A saga da Tropa 222.
Capitulo I –
1956
Tudo tem seu
tempo, sua hora e lugar.
- Vai cair! Deus do céu eu não
aguento mais segurar! – Xavier com seus 12 anos gritava sem parar. Ele não
estava só havia mais dois com ele. Mas a chuvinha fina incessante caia sem
parar, a estradinha ia desaparecendo e com ela a carretinha da patrulha.
Castelo gritou alto – Segurem! Vou tentar pegar o material com a corda por
cima. Vi uma fenda bem próximo da estrada no alto e cabia até duas pessoas.
Todos olharam e viram também. Estava enlameada. Não seria fácil ir até ali, mas
todos sabiam como Castelo era. Tudo para ele era sempre um desafio e ele nem
pestanejava. Para isto era o Monitor. Silva correu para ajudá-lo. Conseguiu. –
Gritou para Tavares – Suba na carretinha, amarre primeiro o saco de patrulha e
depois o material de sapa! E vocês segurem, pois se não vai o Silva e a carreta
cair pelo despenhadeiro! Tavares gritou de alegria. A carretinha parou de
escorregar. Já quase vazia conseguiram tirar a roda que balançava no ar.
Moreira sorriu aliviado. Pensou que não ia sobrar nada, o medo estava passando.
Botelho tentava ajudar, mas sua perna doía demais. Foi ele o culpado quando a
chuvinha começou e foi coçar as costas perdendo o equilíbrio e a carretinha
começou a cair no precipício.
Depois do susto todos os olhares era
para Coutinho, ele abaixou a cabeça. Afinal foi ele quem deu a sugestão de
alterar o caminho. – Foi o Seu Rinaldo da venda quem me ensinou. Disse que se
passássemos pelo Morro do Sultão iriamos economizar mais de uma hora na
jornada. – Coitado do Coutinho. Se a carretinha tivesse caído ele nunca iria
deixar de se culpar. No principio não foi difícil. Eram sete e a carretinha não
estava tão pesada. Foi na volta do Macuco, logo após passarem pela Porteira que
tudo começou a ir por água abaixo. Uma chuvinha fina, a terra formando barro, a
carretinha deslizando e o perigo chegando. Se tudo estivesse seco não haveria
perigo algum. Qualquer mancada eles sabiam que era uma garganta profunda, mais
de oitenta metros. Uma queda fatal. Castelo gritou alto com todos: - Deixem o
pobre do Coutinho em paz, ele só queria ajudar! Vamos partir, pois temos menos
de duas horas antes que escureça! – E lá foram eles, agora mais fácil só
descida. Meia hora e avistaram o local do acampamento. O Vale das Sombras era
um local excelente para acampar. Conhecido do Chefe Nonô e plenamente avalizado
pelo Chico Totonho. Dono da Fazenda Santana. Tinham ido lá uma vez com ele em
um domingo. Escolheram outro caminho e nada deu certo.
O
acampamento estava marcado. O Chefe Nonô expediu um estafeta para avisar aos
demais de uma reunião urgente com os monitores e subs. Eram somente sete em
treinamento para quando fizessem a promessa e os demais inscritos entrassem.
Fazia três meses que estavam juntos e muitos não se conheciam antes de serem
escoteiros. Quando fizeram à promessa eles mesmos juraram que seriam amigos e
irmãos para sempre. Nenhum deles conhecia o Chefe Nonô, ficaram sabendo depois
que era novo na cidade. Ninguém o viu chegar. Matreiro não mostrava o rosto.
Ele chegou quando o sol estava se pondo. Dormiu na Pensão da Dona Gloria e no
dia seguinte todos comentavam que ele tinha comprado a Loja do Raimundo. Uma
loja simples, mas com bom tamanho na rua principal. Em menos de dois meses era
a maior loja de eletro domésticos da cidade. Sem que a cidade percebesse foi
conquistando a todos que entravam em sua loja.
Todos foram chegando e se assentado em
volta da mesa. Não era comum o chamado do Chefe, mas naquela noite ficaram
sabendo o porquê da convocação. Era comum sempre fazerem reunião de monitores e
subs. Chefe Nonô explicou a todos que ficaria fora por um mês e que a patrulha
devia continuar se reunindo. – Afinal vocês não podem ficar sempre dependentes
não acham? Ele disse. Tem que fazer como Caio Vianna Martins, o Escoteiro
caminha com suas próprias pernas! – Moreira o Cozinheiro riu. Ele se lembrava
da história e até gostou. Pediu ao Chefe que escrevesse para ele guardar na sua
pasta Escoteira. Quem não gostou muito quando soube da viagem foi Castelo. Ele
sonhava com o acampamento marcado para o sábado seguinte no Vale das Sombras.
Eles conheciam o local. Fizeram uma atividade lá em um domingo. Era meio
escondido, o sol quase não aparecia por causa das montanhas em volta. Mas tinha
uma linda cascata, um local gramado e bambus à vontade. Tudo tinha sido
preparado pelo Xavier o intendente. Nada faltava. Ele fez questão de afiar as
ferramentas, limpar as duas barracas e as panelas apesar de velhas sempre brilhando.
E então Chefe, vamos cancelar o
acampamento? Chefe Nonô ficou pensativo. Foi Tavares o sub quem deu a ideia –
Porque não vamos com a patrulha? Não somos unidos? Não estamos preparados? E
olhou para o Chefe Nonô. – Ele pensou e disse que queria ouvir a opinião de
todos! – E assim pela primeira vez a patrulha iria acampar sozinha. Ficou
determinado que cada um trouxesse a autorização dos pais por escrito. Não foi
difícil. Para explicar aos pais a patrulha comparecia completa na casa de cada
um. Só o pai do Botelho teve duvidas, mas tantos a falarem ao mesmo tempo, que
ele para se livrar deu a autorização. Tudo certo para a partida. Chefe Nonô
viajou naquele dia mesmo. Ninguém sabia onde ele foi. Ele não contava nada.
Sempre viajava sem dizer para onde. O que fazia era uma incógnita. Gostavam
dele, nunca viram um adulto como ele amigo dos jovens, sabia ouvir e aconselhar
claro se os Escoteiros pedissem. Ele sempre dizia que se conselho fosse bom se
vendia e não de graça como é hoje.
Chegaram ao Vale das Sombras às quatro da
tarde. Cada um já sabia o que fazer. Haviam treinado antes. O tempo melhorou o
céu estava limpo e sem nuvens. Em pouco tempo as barracas ficaram de pé,
Moreira improvisou um fogão tropeiro até que o suspenso ficasse pronto. Uma
mesa na cozinha foi feita por Silva e Botelho. A noite chegou mansa, calma e
gostosa. Uma brisa leve do norte soprava levando a fumaça do fogo para outras
paragens. Nada deu errado. Castelo sorria aliviado. Ele ficou com medo de
acamparem sem a chefia. Mas graças a Deus todos sorriam e ele sabia que aquele
sorriso era porque estavam gostando do acampamento. – Interessante, pensou
Castelo o que três meses de convivência pode fazer. Ele sentiu as mudanças
desde o primeiro dia. Cada um desconhecendo o outro. Alguns querendo mandar e
outros a criticar tudo que se fazia. Agora não eles pareciam uma família. Mas
não era este o objetivo? Não é assim que se vive em grupo? Bem pelo menos foi
assim que o Chefe Nonô nos explicou.
nota: Esta historia é um preâmbulo
de um novo livro meu. “A SAGA DA TROPA 222”. Já tenho 40 páginas
escritas. Estou escrevendo devagar. Já não tenho a agilidade de antes. Espero
terminar antes de partir para o meu Acampamento no céu. Farei tudo para que
aqueles que apreciam meus contos possam ler. Divirtam-se com este começo. “Quando a vida lhe oferece um sonho
muito além de todas as suas expectativas, é irracional se lamentar quando isso
chega ao fim”.
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