Pedro, os escoteiros choravam abraçavam e diziam. Salomon também chorava. Deixou uma vida de
amor e fraternidade para trás. Passaram quinze anos. Sua Avó a Condensa Adélia
Taipé St Gilles falecera há dois meses e Salomon naquele castelo gigantesco não
sabia o que fazer. Sua fortuna era incalculável. Tinha um jato, carros
motorista e até um Iate ancorado em Sain-Tropez um balneário famoso. Salomon
resolveu voltar. Não iria vender o castelo, tinha condições de mantê-lo. Iria
comprar um terreno no alto do morro da Coruja em Morro Vermelho e ali fazer uma
bela mansão. Construiria uma bela sede e retornaria ao escoteiros que sempre
amou. Fez planos, muitos. Chegou à noitinha em Morro Vermelho. Hospedou-se na
Pensão Santa Lucia. Dona Etelvina tinha falecido e seu novo proprietário não o
reconheceu. Dormiu pensando em abraçar seus escoteiros.
Salomon St Gilles esqueceu-se
dos quinze anos que haviam passado. Seus escoteiros agora eram homens feitos. A
maioria saiu da cidade em busca de oportunidades escolares e profissional. Só
encontrou Monjave e Lamparina. Monjave estava em um estado lastimável. Magro
tosse intermitente quase não falava. – Chefe, apenas uma tuberculose, nada
demais... Lamparina trabalhava como Gari na Prefeitura local. Salomon chorou.
Chorou demais. Do que valeu sua fortuna, seu castelo se tudo que amou deixou de
existir? Monjave morreu uma semana depois. Lamparina o olhava com estranheza.
Salomon sabia que não era o mesmo Chefe de outrora. Alugou uma charrete e foi
até ao Riacho Baden-Powell. Acreditou que lá ele teria a paz. O Senhor Miranda
também deixou este mundo. Conheceu Palácios um homem comum diferente daquele
que o abraçava quando chegava cantando o Rataplã com os escoteiros.
... –
O fim... Encontrou sua cadeira de encosto, velha, madeirame querendo cair.
Reconstruiu, sentou. Fechou os olhos olhando para as águas tranquilas do Riacho
Baden-Powell. Chorou baixinho. Não tinha mais monitores para conversar... Olhe
esta história não tem um final. Voce meu amigo leitor pode fazer seu final e
escrever nos comentários. Eu conheci Salomon e quando vou até Morro Vermelho e
aproveito para sentar em sua cadeira eu... Não gosto de lembrar!
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