Lendas da
Jângal.
Os irmãos de
Mowgly na Floresta de Seeonee. Parte I
Foi há muito tempo, ainda
quando o mundo era feito de amor, onde o vento soprava nos vazios da floresta,
anunciando a chegada da primavera, lá pelos montes de Seeonee, uma Alcateia de
lobos felizes brincava a beira do rio Waingunga, Pai Lobo olhava com carinho as
matilhas que brincavam com a água borbulhante e Mãe Loba deitada na grama tinha
os olhos fixos no céu, aonde o sol chegava brilhante anunciando um lindo dia
para os habitantes da Jângal. Pai Lobo gostava de estar ali, vendo a ninhada
feliz e ronronava junto a Mãe Loba querendo mostrar a ela que viver em paz e harmonia
era atingir a suprema felicidade.
Quando ele pensou em sair à
caça viu um vulto de cauda peluda assomar à beira do rio: - “Boa sorte para
todos, ó Chefe dos Lobos! E também boa sorte e rijos dentes para esta nobre
ninhada, a fim de que jamais padeçam fome no mundo”! – Pai Lobo não gostou. Viu
que era Tabaqui o Chacal, mais conhecido como Lambe-pratos que os lobos
desprezavam, principalmente pelas pequenas maldades que fazia, as mentiras que
contava e também o temiam porque era um Chacal e eles sabiam que quando ficava
louco esqueciam o respeito aos demais.
Mãe Loba sabia que quando ele enlouquecia
até o Tigre cruel fugia. Um Tabaqui louco era o mais desagradável dos animais
da Jângal. Os sábios da floresta chamavam isto de hidrofobia, os animais diziam
simplesmente: “dewanee” e fugiam. Ele olhou para a Mãe Loba e perguntou: - Será
que nós os Gidur-lo (chacais) não seriamos merecedores de um gamo de osso com
pouca carne para roer? Perto de Mãe Loba havia um osso assim. – Deixou que
Tabaqui o apanhasse e se fosse para os grotões da floresta onde viviam os Bandarlogs.
Dando saltos de alegria, Tabaqui
saiu correndo e gritando: - Cuidado ó lobos, Shere Khan o maioral mudou seu
campo de caça. Vai agora prear por este montes. Os lobos sabiam que Shere Khan
morava as margens do Waingunga, a cinco léguas dali. Todos o chamavam de
lungri, o aleijado. Sabiam que ele ficou manco quando nasceu. Agora só se alimentava
do gado dos homens além da floresta. – Tabaqui rindo gritou novamente: - Posso
contar a ele a gratidão da Alcateia? Pai Lobo berrou alto: - Fora daqui! Vá
caçar com teu mestre! E então chamou toda sua ninhada para voltar a Caverna
onde moravam.
Quando estavam chegando viu entre
os arbustos próximo a um riacho, o grito colérico do Tigre. Doido pensou Pai
Lobo. Será que fazendo este barulho poderá caçar cabritos monteses próximo a Waingunga?
- Ele não está caçando cabrito nem bezerro, advertiu Mãe Loba. Está caçando
homem! Caçando homem? Repetiu Pai Lobo com os dentes arreganhados. – Este Tigre
manco não tem rãs nos charcos para comer em ver de querer comer gente e logo
nos nossos domínios? A Lei do Jângal, que nunca prescreve sem razões, proíbe a
todos os animais que comam homens. Eles sabiam que se isto acontecesse mais
cedo ou mais tarde homens montados em elefantes e rodeados de homens pardos com
archotes e gongos iriam fazer a floresta sofrer.
O rosnar do tigre crescia de tom. Quando
terminou o urro era sinal do bote. – Errou o pulo! Disse Mãe Loba. Pai Lobo
olhou espantando ouvindo os uivos ferozes de Shere Khan. – Alguém gritou alto:
- O doido atirou-se a uma fogueira de lenhadores e queimou a pata! Isto mesmo
disse Pai Lobo, e Tabaqui estava com ele! Atenção! Gritou Mãe Loba! Algo se
aproxima, disse torcendo uma orelha. Pai Lobo também ouviu o rumor na folhagem.
Fico de pulo armado para o que desse e viesse. O que aconteceu a seguir foi
lindo demais. Todos exclamaram: - Homem!, É um filhote de homem!
Foi então que todos os lobos
acorreram para junto da Mãe Loba e viram bem defronte deles, de pé, apoiado a
um galhinho baixo, um menino nu, de pele morena, que mal começava a andar. Uma
isca de gente que jamais aparecera diante deles. O menino olhava para Pai Lobo
a sorrir. – Filhote de homem? Repetiu Mãe Loba. Jamais vi um. Traga-o aqui para
perto de mim! – Acostumados com as próprias crias, os lobos sabem conduzir um
ovo na boca sem quebrar, por isso Pai Lobo trouxe suspenso pelo cangote sem
nenhum arranhão e o deixou no meio de sua ninhada. – Pequenino e valente!
Exclamou Mãe Loba com ternura.
Indiferente a tudo o menino se
ajeitava entre os lobinhos para melhor aquecer-se. Olhe! Disse ela, está
comendo a comida dos nossos filhos, e é um filhote de homem! Riu e disse: -
Está completamente sem cabelos e morreria com um tapinha meu! Mas ele não tem
medo algum! – Nisto apareceu de novo Shere Khan junto a Tabaqui dizendo: - Ele
está aqui meu Senhor! – Pai Lobo olhou de soslaio para Shere Khan. Os seus
olhos não desmentiam o ódio que sentia por ele. – Que deseja Tigre Manco? Quero
a minha caça! Um filhote de homem que veio até vocês! – Entregai-me agora!
- Shere Khan que se lançara
contra um acampamento de lenhadores, errara o pulo caindo na fogueira agora
estava furioso com a dor das queimaduras. Queria vingar-se no menino que
conseguiu escapar. Pai Lobo sabendo que a entrada da caverna era estreita viu que
ele ali ele não oferecia perigo nenhum. – Gritou para Shere Khan: - Os Lobos
são um povo livre. Recebem ordens de seu chefe e jamais de um comedor de
bezerros! O filhote de homem é nosso! – Shere Khan gritou: - Pelo Touro que
matei, não ficarei nesta caverna de cães a ouvir asneiras. Sabe quem sou eu?
Sou Shere Khan e deu um rugido enorme como um trovão que encheu a caverna de
sons gritantes.
Leia proximamente a parte II desta
história.
nota: - Os cães sabem ladrar de dentro dos canis! Havemos de ver o que
pensa a alcateia disso de brigar e defender filhotes de homem. Esse bichinho é
meu e nos meus dentes será triturado, ó cambada de ladrões de rabo de espanador!
O tigre retirou-se a bufar e a loba voltou ofegante para o meio da sua ninhada.
Esta é a parte I da historia dos irmãos de Mowgly. Proximamente leia a parte
II. Melhor Possível.
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