Lendas
Escoteiras.
A estrada do
fim do mundo.
(A lenda supera a
realidade. Muitos diziam que encontraram esqueletos com facas de madeira
ficadas no coração. Outros que diziam que a estrada levava a Ushaia, mais
conhecida como a estrada do Fim do mundo. Quem por ela passava diziam que nunca
mais voltaria. Covas de vampiros, esqueletos fantasmagóricos, um cemitério
bizarro uma passagem entre montanhas e escarpas que todos chamavam do Vale do
medo. Bruxaria? Caixões em miniaturas vazios, mas soltando uma fumaça vermelha?
Mentira ou verdade, mas toda a população da cidade de Fonte da Saudade evitava
passar por ali!).
Até hoje todos se perguntam
por que ninguém se preocupou quando Sarah atravessou toda a Rua do Alencar de
uniforme, com uma mochila as costas um bastão as mãos e um sorriso de quem ia
descobrir o mundo. Não era uma rotina para os moradores tal fato, mas os
escoteiros eram conhecidos que já nem se falava mais no que eles representavam
para a cidade. Muitos sabiam da lenda da Estrada do Fim do mundo, mas era
apenas uma lenda. Contavam as centenas de causos de desaparecidos, de discos
voadores, de luzes coloridas que transportavam os meninos para uma cidade
existente no espaço sideral. Os mais idosos falavam do Cemitério Maldito, das bruxas
de olhos vermelhos, de esqueletos em cada curva do caminho. Ninguém acreditava
e diziam que eram apenas histórias. Nada havia sido provado ate hoje. Tomukan e
Jardel tinham um sítio logo no inicio da cidade. Nunca passaram pela estrada a
noite sempre ao sol do meio dia. Uma estrada praticamente deserta e arriscar
para que?
A cidade se regozijava com os
escoteiros. Faziam de tudo para alegrar a comunidade com Fogos de Conselhos,
desfiles, apresentações teatrais e muitos chefes se reuniam aos sábados e
domingo no Coreto da Praça para contar histórias. Os lobos e lobas as
Escoteiras faceiras, os escoteiros cantantes, seniores guias e pioneiros. Uma
juventude serelepe voltava para o bem e para o amor fraterno. Um dia sem
ninguém esperar um Chefe desconhecido subiu no coreto e sério pediu silêncio.
Ninguém sabia quem era bem uniformizado sim, mas seu semblante se visto mais de
perto parecia com a cara do diabo. Mas diabo tem cara? Sei não. Dizem que
muitos já o virão e outros que querem ficar longe dele. Todos se assustaram e
prestaram atenção ao que ele dizia. – Um conselho ele disse, não se arrisquem,
não facilitem os demônios que podem levar vocês. Nunca em tempo algum escolham
a estrada do Fim do Mundo para escoteirar!
Se ele não tivesse dito isto nada teria
acontecido. Mas Sarah sempre persistente para ver o que não deveria disse a sua
patrulha que iria excursionar na Estrada do Fim do mundo. Todos conheciam
Sarah. Sabia dos seus medos e de sua luta em vencer a todos eles. Quando ela
partiu e não voltou à cidade ficou em polvorosa. Era um corre-corre sem parar.
Os escoteiros foram os primeiros a procurar. Dona Ana Lobato foi quem contou
que a viu indo para a estrada do Fim do Mundo. Quem se arrisca? O Chefe Lobo
Cinzento sorriu. - Deixa comigo disse. Vinte dias depois voltou todo rasgado,
ensanguentado, desgrenhado e com os olhos arregalados e o pior: - Mudo. Não
falava nada. Os bombeiros da cidade deram uma voltinha no inicio e a grita que
ouviram ao longe fez todos correrem para suas casas. O Prefeito Done Branco
pediu a ajuda do exercito. Tanques deixaram marcas e nada foi encontrado.
Os Touros estavam calados. Em
reunião de Patrulha Tarquino falou baixinho – Sarah era das nossas. Deixar que
o diabo tome conta dela? Afinal e nosso orgulho? Jiparanã, Joviel, Calixto e
Catapora se entreolharam. – Vamos ficar sem fazer nada? Não tinha jeito.
Calixto levou dois facões, Catapora quatro canivetes. Jiparanã preparou a
ponteira de aço de seu bastão. Joviel era franzino. Não estava com medo, mas
enfrentar a capetada não era fácil. No baú do seu pai ele sabia que tinha um
enorme crucifixo. Era ele sua arma principal. Na Rua do Alencar ninguém queria
olhar. Eram cinco escoteiros que passaram bem ligeiro rumo a Estrada do Fim do
Mundo. Todos sabiam que sem Sarah não iam voltar. Nem bem escureceu quem
olhasse bem a frente da Estrada do Fim do mundo iria ver um vermelhão, gritos e
sussurros. Quase dois dias e o céu continuou vermelho e as estrelas pararam de
piscar. Cinco dias depois a zoeira terminou. O sol surgiu e as nuvens do céu
voltaram a ser brancas e alvas.
À tardinha a passarada
fez uma revoada infernal em Terra do Amanhecer o que fez todo mundo correr para
a Rua do Alencar. Viram surgir ao longe, a Patrulha Touro com seus cinco
escoteiros e a frente Sarah. Ela sorridente, eles sorridentes. Todos queriam
saber, mas ninguém queria contar. A história termina aqui. O que aconteceu na
Estrada do Fim do Mundo ninguém nunca soube. Nunca mais o céu ficou vermelho,
os gritos das noites de tempestades sumiram. A estrada ficou toda gramada, nas
áreas próximas a flores do campo surgiam aos borbotões. Agora toda a garotada
passeava a pé ou em seus cavalos de aço na estrada que encontrou a paz. Na sede
dos escoteiros todos queriam saber. Mas Sarah, Tarquino, Jiparanã, Joviel,
Calixto e Catapora nunca contaram nada a ninguém. O tempo passou, Sarah casou
com Joviel, Tarquino foi embora para a capital. Calixto e Catapora foram atrás
de ouro nas Selvas do Amazonas. O bom de tudo que Jiparanã recebeu sua
Insígnia, e agora é o chefão geral dos escoteiros e olhe ninguém até hoje soube
o que aconteceu com Sarah, a patrulha na Estrada do Fim do mundo!
Felizmente,
ele e o Poeta reuniram suas ruínas e ajudaram-se mutuamente a sobreviver ao
demônio da culpa. Saíram pelas estradas, dormiram ao relento e viajaram juntos
para o epicentro dos seus terremotos emocionais. Viram as perdas por outros
ângulos, aceitaram suas limitações, cantaram, sorriram, brincaram com a vida,
deixaram de brigar com ela.
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