Sem crônicas, sem lendas, sem nada...
Hoje não têm Crônicas e nem historias...
-
Não tem. Ando meio desencantado com minhas escritas. Resolvi fazer um recesso.
Dar um tempo. Contei historias demais. Hoje escrevi uma historia e depois um
artigo. Não gostei. Apaguei do meu pensamento, é nele que configuro as
personagens e vivencias da história. Os temas não foram do meu interesse e não
seria de ninguém que me segue nas mágicas páginas onde costumo escrever. Era
sobre um Escoteiro que cantava para espantar a tristeza. Ele amava sua barraca,
as noites mal dormidas, nas trilhas esquecidas e o céu estrelado com lua cheia
a brilhar. Ele não tinha Chefe, não tinha Patrulha não tinha registro e nem
sabia o que era a palavra união. Muitos perguntavam quem era ele e ele mesmo
não sabia quem era. Dizia que poderia ser uma sombra, uma figura geométrica, um
ser inanimado nas histórias escoteiras do Brasil.
- Desculpem...
Sem querer comecei a contar uma história... Seria uma boa história? Acho que
não. Prefiro não contar e me silenciar. – Mas deixem-me explicar... Houve um
tempo que ele leu e estudou muito o Sistema da Formação Escoteira. Saia pelas
florestas procurava uma boa aguada, fazia sozinho um fogão tropeiro, montava
seu toldo de folhas verdes, um lenheiro e cozinhava para sí um belo jantar. E
quando a noite chegava, ele olhava para o céu estrelado, pensava que poderia
pegar uma carona em algum cometa viajado e sair por aí soltando poeiras
coloridas no ar... Era um escoteiro danado, pegado nas trilhas do nosso país.
Mas um dia cresceu, virou homem, continuou fazendo viagens “Escoteiras” e disse
para si próprio que ainda não tinha encontrado o seu próprio “eu”.
- Nossa!
Será que estou contando uma história, um relato, um artigo? Sei que não é. Pensando
bem contar para quem? Quem se interessa pelo Escoteiro que cantava para
espantar sua tristeza? Que saia pelos campos floridos, nos montes e horizontes,
a escalar montanhas para acender uma fogueira e deixar as fagulhas subirem ao
céu e irem procurar outros escoteiros moradores das estrelas... Pensava que o
vento açoitava suas noites sem luar. Confuso pensava que sua fogueira poderia iluminar
o mundo, fogueira faceira metida a escoteira, daquelas que soltavam fagulhas
vermelhas no ar, que brincavam de pique esconde, a esconder dos pirilampos que
acendiam suas lanternas querendo brilhar...
- Melhor
ir parando a história no meio do caminho. Hoje não vou contar... Quem vai se
interessar? Disseram para ele que havia no meio do caminho uma história... Uma
história na beira do caminho! Travesso um façanhudo de Calças Curtas e Chapelão
ele pensava que era um apaixonado escoteiro que gostava de cantar. Costumava
cantar em Si-bemol, tocava uma harmônica e tocava um violão. Em qualquer trilha
solfejava descansando na sombra de um arvoredo para o sol não o pegar. Gostava
de colocar sua mochila e sair por aí cantarolando nas trilhas do faz de conta,
pensando em encontrar Fernão Dias Paes, o bandeirante, aquele que adentrou
pelas terras brasileiras a procura de esmeraldas... E se perdeu em uma montanha
sem nada encontrar... Ele iria encontrar a sua? Uma linda e formosa Esmeralda
tão verde como as matas do seu Brasil?
-
Não, hoje não vou contar histórias. São tantas que nem sei quais são as
verdadeiras, as vividas, as nunca esquecidas, as sonhadas, as que deixaram cicatrizes
no vai e vem da vida ou as tiradas da imaginação. Nem vou dizer que o Escoteiro
cantador adorava ouvir o som da floresta, ouvir a voz do vento, das estrelas e
do firmamento, adorava os trovões das tempestades, ou de um raio brilhante no
céu. E ao amanhecer de um novo dia ele sorria ao ver um belo dia de sol.
Gostava de ver a passarada acordar nas madrugadas. Amava as noites escuras estreladas
para ouvir a Cotovia e o Uirapuru quando saiam para fazer duetos para os
insetos... Era como a audição do mateiro escoteiro ouvindo o doce chilrear de
um sabiá laranjeira, o curió, “Deus Meu”! Era lindo demais.
- Se
fosse ontem, eu estaria preparado para criar uma bela história, falar da
fraternidade, da humildade da Lei, da Promessa encantada dita com amor num
cerimonial qualquer... Da bandeira, da Caverna, do Pico do Itacolomi. Mas hoje?
Minha mente não sabe contar uma história. Hoje não. Não daquele Escoteiro que foi
amigo do Lobo Cinzento, do Beija Flor farofeiro nas matas do Azulão. Ele era um
amigo da floresta, dos pássaros, dos animais e tinha até uma dúzia de borboletas
coloridas de estimação. Nunca esqueceu o dia que fez uma amizade perpétua com uma
coruja de olhos verdes, se apaixonaram e até hoje fica tristonho ao lembrar que
nunca mais a viu. Ela sumiu nas matas do meu Brasil.
- Cutuco
meus dedos... Reclamam do tique taque das batidas estridentes nas teclas
invisíveis, daquela máquina esquecida, que ficou no tempo e hoje foi substituída
pela modernidade. Estou triste... Não vou contar uma história. Não insista, por
favor... Não vou falar do Escoteiro que no Vale dos Esquecidos, sozinho,
hasteou a Bandeira Nacional, em posição de sentido fez sua promessa: - Senhor
Baden-Powell, meu mentor... Eu prometo ser fiel a Deus e a minha Pátria. Cumprirei
meus deveres para com sua bela filosofia e juro pela minha honra que serei um
Escoteiro alegre sorridente nas dificuldades, que ajudarei o próximo em
qualquer ocasião, que serei leal e puro nos meus pensamentos nas minhas
palavras e nas minhas ações.
- Pisco
de banda... Não posso hoje contar uma história. Para que? Dizer que aquele
escoteiro não tinha inscrição no topo da pirâmide do seu país, pois ele nunca quis
e preferia ser dono do seu próprio nariz! Dizia ser irmão de todos, que iria
cumprir sua lei por toda sua vida. Disse ao Seu Deus que a vida passa e que as
histórias ficam no tempo e nunca mudam de lugar... - Eu queria contar uma
historia e me perdi no tempo, me perdi na memória e não sabia ir e nem aonde
chegar... É... Eu queria contar uma história... Quem sabe você conta uma para
mim?
Uma
linda noite meu irmão de ideal. Desculpe mas desta vez não tem história!
Boa
noite.
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