Lendas
escoteiras.
Tobruk - O
sonho não acabou.
... - Conta-se que
Baden-Powell quando fundou as bases do escotismo em 1907 que o inicio do
movimento foi entre meninos pobres. Aos poucos viu que economicamente ouve uma
mudança social entre eles. Hoje ele está lá no céu vendo que espiritualmente
ainda existem rapazes tão pobres como naquela época. E são eles que mais
necessitam do escotismo! Você é meu convidado para ler e comentar!
- Apenas um menino
igual a muitos. Chamava-se Juliano Santos. Apelidado de Tobruk. Magro, roupas
remendadas, diziam que sua vida não iria durar. Pai pescador, mãe faxineira.
Tinha meses que não ganhavam um tostão. Tobruk gostava do apelido. Nem
imaginava que era uma cidade perdida no Egito e que ficou famosa na Segunda
Guerra Mundial, palco da batalha do Afrika Korps do Marechal alemão Erwin Von
Rommel contra o Major Donald Craig. Mas isto é outra história. Tobruk tinha
dificuldades de locomoção. Uma perna mais fina e menor que a outra. Seu rosto
tinha marcas de quem sofreu paralisia facial e que agora estava recuperando.
Tobruk era um menino de coração de ouro. Nunca se preocupou com sua aparência.
Na escola muitos ficavam longe dele. Diziam que tinha doença contagiosa e
poderiam pegar. Ele se sentia só, sem amigos, mas mesmo assim sorria. Um
sorriso amarelo que só de ver dava vontade de chorar.
Zé Outeiro ficou amigo
dele. Zé sonhava ser Escoteiro. Os dois se encontravam na praça para contar
causos e Zé só falava nos escoteiros. Tobruk sorria ao ver Zé falar. Zé e ele
sabiam que nunca poderiam ser um. Tinha que pagar, comprar uniforme e coisas
para acampar. Tudo tinha taxa e as despesas enormes. Os dois assistiam as
reuniões “trepados” em um pé de Jequitibá próximo ao pátio de reuniões. Zé
dizia que gostaria de ser da Touro, Tobruk sonhava ser de qualquer uma. Ria do
Monitor a exigir postura e garbo. Cantava com eles. Choravam quando partiam
para o acampamento. Quantos jogos aprendeu? Aprendeu nós, semáforas, aprendeu
até um percurso de Gilwell quando a patrulha escolheu o Pé de Jequitibá para
desenhar.
Zé foi para o nordeste
com sua mãe de mudança e disse que lá seria escoteiro. Um dia Tobruk tomou
coragem e pediu sua mãe para levá-lo. Mulher simples, humilde, olhando os brancos
de cabeça baixa nunca disse para Tobruk que os negros não eram bem vindos em
certos lugares. Não foi mal tratada. O Chefe foi educado, mas disse que tinha
pouco tempo e deu para ela as normas, os valores e pediu um atestado médico.
Afinal a imagem dele deixava a desejar. Voltou para casa amargurado. Como
pagar? Como tirar um atestado médico? Difícil, até mesmo o barraco era
emprestado por uma vizinha amiga de sua mãe. Tobruk voltou a sua morada no alto
do Pé de Jequitibá. Um ano, dois e Tobruk fez quinze anos. Precisava trabalhar.
Ninguem o aceitava nem como aprendiz. Seu aspecto não era agradável e sendo
negro pior ainda. Nunca abandou seu escotismo de sonhos, seu Pé de Jequitibá.
Cresceu com muitos que foram para os seniores, e aprendeu a amar os novos que
chegaram à patrulha Guará.
Tobruk sentia saudades
de Zé Outeiro. Amigos de causos ele fazia falta. Polaco era o Chefe. Sabia
tudo. Desde menino foi Escoteiro e hoje engenheiro químico brincava de correr
pela floresta, catar vento nos vales, pegar estrelas no céu. Era um sonhador.
Notou Tobruk no alto da árvore. – Vem cá meu jovem, vamos conversar. Foi um dia
mais feliz de sua vida. Tobruk entrou para os Guarás. Um mês dois e o Chefão o
chamou. – Meu jovem, você está sob a proteção do Polaco. Não faça besteira e o
jogo para fora ou para a prisão. O Chefe Tomás reclamava: - Ele paga tudo e
isto não está certo. Aqui não tem lugar para negro e pobretão.
Reclamar com o Chefe
Polaco? Criar inimigos? Calar e aceitar? Foi assim que Tobruk viu que escotismo
era para ricos, pobres não tem vez. Se tiver alguém que interessa ele fica se
não que se dane. Tinha mensalidade tinha taxas para acampamentos, para os
grandes nacionais. Ninguem se preocupava com ele e com outros que um dia
poderiam ser escoteiros. Se tem paga se não tem dá o fora. Soube que sua
mensalidade no órgão nacional foi perdoada. Tinha uma norma para os pobres e
nada seria cobrado se ele pudesse provar. Mas só isto. Para alguns chefes ele
não servia para nada. O Chefe Polaco sorria, cativava, disse a Tobruk que
estudasse muito, que um dia pudesse provar que ele era alguém, que lhe dessem
respeito e afeição. Era seu direito. Seis meses depois Tobruk saia de uma
reunião de Patrulha, feita na sede, pois na casa do Lancaster sua mãe não
gostava dele.
Tobruk acostumou com
tudo. Já não revoltava e aceitava o que a vida lhe reservou para seu destino.
Na Rua do Coqueiro três meninos negros passaram correndo. Um deles o jogou ao
chão. Ao se levantar um carro patrulha parou. Desceram atirando. Tobruk morreu
na hora. Quando o viram de uniforme escoteiro tentaram mudar a cena. Uma arma
foi jogada aos seus pés. O sangue se espalhava pela calçada. Ninguem parava
todo mundo com pressa a sair daquela emboscada da morte de um jovem que a vida
não tinha reservado um final feliz. Chefe Polaco chorava na cerimônia fúnebre.
Abraçou sua mãe e seu pai e disse que só Deus podia entender o destino de
Tobruk, um menino cujos sonhos o vento levou!
Sonhos de meninos que
não se realizam. Alguns que podem não querem. E os que querem muitas vezes não
podem. Quem sabe estamos nos tornando demasiados respeitáveis e esquecemos que
o escotismo não é só para os rapazes bons. Não era isto que pensava
Baden-Powell? Ele repetia sempre que o movimento é para os rapazes que dele
necessitam. Afinal o escotismo nasceu em 1907 entre meninos pobres e, se
economicamente ouve uma mudança social entre eles, espiritualmente ainda
existem rapazes tão pobres como naquela época. E são eles que muito necessitam
do escotismo!
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