segunda-feira, 12 de junho de 2017

Chefe João Soldado o imortal.



Lendas Escoteiras.
Chefe João Soldado o imortal.

                 Carlito e Rosana dois pioneiros eram os responsáveis no transporte ida e volta do Chefe João Soldado até a sede neste sábado. O grupo fazia uma vez por mês uma reunião especial onde comparecia boa parte dos antigos escoteiros. No final um encontro social com comes e bebes levados por eles. Chefe João Soldado era especial. Quase todos conheciam sua história, sua saga no grupo. Ele sempre foi saudado como o pai de todos. Ouve outros, mas ele foi o único que ficou desde a fundação. Oitenta e três bem vividos escoteirando. Tudo surgiu com o Padre Rocco e apoiada pelo Doutor Moscato Diretor do Colégio São Pedro. Ele tinha ouvido falar dos escoteiros. João Soldado tinha na veia o sonho militar. Quantas vezes sumia de casa e ia até o Tiro de Guerra, marchando com os recrutas. Foi adotado como mascote. Quando o grupo começou foi o segundo a se matricular na Alcateia. Ficou na fila nove horas. Não parava de falar. Falava na escola, em casa, na mesa de refeições e até dormindo falava. Adotou o escotismo para sempre.

                      Foi escolhido com mais seis lobos, oito escoteiros. Nos lobinhos aprendeu o que era democracia. Escondido atrás de um biombo viu os diretores escolherem o nome do Grupo Escoteiro. Sentiu-se importante. Lembrou de que toda noite sua mãe lhe dava boa noite e dizia: - A estrela cadente me caiu ainda quente, na palma da minha mão! Sorria e dizia dorme com Deus. Repetiu o verso. Todos os diretores o olharam espantados. Poucos acreditavam quando contava esta história. João Soldado na primeira reunião ainda se chamava João Francisco. Foi Mosqueteiro quem o chamou assim. Ficaram amigos para sempre até que aos setenta e nove anos Mosqueteiro morreu. Poderia escrever um livro de mil páginas da sua vida como escoteiro. Tinha histórias para contar. Nunca esqueceu o seu segundo acantonamento. Barracas armadas próximo ao Riacho da Raposa choveu, uma enchente enorme carregou tudo. Voltaram para casa chorando e pensando como iam ter um novo material de campo.

                    Akelá Tereza era única. – Vamos em frente ela dizia. - Quando um lobo não encontra a si mesmo, não encontra nada! – Em menos de cinco meses conseguiram substituir tudo que perderam. Não chorou ao passar para Escoteiro. Diziam que na cidade dos homens eles diziam: - Se cair levante se deslizar se segure, mas nunca pense em desistir. Quanto mais amarga for sua queda mais doce será sua vitória. Devorou livros, nada ficou sem ele conquistar. Distintivos, comendas enfim era um Escoteiro que não sabia o que era a palavra desistir. Foi um Sênior que sempre dizia: - Eu não sou nada e talvez tenha tudo. Fora isto eu tenho todos os sonhos do mundo. Não houve uma montanha uma planície ou um vale que ele não viajou com sua mochila que ele mesmo fez. No Clã era um camarada amigo e fraterno. Ficou pouco tempo, assumiu a Tropa Cauã. Era a segunda do Grupo. Seu sorriso era contagiante. Religioso fazia questão de dizer que Deus é tudo e que não existe escotismo sem ele.

                     O tempo passou. O amor ao seu grupo nunca terminou. Nunca se esquecia de dizer nas tropas, nas alcateias que era uma pessoa feliz. – Amo a vida, e dela sou aprendiz. – Tenho várias paixões e o escotismo é minha filosofia e minha inspiração. Mas não se esqueçam eu também possuo imperfeições. Se os caminhos que percorro não forem os que eu quero pelo menos luto por eles. A cada dia me procuro tornar melhor. Nunca assumiu a chefia do Grupo. Insígnia agradeceu convites de ser formador. Amava seu grupo, mas amava mais ainda o escotismo. Era sua filosofia de vida. Nunca pensou em se aposentar e quando se tornou o mais antigo do grupo, quando Mosqueteiro foi morar nas estrelas, resolveu diminuir as atividades. Acampava de vez em quando, e nunca deixou de acantonar com os lobos. O Grupo Estrelas Cadente tinha vida própria. Ele nunca interferiu. Sorria e lembrava-se do poeta: - O meu ideal politico é a democracia. Torço para que todo homem seja respeitado como indivíduo e que ninguém seja reverenciado e idolatrado.

                       No verão passado fazia um céu azul tão límpido, que parecia saudar a entrada do Chefe João Soldado na sede do grupo. Todos estavam a sua espera. Havia um sorriso no ar. Impossível ver tanta alegria. João Soldado sorria. Seus 89 anos o deixou quase sem voz. Gesticulava pouco e seu sorriso nunca desapareceu. Muitos antigos escoteiros sabiam que a suprema felicidade da vida é a convicção de ser amado por aquilo que você faz e aquilo que você é. Sua cadeira estava lá. Não caminhava mais. Queria contar causos e não conseguia, mas estar ali junto a quem amava bastava para reviver uma vida cheia de felicidade. Dizem que a gente não precisa buscar a felicidade fora, ela está dentro de você. Se insistir em sair por ai é possível que nunca vai encontrá-la. O Chefe do cerimonial educadamente olhou para todos, por último em João Soldado. Ambos sorriram. A ordem foi dada:

- Escoteiros firme! A bandeira em saudação! Um frêmito de sons de braços estendidos fazendo a saudação. João Soldado quis levantar, mas não conseguiu. O vento jorrava saudades de um passado que se foi. As bandeiras farfalhavam. – João Soldado sem ninguém ouvir falou para si mesmo: - Vento, ar que respiro ventania tempestade que vivo. Flores... Que me fazem respirar. - Firme descansar! O Chefe do cerimonial olhou para o Chefe João Soldado. Ele sorria seus olhos abertos, mas seus braços inertes. Rosa Linda uma Lobinha deu três passos à frente. Chorava. Cantou em forma de poesias o canto noturno do cisne, daqueles que deixam saudades; - Chefe João Soldado! O vento sussurra-me algo ao pé do ouvido. Chefe você é imortal. – Eu falo com esperança de um dia ser como você.  Eu sei que entendes as cantigas do vento, disseram que no Fogo de Conselho você os invocava com sabedoria. Mas Chefe, ah! Se eu pudesse falar a língua dos ventos teria a audácia de mandar-te um beijo um abraço um sempre alerta gostoso e nada mais.


João Soldado o Chefe imortal estava morto. Uma estrela Cadente apareceu no horizonte, brigando com aquele céu azul que brilhava intensamente. Todos com seus bastões fizeram a saudação do adeus para seu Chefe que viveu e morreu com o escotismo no coração. – Alguém baixinho falou: - Para viver não precisamos ser melhor que ninguém, nossas ações falam por si.  Do pó viemos ao pó voltaremos! 


Chefe João Soldado! O vento sussurra-me algo ao pé do ouvido. Chefe você é imortal. – Eu falo com esperança de um dia ser como você.  Eu sei que entendes as cantigas do vento, disseram que no Fogo de Conselho você os invocava com sabedoria. Mas Chefe, ah! Se eu pudesse falar a língua dos ventos teria a audácia de mandar-te um beijo um abraço um sempre alerta gostoso e nada mais. Apenas uma história, uma lenda que ficou para sempre na memoria dos escoteiros.

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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