segunda-feira, 24 de julho de 2017

Lendas escoteiras. Quando a vida imita a arte.


Lendas escoteiras.
Quando a vida imita a arte.

                              Boa noite Jonny Boy! – Boa noite papai! Ele sorria e fechava os olhos mesmo não estando com sono. Ele gostava quando seu pai lhe dava bom dia e boa noite. Um dia ele lhe contou sobre seu nome – Filho, sua mãe trabalhou em casa de gente rica e várias vezes assistiu um seriado na TV onde havia um jovem chamado Jonny Boy. Ele gostava quando seu pai lhe contava esta história. Ela lhe lembrava de sua mãe que fora morar com Deus. – Seus olhos brilhavam quando seu pai falava sobre ela. – Jonny Boy, sua mãe era linda, todos queriam casar com ela, mas eu fui o escolhido. Jonny Boy se Deus escolheu ela para ir primeiro não podemos nunca discutir os desígnios de Deus. Lembrou-se daquele dia que uns jagunços chegaram armados de espingardas obrigaram seu pai e ele a subir em um caminhão. Ele adorou a viagem, mas seu pai sempre com lágrimas nos olhos.

                              Seu pai lhe contou que o Coronel Saldanha não queria ninguém nas suas terras. Chegaram a São Paulo a noitinha. Não tinham onde dormir. Arrancharam-se embaixo de um viaduto. Seu pai sempre insistia com ele para sorrir. – Filho o sorriso encanta, trás paz, trás felicidade. Não existe dificuldade para quem sabe sorrir! – Ele amava seu pai. Tudo que ensinava aprendia. Seu pai tinha só um braço. Perdeu o direito quando manuseava uma máquina de moer cana. Não conseguia emprego. Ele se virava pelas ruas fazendo biscates. Limpando a praça, um jardim, lavando um carro e assim iam vivendo. Montaram uma cabaninha embaixo do Viaduto do Glicério. Quando ficou pronta Jonny Boy sorriu. Agora tinham uma casa para morar. Quando chovia o teto do viaduto deixava cair água suja e muitas vezes eles acordaram com barro no corpo todo. Mesmo assim eram felizes. – Seu pai dizia? - Quando mais difícil à vida Jonny Boy mais a vida tem valor. – Bom dia Jonny Boy! – Bom dia papai! Era assim todas as manhãs.

                               Naquele sábado pediu para ficar. – Seu pai disse que sim. – Claro Jonny Boy. Confio em você principalmente agora que vai fazer sete anos, você já é quase um homem feito. Que Deus o tenha! – Jonny Boy sorria. Todos os sábados ele gostava de ver os meninos de azuis no pátio do Colégio Sant Clement a brincar de lobinhos. Subia em uma aroeira enorme e lá do alto via tudo. Batia palmas, adorava ver eles gritarem lobo, correrem, cantarem e fazerem tantas coisas. Porque não posso ser um deles? Pensou. – Jonny Boy, disse seu pai, lá só para quem estuda no Colégio. – Pai! E eu não posso estudar? – O que responder? Seu pai ficou calado. Ele na noite anterior só tinha conseguido um pão que uma moça lhe deu quando olhava pelo vidro as guloseimas da padaria. Metade dele e a outra metade de Jonny Boy. Seria seu almoço do dia. Seu filho nunca reclamou. Quando a fome apertava ele sorria. Fazia parte dos ensinamentos que ele lhe deu.

                              Quando desceu da árvore ouviu alguém lhe chamando. Viu uma menina dos lobinhos fazendo sinais para ele. Pensou bem antes de aproximar. Sabia que sempre lhe batiam quando chegava perto de meninos e meninas ricas. – Venha! Quero lhe dar um abraço, ela disse! Ele correu para o viaduto. Se o vissem com ela o abraçando apanharia na certa. No outro sábado ela chegou sorriu para ele e deixou encostado uma sacola com muitas guloseimas, frutas, bolos e uma nota de vinte reais. Sorriu para ela agradecendo. Correu quando viu o segurança no carro que ia buscá-la. Seu pai sempre lhe dizia para tomar cuidado. – Você sabe Jonny Boy, os ricos ainda não aprenderam a amar e sorrir!

                                Ela se chamava Carmela. Família rica e tradicional. Quando ele disse que se chamava Jonny Boy ela riu. Ele riu com ela. Conversavam quando sentiu que alguém lhe dera um tapa na nuca. Caiu ao chão e quebrou um dente. Uma dor incrível. Olhou e viu que era o motorista de Carmela. – Pivete! Se vir você de novo junto dela vai acordar no rio Tietê! – Ela gritou com ele – Não adiantou. Pegou na sua mão e a levou para o carro. Ele pensou que ser rico não era bom. Ele sabia que ela nunca poderia ver a lua e a chuva caindo no rosto e a fome chegar. Todas as dificuldades seu pai lhe ensinou a amar. No sábado seguinte ao lado da arvore ele esperava ela chegar. Sabia que iria apanhar se o segurança visse. Ele estava com fome e ele sempre lhe dava alguma coisa para comer. Gostava dos escoteiros, eles eram bons e fraternos, mas seus pais e motoristas não. Voltou para sua casa embaixo do viaduto e naquela noite seu pai não apareceu.

                              Isto nunca aconteceu. Queria chorar, mas seu pai sempre dizia para sorrir principalmente nas horas mais difíceis. Custou para dormir. Durante cinco dias ele procurou seu pai por toda cidade. Não encontrou. Na Praça da Sé viu Carmela saindo da igreja. Ela o viu. Sua Alcateia fora fazer uma visita na Catedral. Ela correu em sua direção. Ele correu também. Um chute nas costas o jogou ao chão. Caiu desfalecido. Carmela gritava chamado o motorista de assassino. Ele de cara fechada a pegou pela mão e a levou arrastando até o carro. Ele ficou ali estirado por horas. Ouviu alguém dizer que estava morto. Ouviu vozes, diziam que era só um menino drogado. - Tentou assaltar uma menininha linda, disseram. Outros diziam que era um pivete que assaltava ali na praça. Começou a chover, ele sentiu a chuva em seu corpo. Tentou sorrir, estava difícil. A dor era muita. Dormiu!

                        Acordou com o sol a pino. Era lindo o sol. Ele amava quando seu pai o chamava para ver o nascer e o por do sol do alto do viaduto. Era bonito demais. Sentiu o corpo leve, não doía mais. – Jonny Boy! Bom dia! Jonny Boy olhou e viu seu pai. Ao lado uma senhora linda. – Jonny é sua mãe! Jonny sentiu a garganta seca. Queria rir não conseguiu. Queria chorar de alegria e não conseguia. Seu pai o abraçou. Sua mãe também. Você agora está em casa meu filho. Sabe o que vou lhe contar? Aqui tem lindas alcateias de lobinhos, você vai adorar! Jonny Boy estava encantado. Era bom demais. Subiu em nuvens brancas até o infinito. Papai! Aqui é o céu? - É sim meu filho, aqui seu sorriso vale o dobro da terra. Tudo é lindo, Deus está conosco e Jesus sempre aparece para dizer Boa noite!


                          Papai! Aqui tem pão com manteiga? – Tem sim filho. – Tem café com leite? – Tem sim filho. – Tem bife gostoso? Tem sim filho. Aqui tem muito mais. Ele viu uma meninada de azul correndo em sua direção – Bem vindo Jonny Boy, agora você vai ser um Lobinho da matilha Amarela! 

Nota - Apenas uma historia. Será mesmo uma historia? Quantos Jonny Boy existem por aí? Será assim tão fácil aprender nas dificuldades sorrir? Vivemos em um mundo onde não enxergamos que existem tantas pessoas carentes que às vezes esquecemos. Leiam a história. Já publiquei uma vez e se não leu sei que vai gostar Sempre Alerta!

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