Uma
história uma lenda.
A
árvore das folhas rosa.
“Queria ser Cerejeira rosa, alta e frondosa, enchendo
o chão de sombras e os galhos de passarinhos, que nela, aos pares, construíssem
ninhos, lançando aos ventos sonoros pensamentos. Então, a minha sombra à tarde,
abrigaria namorados, trazendo juras de amor tão puras e ternas, que parecessem
eternas. Como as flores rosa de meus galhos”. (Sonia Quartin).
... - Apenas uma arvore não uma
qualquer... Era uma cerejeira em flor, na beira do caminho. Nunca tinha visto
uma cerejeira igual. Florida, folhas e flores rosa destoando da natureza ao seu
redor. Só ela, ali, imponente e ao seu lado um pequeno riacho de águas claras.
Visão maravilhosa. Um oásis dos deuses do paraíso naquele campo seco. Uma
historia simples, mas para não esquecer jamais.
Bela caminhada na Estradinha do Neco Pastor. A
Patrulha sorria mesmo com o sol inclemente. Era a primeira vez que arriscávamos
a passar por ali. Eis que uma visão incrível apareceu... Assim do nada. Muitos
disseram que seria lembrada por toda a vida. Dizem que só os escoteiros têm o
privilegio de ver e ouvir coisas, pois eles têm o dom de enxergar de outra
maneira a natureza hoje perseguida de maneira implacável pelos homens. Acredito
piamente que isto é real. Éramos seis amigos escoteiros a seguir na pequena
estrada. JG e Palestro seguiam juntos à frente, Nico Landi, Portentoso e
Calango mais atrás dando risadas, devia ser uma boa piada escoteira. Eu olhava
os pássaros a procura de um Bem ti vi cantante. Cortamos caminho para chegar ao
Tanque dos Afogados. Não morreu ninguém lá e nem é um tanque. Uma represa
pequena, dócil, rasa, de águas cristalinas que por duas vezes ali estivemos
acampando. Sempre passamos pela estrada do Marquês mais de doze quilômetros.
Não lembro quem deu a ideia de cortar caminho passando por um vale entre duas
montanhas. Eu sabia que nem sempre as boas ideias prevalecem. Passava da uma da
tarde. Um sol a pico e queimando. Quase quatro horas de caminhada. O suor
escorrendo pelo rosto, os olhos vermelhos e o chapelão de três bicos faziam às
vezes de um protetor carinhoso, mas que pouco ajudava.
Um local descampado, sem
árvores, quem sabe para pasto do gado que ao longe pastava calmamente. Pensei
em parar, mas sempre um animando dizia: - Vamos chegar! Vamos chegar! É só
encontrar o riacho das Vertentes. E a sede chegando e o riacho não chegava. Uma
fome brava. Nem um biscoitinho a solta. Já respirava com dificuldade quando
avistei o paraíso. Um riacho e uma árvore. Não uma árvore qualquer. Era enorme.
Incrivelmente linda! Incrivelmente bela! Nunca tinha visto uma cerejeira igual.
Florida, folhas e flores rosa destoando da natureza ao seu redor. Só ela, ali,
imponente e ao seu lado o pequeno riacho de águas claras. Visão maravilhosa. Um
oásis dos deuses do paraíso naquele campo seco. Incrivelmente maravilhosa. Molhei
o rosto calmamente. A sombra da cerejeira nos dava uma sensação de calma
silenciosa e gostosa. Uma brisa fresca soprava de este para oeste. Sentamos
embaixo próximo ao tronco. Pés levantados. Dizem ser bom para a circulação. Dez
minutos, quinze, vinte. Uma hora. Ninguém animava em partir. Estavam todos no
mundo dos sonhos coloridos que só os escoteiros possuem.
A tarde chegou mansamente. O
sol estava se despedindo e prometendo voltar amanhã. Vermelho atrás das
montanhas verdejantes. Ainda de olhos fechados lembrei que tinha lido não sei
onde – “A flor de cerejeira cai da árvore na primeira brisa mais forte, mas não
dizemos que ela nunca viveu. Uma flor que só dura um dia, não é menos bonita
por isso”. Não queria abrir os olhos. Não queria partir. Eu tinha encontrado o
paraíso. Não disseram que o tempo é relativo? Que a flor da cerejeira, por
exemplo, dura apenas uma semana e mesmo se durasse mil anos ainda seria efêmera?
Flor tão bela como ela não merecia durar eternamente? E o que é eterno se não o
que dura com tamanha intensidade? Dormi. Não queira acordar. Agora a cerejeira
não dava mais sombra. Não precisava, a noite chegou escura, mas logo o clarão
das estrelas no céu dava o seu espetáculo a parte.
Reunião de Patrulha. Partir?
Cinco a zero para ficar. Um foguinho. Uma sopa, um café na brasa. Cantávamos
baixinho a Árvore da Montanha. O céu estrelado ainda dando seu espetáculo maravilhoso.
Um cometa passou correndo deixando um rastro brilhante. Fiz um pedido. Que a cerejeira
em flor durasse para sempre! Aos poucos alguns dormiam. A cerejeira das folhas
rosa era nossa barraca. O tempo passou. Ao lado anjos velavam o sono dos
escoteiros. Abri os olhos mansamente, uma réstia de luz aportava lá por trás
das montanhas distantes. Era a madrugada chegando. O novo dia chegava sem fazer
alarde. O orvalho caia de mansinho. A brisa eterna amiga não nos deixou. Um
acalanto para nos dar um novo vigor no dia que chegava sem fazer ruído. O
riacho ao lado parecia cantar canções de ninar. Pequenos peixinhos nadavam como
a nos dizer bom dia! Mochila as costas.
Olhares e sorrisos vontade danada de ficar. Eis que o Monitor chama: - Escoteiros
avante! Pé na estrada, pois o sol agora já estava firme no horizonte. Nosso
destino? O Tanque dos Afogados. E lá fomos nós, em marcha de estrada sorrindo,
mas saibam que nunca mais, em tempo algum, nós nos esqueceríamos da árvore das folhas
rosa. Cerejeira em flor. Um amor, uma lembrança que ficou marcada para sempre!
Nenhum comentário:
Postar um comentário