Lendas
Escoteiras.
A saga de um
Troféu.
... - Tenho
firmeza em minhas atitudes e persistência em meus ideais, mas sou paciente. Não
quero que tudo me chegue de imediato. Há tempo pra todo propósito! E tudo que é
meu virá em minhas mãos no momento oportuno... Confio em Deus, pois aprendi a
esperar. Uma competição de tirar o folego. Qual patrulha seria a melhor?
- Tomé o monitor da
Touro ficou meses planejando o Acampamento no Vale do Beija Flor. Preparou seus
patrulheiros como nunca e agora sabia que era uma questão de vencer e nunca
perder. Nunca se achou superior a nenhum dos outros monitores, para eles as
patrulhas eram como se fossem irmãos. Mas o tempo vai demonstrando que nem tudo
são rosas e que elas não dão em qualquer lugar. Durante todo aquele ano ele
lutou com seus amigos da patrulha bote a bote, passo a passo, luta a luta para
nos estertores de sua passagem na Tropa para os seniores, que conquistassem o
Troféu Javali. Não era um simples troféu. O Chefe Muralha quando no inicio do
ano mostrou a todos o troféu não ouve um que não ficasse sonhando em ganhar
tamanha honra de ser o melhor do campo. O troféu era lindo. Feito de couro marrom,
tiras foram cortadas fazendo um belo entrelaçado para ser colocado no bastão guia.
Tomé sonhava todos os dias com ele.
Liceu Monitor da Lobo
não queria ser o segundo, para ele ou o primeiro lugar ou nada. Sabia do valor
das demais patrulhas menos a Maçarico cujo monitor Tonon ainda estava verde e aprendendo
a crescer na técnica e formação escoteira. Ele sabia que Tomé da Touro era
páreo duro. Sabia também que Murilo da Corvo não ficava atrás. O troféu só
poderia ser de um deles e de mais ninguém. Os pontos anuais foram anotados.
Foram diversos acampamentos e em todos o empate da Coruja, dos Touros e da
Corvo acontecia. Ninguem ligava para Tonon, pois não era páreo para eles. Liceu
riu quando ele quase empatou no Acampamento do Rio das Pedras. Mas o último do
ano seria diferente. Seria uma luta de gigantes, de monitores experientes,
velhos mateiros que brincavam de acampar a muito e muitos anos. Todo ano uma
patrulha era a primeira, uma disputa em busca do êxito que ninguém nunca pensou
em desistir. Eles tinham que ser os primeiros e não havia para eles o segundo
lugar.
Murilo Monitor da Corvo
sabia que não seria fácil. Mas ele também sonhava dia e noite com o Troféu
Javali. Era bonito demais, escrito a fogo “O Sucesso é para os fortes” fazia
dele um sonhador, mas ele sonhava com os pés no chão. Quantas reuniões? Quantas
atividades no Chapadão da Montanha? Quantas novas pioneirías, quantas
artimanhas e engenhocas eles haviam treinado em segredo para ninguém das demais
patrulhas verem? Ele conhecia de cor e salteado as normas e exigências de
campo. Uniforme sempre a mão limpo e passado. Sapato limpo, meias com estrias
retas, lenço bem dobrado, fivela do cinto brilhando. Isto no campo nunca foi
empecilho. Nunca poderia faltar o lenço de bolso e o pente. Eles aprenderam e
sabiam como fazer. Ele sabia que nos dois primeiros dias as pioneirías bases
seriam construídas. Não importava o estilo e sim o acabamento. Eram peritos na
arte do encaixe e amarras feitas só com três voltas. O difícil era a partir do
terceiro dia. Tinham que criar novas pioneirías principalmente às engenhocas e
artimanhas. Fáceis de fazer, mas teria que ser uma surpresa para o Chefe.
No terceiro dia de
campo o empate era previsível. Esqueceram-se da Maçarico de Tonon que os
perseguia bem de perto. Na corte de honra feita a noite novas regras foram
introduzidas. O Chefe Muralha disse que a contagem dos pontos seria diferente.
Seriam seis itens somente. Dez ponto por item. Máximo de sessenta. Limpeza de
campo, Oleamento e afiação das ferramentas de corte e sapa. Uniformes limpos e
com garbo. O Fogão Suspenso com amarras renovadas. Apresentação pessoal e
tralhas individuais. Finalmente a disposição à alegria e o espírito Escoteiro.
O Chefe Muralha ia fazer a última inspeção sozinho. Desta vez os Monitores
ficariam na patrulha. Foram dormir às onze e meia da noite. Dormir? E quem
conseguia? Uma vontade enorme de levantar e começar a varrer o campo, passar
sapólio e Bombril nas panelas, correr o campo de cima abaixo a procura de um
objeto estranho.
As normas eram
inflexíveis, não era permitido levantar antes das seis. Seis e cinco todos
deviam estar no campo de patrulha fazendo a física habitual. Depois sim,
liberado para café e preparação do campo. Eles no tempo livre do almoço, do
banho e do jantar reviram tudo que podiam. Cada um sabia que nem uma agulha
seria encontrada. Sabiam que o material individual estaria bem dobrado, do
maior para o menor e limpo. As barracas arejadas e peças molhadas no secador. À
tarde do dia anterior ficaram horas lavando cada peça e deixando secar para
depois passar a moda escoteira. O café foi engolido as pressas. Cada um tentava
ver se alguma das patrulhas tinha feito alguma engenhoca ou artimanha nova. As
amarras e as costuras da mesa, dos bancos, das camas, do fogão suspenso, do
porta treco, da intendência foi revisada e novamente fixada. As fossas
incrivelmente livres de bichos e mosquitos. O WC um brinco. O lenheiro bem abastecido.
O Chefe foi recebido com honras Escoteiras. Revisou rapidamente patrulha por
patrulha. Cenho franzido, um pequeno sorriso e lá foi ele para o campo de
chefia terminar a contagem.
Cada patrulha com o
coração nas mãos. Suspiros, pensamentos bons e maus. Cada um perguntava ao
outro: - Será que ele achou alguma coisa? Os três toque do chifre do Kudu foi
dado. Chamada geral na arena da Bandeira. Patrulhas em forma cantando rumo ao
cerimonial. Bandeiras a postos. Patrulha de Serviço se apresenta. Chefe Bandeira
pronta! Tropa firme! Bandeira em saudação! Firme! Descansar... Um burburinho no
ar. A Tropa ainda formada em ferradura. Gastão faz a oração. Como sempre linda.
O vento sul soprando devagar. O Chefe toma posição na ferradura. Um Pica-Pau
trabalha em um galho próximo e seu som se faz ouvir. – Escoteiros! Era a voz do
Chefe Muralha. Uma surpresa, a Lobo, a Touro e a Corvo empataram. A maçarico
foi a melhor. – Maçaricos formados em linha! Gritou o Chefe. Sorrisos no ar. O
Troféu Jabuti foi entregue. Tonon chorava de contente. Todos se abraçavam.
Liceu, Tomé e Murilo como
bons escoteiros abraçaram a cada um dos valorosos patrulheiros da Maçarico.
Fizeram questão de dar com eles o grito de patrulha. Às vezes a gente ganha e às
vezes a gente perde. Faz parte, ninguém é invencível. Não vamos rezar para uma
vida fácil, vamos rezar por forças para suportar uma difícil. Não é a forma do
gotejar da água que fura a pedra, mas sim a persistência incansável desta ação.
Ninguem nunca pensou que os Maçaricos podiam ganhar, mas eles calados,
trabalhando e sorrindo chegaram lá. Eles sabiam que Tonon passou a ser um velho
Monitor e agora reconheciam seu valor. Afinal o segredo do sucesso é a
positividade, paciência, persistência e claro... Fé em Deus! – Parabéns Maçaricos!
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