Lendas
Escoteiras
A última
estação de um trem.
... – A última
estação... Foram tantas! Quantas vezes sentado no banco da plataforma eu tentava
ler pensamentos dos que iam partir e outros chegando... Um conto? Não sei... Quem
sabe uma pequena verdade cujo final nunca soube o que aconteceu na última
pagina. Um dos meus melhores contos... Peguem seu lugar no banco da Estação e
viagem comigo nesta história sem um ponto final!
- Os sonhos às vezes são
como ventos que terminam sem a gente saber o final. Esperando o Vírus passar vi
na lembrança a menina a chorar na estação quando seu amado se foi. Pequena
história... Um breve espaço de tempo. Apenas um trem soltando fumaça branca em
uma estação perdida em qualquer lugar. Voltava de meu périplo no campo, rotina
comum a procurar a paz de dias difíceis que iam chegar. Um trem uma mochila e
lá fui eu a “escoteira acampar”. Amava dormir sob o manto das estrelas e ter o céu
como barraca. Sorria ao pisar na grama verde das campinas sentindo o cheiro da
madressilva, gardênias cravos e lavanda... De olhos fechados deixava os respingos
esvoaçando pela queda d´agua do Riacho. Cozinhava em um pequeno fogo... Conversava
com a floresta e os pássaros. Mas sempre chega a hora de voltar. Sentado em uma
pequena parada de trem de uma estação pequena de um modesto arraial, aguardava o
noturno das onze que diziam nunca se atrasar. Cansado ouvia o tic tac do telegrafo
matraqueando sons e mensagens que corriam pelos fios criptógrafos numa
linguagem simples que o Morse um dia inventou. Sinais curtos e longos um
“tatatá” gostoso que me fazia lembrar os meus tempos de sinaleiro. Não tinha
pressa... Nunca tive!
- Aos poucos uns
minguados passageiros chegavam calados olhando ali e acolá. Um trem de carga
passou sob os olhares vigilantes do Chefe da Estação. Abrindo os olhos e
ouvidos podia-se ouvir o som do rio caudaloso que corria no vale encantado do
Rio Doce. O trem que subia o rio chegou mansamente. Não era o meu. O Chefe da
Estação com seu arco deu instruções ao maquinista que treinado não teve duvidas
para enlaçar. O barulho quieto da fornalha soltava fumaça quente no ar. Eu
adorava aquilo. Olhava hipnotizado a beleza de um trem de ferro que em breve
iria sumir engolido pela modernidade. Foi então que avistei um casal. Jovens.
Parados em frente à entrada do vagão de primeira classe. Um olhando para o
outro. Não diziam nada. Ela só tinha olhos para ele encharcados de lágrimas de
amor. Ele tristonho não tirava os olhos dela. – “Eu volto para te buscar” falou
tristonho. Ela chorava baixinho. – Nunca vou te esquecer meu amor. O último
apito, um beijo simples, um roçar de lábios sedentos que não queriam se
separar.
- O trem deslizava
sobre os trilhos despedindo da estação tristonho. No amanhã ele voltaria para
descer o rio. O jovem deu seu último adeus, correu subiu nos degraus de seu
vagão e ficou ali de mãos estendidas acenava pensando que seria um breve e
longo adeus. Ela sabia que não. Sabia que ele nunca mais iria voltar. Em pé
olhava com um tremor no corpo nas mãos os olhos cheios d’água dizia: - Leve o
meu sonho com você! Tristonha não tirava a vista do trem que partia apitando
até sumir de vista na curva do rio. Seu amor partiu, seu coração chorava. Um silêncio tomou conta da plataforma vazia.
Eu só ouvia o tic tac do telegrafo e os soluços da bela moça que havia perdido
seu grande amor. Calado nada dizia. Não tinha nada para dizer. Ela estática não
saia do lugar. Perdida em uma estação de trem o seu mundo desmoronava. O meu
chorava com ela. Ela se virou e me viu. Seus olhos estavam marejados de
lágrimas. Eu de calças curtas com meu chapelão tirei a mochila ficando em pé
respeitosamente. Queria me solidarizar. Não sabia o que dizer. Ela deu um
pequeno sorriso levantando o braço dizendo baixinho “Sempre Alerta”! Respondi
do mesmo modo em posição de sentido tirando o meu chapéu. Lentamente ela caminhou
na estradinha poeirenta ao lado dos trilhos que devia ser o seu destino final!
Senti-me só, impressionado
com a imagem de uma partida e a dor de alguém que perde o sonho de um grande
amor. Olhei ao redor, vi de novo a estação vazia. Uma pequena lua desabrochava
no horizonte perdida entre o brilho das estrelas. Uma leve brisa soprava e eu
sem notícia do meu trem. O Chefe da Estação se aproximou. Educadamente me
disse: - Um atraso de quatro horas. O ultimo trem desencarrilhou! Muitos
feridos outros mortos! Não disse nada. Pensava como ela iria saber que seu
amado nunca mais iria voltar. Ela em ser lar devia estar chorando acreditando
que um milagre poderia acontecer. Quem sabe Deus ouvindo suas preces o traria
de volta. Mas destino é destino e poderia ser melhor assim. Dormitava sozinho
naquela estação de trem. Deu para ouvir alguns trovões no céu. A chuva mansa
chegou. Eu gosto da chuva, ela me trás lembranças e uma paz que me revigora. Ao
longe ouvi o apito do trem. Era o meu que chegava. Como um pássaro negro
gigante adentrou na estação de trem rangido os freios, soltando fumaça branca
no céu. Calmamente parou para respirar em sua chaminé o calor que ainda
resistia em parar.
- Um retorno sem
consequências. Na minha morada meu amor dormia. Entrei de mansinho. Fui olhar
meus filhos que adormecidos sonhavam com anjos do céu. Abracei minha amada de
muitas vidas e deitei ao seu lado. Ela sorriu. Pensei no amor da outra que
tinha ido e nunca mais ia voltar. Sina marcada. Destino escrito no livro da
vida. Nada do que se tem a gente pode manter para sempre. Sonhos que não foram
vividos. Estrelas piscantes que se mantém no universo através dos tempos.
Esperanças que nunca se acabam. Ainda deitado ao lado da minha amada, com as
mãos entrelaçadas no peito eu chorava baixinho. Mais um dia que se foi. A dor
da saudade de alguém que achou que teria e nunca teve ninguém.
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