domingo, 9 de julho de 2017

Os irmãos de Mowgly na Floresta de Seeonee. Parte I


Lendas da Jângal.
Os irmãos de Mowgly na Floresta de Seeonee. Parte I

                    Foi há muito tempo, ainda quando o mundo era feito de amor, onde o vento soprava nos vazios da floresta, anunciando a chegada da primavera, lá pelos montes de Seeonee, uma Alcateia de lobos felizes brincava a beira do rio Waingunga, Pai Lobo olhava com carinho as matilhas que brincavam com a água borbulhante e Mãe Loba deitada na grama tinha os olhos fixos no céu, aonde o sol chegava brilhante anunciando um lindo dia para os habitantes da Jângal. Pai Lobo gostava de estar ali, vendo a ninhada feliz e ronronava junto a Mãe Loba querendo mostrar a ela que viver em paz e harmonia era atingir a suprema felicidade.

                   Quando ele pensou em sair à caça viu um vulto de cauda peluda assomar à beira do rio: - “Boa sorte para todos, ó Chefe dos Lobos! E também boa sorte e rijos dentes para esta nobre ninhada, a fim de que jamais padeçam fome no mundo”! – Pai Lobo não gostou. Viu que era Tabaqui o Chacal, mais conhecido como Lambe-pratos que os lobos desprezavam, principalmente pelas pequenas maldades que fazia, as mentiras que contava e também o temiam porque era um Chacal e eles sabiam que quando ficava louco esqueciam o respeito aos demais.

                 Mãe Loba sabia que quando ele enlouquecia até o Tigre cruel fugia. Um Tabaqui louco era o mais desagradável dos animais da Jângal. Os sábios da floresta chamavam isto de hidrofobia, os animais diziam simplesmente: “dewanee” e fugiam. Ele olhou para a Mãe Loba e perguntou: - Será que nós os Gidur-lo (chacais) não seriamos merecedores de um gamo de osso com pouca carne para roer? Perto de Mãe Loba havia um osso assim. – Deixou que Tabaqui o apanhasse e se fosse para os grotões da floresta onde viviam os Bandarlogs.

               Dando saltos de alegria, Tabaqui saiu correndo e gritando: - Cuidado ó lobos, Shere Khan o maioral mudou seu campo de caça. Vai agora prear por este montes. Os lobos sabiam que Shere Khan morava as margens do Waingunga, a cinco léguas dali. Todos o chamavam de lungri, o aleijado. Sabiam que ele ficou manco quando nasceu. Agora só se alimentava do gado dos homens além da floresta. – Tabaqui rindo gritou novamente: - Posso contar a ele a gratidão da Alcateia? Pai Lobo berrou alto: - Fora daqui! Vá caçar com teu mestre! E então chamou toda sua ninhada para voltar a Caverna onde moravam.

                Quando estavam chegando viu entre os arbustos próximo a um riacho, o grito colérico do Tigre. Doido pensou Pai Lobo. Será que fazendo este barulho poderá caçar cabritos monteses próximo a Waingunga? - Ele não está caçando cabrito nem bezerro, advertiu Mãe Loba. Está caçando homem! Caçando homem? Repetiu Pai Lobo com os dentes arreganhados. – Este Tigre manco não tem rãs nos charcos para comer em ver de querer comer gente e logo nos nossos domínios? A Lei do Jângal, que nunca prescreve sem razões, proíbe a todos os animais que comam homens. Eles sabiam que se isto acontecesse mais cedo ou mais tarde homens montados em elefantes e rodeados de homens pardos com archotes e gongos iriam fazer a floresta sofrer.

                 O rosnar do tigre crescia de tom. Quando terminou o urro era sinal do bote. – Errou o pulo! Disse Mãe Loba. Pai Lobo olhou espantando ouvindo os uivos ferozes de Shere Khan. – Alguém gritou alto: - O doido atirou-se a uma fogueira de lenhadores e queimou a pata! Isto mesmo disse Pai Lobo, e Tabaqui estava com ele! Atenção! Gritou Mãe Loba! Algo se aproxima, disse torcendo uma orelha. Pai Lobo também ouviu o rumor na folhagem. Fico de pulo armado para o que desse e viesse. O que aconteceu a seguir foi lindo demais. Todos exclamaram: - Homem!, É um filhote de homem!

                Foi então que todos os lobos acorreram para junto da Mãe Loba e viram bem defronte deles, de pé, apoiado a um galhinho baixo, um menino nu, de pele morena, que mal começava a andar. Uma isca de gente que jamais aparecera diante deles. O menino olhava para Pai Lobo a sorrir. – Filhote de homem? Repetiu Mãe Loba. Jamais vi um. Traga-o aqui para perto de mim! – Acostumados com as próprias crias, os lobos sabem conduzir um ovo na boca sem quebrar, por isso Pai Lobo trouxe suspenso pelo cangote sem nenhum arranhão e o deixou no meio de sua ninhada. – Pequenino e valente! Exclamou Mãe Loba com ternura.

                Indiferente a tudo o menino se ajeitava entre os lobinhos para melhor aquecer-se. Olhe! Disse ela, está comendo a comida dos nossos filhos, e é um filhote de homem! Riu e disse: - Está completamente sem cabelos e morreria com um tapinha meu! Mas ele não tem medo algum! – Nisto apareceu de novo Shere Khan junto a Tabaqui dizendo: - Ele está aqui meu Senhor! – Pai Lobo olhou de soslaio para Shere Khan. Os seus olhos não desmentiam o ódio que sentia por ele. – Que deseja Tigre Manco? Quero a minha caça! Um filhote de homem que veio até vocês! – Entregai-me agora!

                 - Shere Khan que se lançara contra um acampamento de lenhadores, errara o pulo caindo na fogueira agora estava furioso com a dor das queimaduras. Queria vingar-se no menino que conseguiu escapar. Pai Lobo sabendo que a entrada da caverna era estreita viu que ele ali ele não oferecia perigo nenhum. – Gritou para Shere Khan: - Os Lobos são um povo livre. Recebem ordens de seu chefe e jamais de um comedor de bezerros! O filhote de homem é nosso! – Shere Khan gritou: - Pelo Touro que matei, não ficarei nesta caverna de cães a ouvir asneiras. Sabe quem sou eu? Sou Shere Khan e deu um rugido enorme como um trovão que encheu a caverna de sons gritantes.


Leia proximamente a parte II desta história.


nota: - Os cães sabem ladrar de dentro dos canis! Havemos de ver o que pensa a alcateia disso de brigar e defender filhotes de homem. Esse bichinho é meu e nos meus dentes será triturado, ó cambada de ladrões de rabo de espanador! O tigre retirou-se a bufar e a loba voltou ofegante para o meio da sua ninhada. Esta é a parte I da historia dos irmãos de Mowgly. Proximamente leia a parte II. Melhor Possível.

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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