Lendas
Escoteiras.
Apenas uma
lágrima.
- Eu não sabia como dizer uma
frase ou apenas uma saudação para mostrar a falta que ele iria fazer. Eu sei
que a morte nada mais é do que uma despedida inesperada que não temos o poder
de contestar ou evitar. Em pé tirei meu chapéu e fiz um breve aceno com a
cabeça. As lembranças bateram forte na minha mente e uma dor esquecida veio
machucar meu coração. – Olhei para ele no seu ataúde e falei baixinho: - Você
vai fazer muita falta... Seria verdade? Afinal fomos da mesma patrulha,
tínhamos os mesmos sonhos, andamos por lugares nunca antes imaginados e o
destino deixou na porta da esperança uma partida brusca de alguém que sempre
morou no meu coração.
- Não tirava os olhos de
seu ataúde. Dava vontade de gritar de chorar e dizer que toda despedida é um
encontro que ficou pra depois. Mas quando? Lembrar-se do seu sorriso, do seu
canto, dos seus cabelos soltos ao vento na subida do monte Pantaneiro com seu
grito de guerra de uma patrulha que não sabia o que era medo? - Ele sempre me
disse que despedir-se não é dizer adeus, é apoiar e desejar sucesso para nova
jornada que está apenas começando. – Meu irmão Escoteiro - Ele sussurrava na
entrada da Gruta do Ouro como se fosse contar uma história: - Não fique triste
com a despedida. Ela é necessária para que possamos nos encontrar mais uma vez.
– Onde? Na eternidade? Os soluços não paravam.
- O Chefe passou o braço em
meu ombro. – Disse baixinho em meu ouvido: - Monitor, na melancolia da
despedida a esperança do reencontro nos dá força para suportar a saudade. – Não
prestei atenção a ele. Precisava rezar acreditar que tudo passa, pois até agora
eu não sabia se a vida iria passar. – Deus! Se um dia eu estiver prestes a
perder as esperanças como agora, me ajude a lembrar de que os teus planos são
maiores que os meus sonhos e minhas amizades.
A cada despedida eu morro por dentro. A cada reencontro sinto que estou
indo para o céu!
- A hora chegou. Aquela
meninada escoteira triste me ajudou a caminhar ao lado Dele até sua última
morada. Eu sabia que não haveria volta. Eu sabia que tinha de aceitar, pois meu
Chefe sempre disse que eu devia seguir firme na direção das minhas metas. -
Escoteiro, saiba que o pensamento cria, o desejo atrai e a fé realiza.
Acredite, amanhã será um dia melhor! – E ele? Onde estaria agora? Ali no campo
santo a ver seus amigos com coração partido sem rumo e sem saber aonde ir? – Eu
chorava copiosamente. Não cantei a
despedida. Nem fiz uma saudação. Eu estava morrendo por dentro. Senti alguém
por a mão em meu ombro. Ela sorriu como a adivinhar que eu precisava ser
consolado. Mas eu era o Escoteiro e ela uma novata.
– Ela com um doce sorriso
disse-me que nunca é tarde para pegar uma velha história de amizade e escrever
um novo final. – Que o azedume alheio não iria me impedir de espalhar doçuras
por aí. Meu irmão Escoteiro tempestades não duram para sempre! – Não disse
nada. Nada havia o que dizer. Ah! Quanto tempo ele se foi? Parece que foi ontem.
Não tenho mais patrulha, agora sou um Escoteiro do mundo. Minha vida mudou e
Otávio nunca saiu dela. Eu sabia que o destino une e separa. Mas nenhuma força
é grande o suficiente para fazer esquecer pessoas que por algum motivo um dia
nos fizeram felizes. Nas águas cristalinas do riacho onde estava parece que o
vi no remanso sorrindo e dizendo: - Meu amigo eu vou indo. Quando eu voltar,
estarei de volta!
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